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Leia na Fonte: Teletime
[04/06/14]
Setor de telecom já digeriu Marco Civil, mas ainda há críticas
- por
Bruno do Amaral
A aprovação do Marco Civil da Internet não diminuiu as incertezas, em especial à
aplicação dos princípios de neutralidade a serviços como navegação patrocinada
ou acordos de tráfego em redes de entrega de conteúdo (CDN). Mesmo em discussões
sobre modelos de negócios e a dualidade da relação das operadoras com serviços
over-the-top, que funcionam sobre as redes de banda larga, a neutralidade de
rede permeou todos os debates do Broadband Latin America. A sensação é de que o
texto deixou um gosto ao mesmo tempo doce e amargo no setor de telecomunicações.
O presidente da associação de provedores regionais (Abrint), Basílio Perez, diz
que o texto saiu do jeito que a entidade queria e que a garantia da neutralidade
impede a vantagem competitiva de grandes grupos. "Sempre fomos defensores do
princípio de neutralidade de rede, para nós é fundamental porque os pequenos
provedores não têm a capacidade financeira de fazer acordos bilaterais com
fornecedores de conteúdo", diz, referindo-se a acordos como o celebrado entre
Netflix e a operadora norte-americana Comcast. "Se a neutralidade não saísse do
jeito que saiu no Marco Civil, poderiam fatalmente surgir vários acordos entre
operadoras e provedores de conteúdo que iriam deixar de fora pequenos
provedores", alega.
A aprovação não é unânime, mas existe, ainda que com ressalvas. "Poderia ser
melhor, sempre pode, mas o Marco Civil é uma grande iniciativa", diz o diretor
geral da Internet Society para a América Latina e Caribe, Sebastian Bellagamba.
Ele reconhece que as regras da neutralidade não agradaram a todos, dizendo que o
ideal seria um modelo com o qual todos concordassem. Mas ameniza: "O segundo
melhor modelo é o que todos os stakeholders fiquem infelizes."
Na visão do diretor online da Fox Latam Channels, Marcel Della Negra, o Marco
Civil vai ajudar a própria empresa, especialmente no caso de serviços
over-the-top – a companhia tem o projeto Fox Play, uma plataforma de streaming
com acordos para a distribuição do conteúdo pela rede. "As OTTs estão sempre
tentando fazer acordo com redes de Internet, TV a cabo, para conseguir uma maior
facilidade de acesso, e a gente vê que a Internet é uma rede que tem que dar
oportunidade para todo o mundo", justifica.
Visão das operadoras
"Na nossa visão, o resultado do Marco Civil, como todo bom debate, não agradou
100% nenhum dos setores", reconhece o presidente do SindiTelebrasil, Eduardo
Levy. Ele corrobora a posição pública da entidade no entendimento de que o texto
aprovado permite a aplicação de novos modelos de negócio, ou "a possibilidade de
se manter os investimentos".
"Temos algumas críticas ao Marco Civil, mas é para que se chegue a uma situação
de equilíbrio para que possa haver livre competição sem que um elo da cadeia
possa se sobrepor ao outro", diz o diretor de desenvolvimento de negócios da
TIM, José Eugênio Junqueira Hundson. Ele diz que todos são a favor da
neutralidade de rede, mas que a discussão é nova e precisa levar em consideração
as empresas de banda larga. "No caso específico, nem OTTs, nem operadoras têm
razão por completo. Se pensarmos bem, quem decidiu pelo modelo de
all-you-can-eat (coma o que aguentar) fomos nós", reconhece.
O gerente sênior de inteligência regulatória da operadora, Marcelo Meijas,
concorda e diz que o debate deveria ter saído do modelo ideológico e ter se
preocupado mais com a parte econômica na prática. "O viés da neutralidade ficou
muito principiológico e descolado da realidade, não se falou como se paga a
conta disso", declarou.
A Net tem a visão alinhada com a da controladora América Móvil, corroborando a
estratégia móvel da Claro, que tem parceria com o Facebook para oferecer
navegação gratuita ao usuário. "Acho que esse é um caminho de fato. A única
coisa que não acredito é na Internet ilimitada. Acho que o modelo tem de ser
sustentado e precisa ter uma discussão profunda", detalha o diretor de
inteligência mercadológica da Net Serviços, André Guerreiro.