1a Parte - Capítulo II
O PARTIDO COMUNISTA - SEÇÃO BRASILEIRA DA INTERNACIONAL COMUNISTA (PC-SBIC)

3. As atividades do PC-SBIC

O PC-SBIC surgiu legal, registrado como entidade civil. Três meses depois, o estado de sitio, decorrente da revolta tenentista, colocava-o na ilegalidade e inibia o desenvolvimento de suas atividades de agitação.

Em 1924, um fato viria repercutir no PC-SBIC: a realização do V Congresso da IC, em junho/julho, já sob o impacto da morte de Lenin. Nesse Congresso, a IC, mudando de tática, passou a adotar a da "Frente Única'" vista, por Zinoviev, como "um método para agitação e mobilização' das massas" (3).

No final de 1926, modificou-se o quadro político-institucional, com o governo de Washington Luís trazendo ventos liberalizantes, tendo o PC inclusive, um curto período de legalidade, de 19 de julho a 11 de agosto de 1927. Obedecendo aos ditames do V Congresso da IC, a direção do Partido lançou a palavra de ordem "Ampla agitação das massas", justificada pela necessidade de "fazer surgir o Partido da obscuridade ilegal à luz do sol da mais intensa agitação política".

Partindo da teoria à prática, criou o Bloco Operário e Camponês (BOC) como uma "frente única operária", que não por acaso, tinha, na sigla, as mesmas letras da conhecida e já extinta COB.

Ainda seguindo a tática de frente, o PC-SBIC iniciou um trabalho de aproximação com Prestes, que se encontrava na Bolívia (4).

Mas, o ano de 1928 foi marcado pela crise econômica mundial. Pensando em aproveitar a miséria que adviria para os operários, a IC realizou o seu VI Congresso, de julho a setembro, mudando a tática de "frente única" para a de "classe contra classe". O proletariado mundial, premido pela crise, poderia ser arrastado para a revolução. Era a oportunidade para os comunistas isolarem-se e lutar contra todas as posições antagônicas, desde as burguesas até as operárias. A IC determinara o fim da "frente". Na URSS, iniciava-se a "cortina de ferro".

Tal resolução pegou o PC-SBIC de surpresa. Para as eleições de outubro de 1928, já lançara candidatos através do BOC, que, gradativamente, se vinha tornando o substituto legal do PC.

Imediatamente, o PC-SBIC convocou o seu III Congresso, realizado em dezembro de 1928 e janeiro de 1929, em Niterói. Além de reeleger Astrojildo Pereira como secretário-geral, o Congresso do PC-SBlC determinou a intensificação do trabalho clandestino do PC, a fim de não ser ultrapassado pelo BOC. Com tal, medida, pensava acalmar os chefes moscovitas, que viam, no BOC, a continuação da antiga tática de "frente única".

Ledo engano. Não compreendiam, ainda, os comunistas brasileiros, que a curvatura dos dorsos não era, apenas, temporária, à guisa de um cumprimento. Ela teria que ser permanente, com a boca sujando-se de terra.

Vivia-se, em Moscou, a plena época dos expurgos. O poderoso Stalin, com mão de ferro, mandava assassinar os principais dirigentes do Comitê Central (CC) e o fantasma do trotskismo servia de motivo para o prosseguimento das eliminações, tanto na "pátria-mãe" como nos partidos satélites.

A I Conferência dos Partidos Comunistas da América Latina, realizado em junho de 1929, em Buenos Aires, condenou "a política do PC-SBlC frente à questão do Bloco Operário e Camponês e o seu atrelamento a este órgão" (5).

O ano de 1930 foi decisivo para o PC-SBlC. Em fevereiro, a IC baixou, a "Resolução sobre a questão brasileira", com base na Conferência de Buenos Aires. Nesse documento, critica a política de frente ainda adotada pelo PC-SBIC e ironiza o BOC como sendo um "segundo partido' operário". Ao mesmo tempo, induz o partido a "preparar-se para a luta, a fim de encabeçar a insurreiçao revolucionária".

Os dias de Astrojildo Pereira estavam contados. Em novembro de 1930, uma Conferência do PC-SBlC expulsa o secretário-geral. Em são Paulo, foi afastada uma dissidência trotskista liderada por Mário Pedrosa.

Numa guinada para a esquerda, o Partido encerra sua política de alianças, expurga os intelectuais de sua direção e inicia uma fase de proletarização.


(3) Zinoviev foi o primeiro chefe do.Comintern e o encarregado de expor, no seu V Congresso, a estratégia que seria aplicada tanto à "Frente Única" quanto às atividades das organizações de frente.

(4) Prestes a essa época ainda não se tornara comunista.

(5) Carone, E.: "O PCB- 1922 a 1943", Difel S.A., RJ, 1982, página 9.