1a Parte - Capítulo III
A INTENTONA COMUNISTA

4. A Aliança Nacional Libertadora (ANL)

Traçada a linha política da "frente popular", faltava, ao PCB, a criação de uma organização que a concretizasse e que pudesse congregar operários, estudantes, militares e intelectuais.

Em fevereiro de 1935, foi fundada essa frente, sob o nome de Aliança Nacional Libertadora (ANL).

Em 19 de março, pela primeira vez, reúne-se a sua diretoria. Dos seis principais dirigentes, três eram militares: o presidente, Hercolino Cascardo, comandante da Marinha; o vice-presidente, Amorety Osório, capitão do Exército; e o secretário-geral, Roberto Henrique Sisson, também oficial da Marinha.

Entretanto, desses três, só o secretário-geral, Sisson, era do PCB, que pretendia, de acordo com a política de frente, congregar o maior número possível de liberais, escondendo a orientação do Partido. Mantinha para si, no entanto, a principal posição da ANL.

No final de março, a Aliança promoveu a sua primeira reunião pública, no Teatro João Caetano, na cidade do Rio de Janeiro. Neste evento, mais de mil pessoas ouvem o programa da ANL e aplaudem quando Prestes é indicado como seu presidente de honra.

Uma carta de adesão do "Cavaleiro da Esperança", datada de 3 de maio, dá um grande impulso à frente.

Com base e à semelhança da estrutura clandestina do PCB, a ANL organizou-se com rapidez, apoiada nas técnicas marxistas-leninistas de agitação e propaganda e em dezenas de jornais dirigidos pelo Partido. Apesar de ser mais forte no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, a Aliança propagou-se por todo o Pais. Calcula-se que, em maio, já possuía cerca de 100 mil militantes, organizados em 1.600 células.

A frente progredia, escudada em bandeiras que empolgavam as massas, os militares e os liberais. O PCB a orientava, crescendo à sua sombra. A data de 5 de julho, comemoração dos 13 anos do levante dos 18 do Forte e da revolução tenentista, traçou uma linha demarcatória no desenvolvimento da Aliança.

Prestes, que chegara ao Brasil em 15 de abril de 1935, radicara-se no Rio de Janeiro, após curtas passagens por Florianópolis, Curitiba e São Paulo. Observando o desenvolvimento da ANL, concluiu que já estava na hora de fazer um pronunciamento mais incisivo, definidor dos reais rumos da Aliança.

Em 5 de julho, lançou um manifesto contendo as bases do "Governo popular nacionalista revolucionário', acusando Getúlio Vargas de fascista e de subordinado ao imperialismo e convocando os ex-revolucion5rios, militares, padres, jovens e a pequena burguesia a engajar-se na luta pela implantação de um "governo popular". Em determinado trecho, Prestes afirma que "a situação é de guerra e cada um precisa ocupar o seu posto", conclamando: "Brasileiros, organizai o vosso ódio contra os dominadores transformando-o na força irresistível da Revolução Brasileira".

Prestes havia aprendido, na URSS, que era bom, nos discursos, citar os mestres da ideologia comunista. Mas, havia aprendido, também, que não era bom limitar-se a copiar, mecanicamente, esses escritos, havendo que adaptá-los às condições de cada pais. Assim; num súbito despertar de "inteligência" e de "criatividade", usa o Manifesto Comunista de 1848, referindo-se aos brasileiros: "Vós que nada tendes para perder, e a riqueza imensa de todo o Brasil para ganhar". Parodiando Lenin, encerra o manifesto: "Todos o poder para a Aliaça Nacional Libertadora".

E o máximo de originalidade aparece no lema básico, quando o "Pão, Paz e Terra" da revolução russa de outubro de 1917 transforma-se no "Pão, Terra e Liberdade" da ANL.

Esse manifesto, intempestivo e provocativo, desvelando o caráter marxista-leninista da Aliança, trouxe-lhe duas consequências imediatas: a sua ilegalidade, decretada, uma semana de pois, pelo Governo Vargas, e o afastamento de diversos de seus líderes e dirigentes que não eram comunistas, a começar pelo próprio presidente, Hercolino Cascardo.

Iniciada a repressão contra a ANL, esta passou a atuar na absoluta clandestinidade, escorada na estrutura orgânica do PCB. A radicalização do movimento foi inevitável, criando, segundo o comunista Dinarco Reis, "um clima de apelo à rebelião armada": "Os militares comunistas receberam, então, orientação de se preparar para um provável confronto armado a curto prazo, na perspectiva de um golpe fascistizante em gestação" (5).

Os comunistas brasileiros pensavam estar prontos. Faltava, apenas, o sinal verde de seus chefes moscovitas.


(5) Reis, D.: "A Luta de Classes no Brasil e o PCB", Ed. Novos Rumos, S.P., 1981, página 39.