1a Parte - Capítulo III
A INTENTONA COMUNISTA

2. A vinda dos estrangeiros

Concluindo que no Brasil. já amadurecia uma situação revolucionária e que a nova política de "frente popular" desencadearia a revolução, a curto prazo, a IC decidiu enviar diversos "delegados", todos especialistas,' a fim de acelerar o processo. Com isso pretendia suprir a falta de quadros dirigentes do PC-SBIC que pudessem levar a tarefa a bom termo. Na realidade, a lC enviou um selecionado grupo de espiões e agitadores profissionais.

No inicio de 1934, chegou ao Brasil o ex-deputado alemão Arthur Ernsf Ewert, mais conhecido com "Harry Berger". Tendo atuado nos Estados Unidos, a soldo de Moscou, Berger veio acompanhado de sua mulher, a comunista alemã Elise Saborowski, que entrou no Pais com o nome falso de Machla Lenczycki. Berger acreditava que a revolução comunista teria inicio com a criação de uma "vasta frente popular antiimperialista", composta por operários, camponeses e uma parcela da burguesia nacionalista. A ação de derrubada do governo seria efetuada pelas "partes revolucionárias infiltradas no Exército" e pelos' "operários e camponeses articulados em formações armadas", embrião de um futuro "Exército Revolucionário do Povo". O governo a ser instituído seria um "Governo Popular Nacional Revolucionário", com Prestes a frente. (1)

O mirabolante plano de Berger, tirado dos compêndios doutrinários do marxismo-leninismo, não levava em conta, apenas, um pequenino detalhe: a política brasileira, aquinhoada com uma nova Constituição de fundo liberal e populista, estava cansada dos mais de 10 anos de crise e ansiava por um pouco de paz e estabilidade.

Outros agitadores profissionais vieram para o Brasil, a mando de Moscou, durante o ano de 1934. Rodolfo Ghioldi e Carmen, um casal de argentinos, vieram como jornalistas. Ghioldi, na realidade, pertencia ao Comitê Executivo da lC, era dirigente do PC argentino e escondia-se sob o nome falso de "Luciano Busteros". O casal León-Jules Valée e Alphonsine veio da Bélgica para cuidar das finanças. A esposa de Augusto Guralsk, secretário do Bureau Sul-Americano que a IC mantinha em Montevidéu veio para dar instrução aos quadros do PC-SBlC. Para comunicar-se clandestinamente com o grupo, foi enviado um jovem comunista norte-americano, Victor Allen Qarron. O especialista em sabotagens e explosivos não foi esquecido: Paul Franz Gruber, alemão, veio com sua mulher, Erika, que poderia servir como motorista e datilógrafa.

O grupo de espiões instalou-se no Rio de Janeiro. De acordo com o insuspeito Fernando Morais: "Uma identidade comum os unia: eram todos comunistas, todos revolucionários profissionais a serviço do Comintern e vinham todos ao Brasil fazer a revolução" (2).

Faltava, entretanto, o líder "brasileiro", aquele que estaria à frente do novo governo comunista. Havia já alguns anos que Prestes vinha namorando os marxistas-leninistas. Desde os anos da Coluna, procurava uma ideologia que complementasse o seu espírito revolucionário. Entretanto, seus contatos com os dirigentes do PC-SBIC o desencantaram. Ou melhor, julgando-se acima deles, procurava uma visão do mundo mais perfeita e mais elaborada. Tentara, até, criar o seu próprio movimento, através do LAR.

A possibilidade de ir para a URSS, conversar com os próprios dirigentes do Kremlin, satisfez suas ambições. Em novembro de 1931, Prestes desembarcava em Moscou, com sua família, onde, durante três anos, aprenderia como fazer a revolução.

Em abril de 1935, o "Cavaleiro da Esperança" estava de volta ao Brasil, pronto para assumir a direção do PC e da revolução comunista. A insólita solução concretizava-se: o novo líder dos comunistas brasileiros seria imposto de cima para baixo, da cúpula da IC às células do PC-SBIC. A tiracolo, Prestes trazia sua jovem esposa, Olga Benário, ativa comunista alemã, de confiança dos soviéticos. A IC não poderia entregar, sem controle, a revolução "comunista brasileira a um homem que, até aquele momento, ainda não pertencia aos quadros do PC.

Olga seria a sombra de Prestes, criada pela luz de Moscou.


(1) Para maiores detalhes do plano revolucionário de Berger, ver Aragão, J. C.: "A Intentona Comunista", Bibliex, R.J., páginas 36 c 37.

(2) Morais, F.: "Olga", Ed. Alfa-Ômega, São Paulo, 1985, página 67.