1a Parte - Capítulo III
A INTENTONA COMUNISTA

6. A Intentona

Muito já foi escrito sobre a Intentona Comunista de 1935. Como síntese, basta-nos relembrar que os atos de terror tiveram inicio na noite de 23 de novembro, em Natal, na manhã de 24 em Recife, e na madrugada de 27, no Rio de Janeiro.

Apenas no Rio Grande do Norte, o levante ampliou-se, com participação restrita de alguns setores da população. Em Recife, a participação foi extremamente reduzida e, no Rio de Janeiro, a revolta restringiu-se a dois quartéis, a Escola de Aviação, na Vila Militar, e o 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha.

Apesar do plano prever insurreição nas cidades e, depois, a formação de colunas para tomar o interior, o levante confinou-se a três cidades, isoladas entre si, pouco extravasando dos muros de alguns quartéis No dia 27 de novembro, a Intentona perdeu a impulsão e fracassou.

As massas populares mostraram não haver tomado conhecimento do quadro pintado pelos comunistas. O lema da ANL, "Pão, Terra e Liberdade" não sensibilizou o proletariado. A rebeldia e a mobilização das massas só existiam na imaginação e no desejo dos comunistas, ávidos de chegar ao poder a qualquer preço. Tudo parece indicar que a superestimação das pr6prias forças foi causada pela presença, na ANL, de militares da ativa e da reserva, muitos oriundos do tenentismo, como, por exemplo, o Capitão Agildo Barata, líder da Aliança no Sul do Pais.

Segundo Fernando Morais, "A anistia de 1934 permitira que os jovens oficiais participantes das revoluções anteriores voltassem à ativa , e muitos deles eram militantes do PC. A direção reconhecera que, paradoxalmente, era mais fácil construir o Partido nos quartéis do que nas fábricas - investiu nisso" (7).

Na realidade, o PCB substituiu a "vanguarda operária" por uma "vanguarda militar". E, com isso, isolou-se. No insuspeito de Dinarco Reis: "Caso a direção do Partido houvesse feito um efetivo balanço e uma caracterização real das anteriores lutas dos tenentes e a insurreição de 1930, possivelmente isso teria ajudado o Partido a não incorrer em erros e equívocos como os que aconteceram com a grosseira manifestação de enfermidade infantil verificada com o movimento armado de 1935" (8).

Por que a ação armada? Imitação pueril, simplista e mecanicista da Revolução de 1917? Estreita interpretação do materialismo histórico? Crença de que bastava um partido resoluto para impulsionar o processo revolucionário? Erro de avaliação da realidade nacional? Superestimação do papel dos militares comunistas? Cumprimento incondicional às ordens da IC?

Passados 50 anos, não há uma explicação lógica e coerente para a Intentona Comunista de 35, a primeira tentativa de tomada do poder. Sua análise nos conduz às palavras de Lenin - ao referir-se à doença infantil do esquerdismo - de que ela foi "não só uma estupidez, mas também um crime".

Um crime que ceifou dezenas de vidas e que se poderia repetir no momento em que seus idealizadores julgassem haver "amadurecido" o processo revolucionário" e chegada a hora de empreender nova tentativa de tomada do poder. Os comunistas iriam insistir no caminho da luta armada.


(7) Horais, F.: "Olga", Ed. Alfa-Ômega, S.P., 1985, página 83.

(8) Reis, D.: "A Luta de Classes no Brasil e o PCB", Ed. Novos Rumos,. R.J., 1981, página 29.