Em 19 de agosto de 1950, assinado por Prestes e em nome do Comitê Central, o PCB lançou um documento que ficou conhecido como o "Manifesto de Agosto".
Incorrendo, mais uma vez, num erro grosseiro de avaliação da conjuntura nacional, o manifesto procura traçar uma linha revolucionária para o Partido. Redigido numa linguagem chula, repetitiva e cheia de lugares comuns, o longo documento refere-se varias vezes, aos "traidores e assassinos que nos governam", "dominação imperialista", ao "momento mais grave da vida do nosso povo" e a "ameaça de guerra." Ataca, também, de. forma grosseira, todos os candidatos à Presidência da República.
Repetindo o discurso de Prestes, de 1945, em Recife, o manifesto procura justificar o uso da violência: "Diante da violência dos dominadores, a violência das massas é inevitável e necessária, é um direito sagrado e o dever ineludível de todos os patriotas". Defende a "solução revolucionária" como sendo "a única solução viável e progressista dos problemas brasileiros". Acena com "um governo democrático e popular", expressão stalinista que representa, na revolução comunista, a etapa intermediária entre a Democracia e a "ditadura do proletariado". Conclama operários, trabalhadores do campo, mulheres, estudantes, soldados, marinheiros e oficiais das Forças Armadas a formarem uma "ampla Frente Democrática de Libertação Nacional". Pregando o "armamento geral do povo", defende a criação de um "exército popular de libertação nacional", absurda, segundo Dinarco Reis: "Exército que só poderia existir na cabeça dos que elaboraram tal documento" (13).
O manifesto, entretanto, não teve a menor ressonância, permanecendo nas enxergas do aparelho comunista. A classe operária, contrariando a indicação de votar em branco, sufragou, maciçamente, a chapa encabeçada por Getúlio Vargas. Mais uma vez, os dirigentes do PCB pretendiam fazer, de seus desejos, a realidade.
Pregaram a derrubada de Vargas, através da luta armada das massas, estimularam as greves, sob qualquer pretexto e a qualquer custo. Rompendo com a estrutura sindical vigente, tida como atrelada ao Ministério do Trabalho, lançaram-se, sem sucesso, à construção de sindicatos paralelos. Influenciados pela revolução chinesa, participaram de diversos conflitos no campo, como em Porecatu, no Norte do Paraná, em Capinópolis, no Triângulo Mineiro, e na região de Trombas e Formoso, em Goiás, incitando a luta dos posseiros, "na esperança de que ela seja a fagulha que irá atear o fogo da revolução" (14).
Em Goiás, o movimento camponês, liderado por José Porfirio e infiltrado pelo PCB, chegou a formar um "território livre" de 10 mil km2 , com governo paralelo e milícias armadas, sob a égide de uma Constituição própria que definia o Estado como popular e socialista (15) (16).
Dinarco Reis, do Comitê Central do PCB, considerou esses episódios como, "das lutas mais positivas encaminhadas pelos comunistas brasileiros" (17).
A direção do PCB continuava obcecada pela luta armada.