1a Parte - Capítulo IV
O PCB E O CAMINHO DA LUTA ARMADA

6. O IV Congresso

Ainda sob o impacto do suicídio de Vargas, ocorrido dois meses e meio antes, e a morte de Stalin, no ano anterior, o PCB realizou o seu IV Congresso Nacional, de 7 a 11 de novembro de 1954, em são Paulo.

Organizadas de acordo com a rigidez stalinista, as reuniões preparatórias tiveram pouca participação das bases partidárias. Numa dessas reuniões, destinadas a aparar as arestas, Diógenes de Arruda Câmara, "democraticamente" alertou sobre o programa: "dele não tiro uma vírgula; foi visto por Stalin (18).

Abstraído da realidade brasileira, o programa do PCB não sofreu qualquer mudança significativa. Aliás, como comenta, critica e ironiza Moisés Vinhas, que lá estava e foi eleito suplente do CC, "quem está de posse da teoria marxista-leninista-stalinista da revolução não precisa investigar concretamente a realidade específica de seu país - basta aplicá-la criadoramente à realidade nacional (19).

A principal palavra de ordem do partido continuaria sendo a de derrubar o governo. Era o quarto governo consecutivo que os comunistas queriam derrubar.

kp>Prestes, em clandestinidade absoluta, não compareceu ao Congresso, embora o PCB estivesse passando por um período de legalidade de fato. Enviou, entretanto, um informe de balanço do CC, traçando as bases teóricas do Partido. Após analisar a bipolaridade mundial da 2ª Grande Guerra, Prestes proclamou o programa do PCB como sendo de "salvação nacional". O caráter da revolução era "democrático-popular", de cunho antiimperialista e antifeudalista. Para Prestes, a luta armada era inevitável, e advertia que "para o triunfo da insurreição popular é, indispensável ganhar o apoio de soldados e marinheiros, mas reduzir a insurreição a uma luta quase só militar é grave erro que teria de levar, como de fato levou, a derrota do movimento de novembro de 1935".

O informe de Diógenes de Arruda Câmara, o segundo homem do Partido, tratou do programa do PCB, dando-lhe um caráter revolucionário e afirmando que "estão maduras no Brasil as condições para transformações radicais e profundas" (20). O trabalho desse dirigente comunista considerava "a revolução agrária antifeudal como a pedra de toque da Revolução Democrática e Popular no Brasil". Após tecer considerações sobre a necessidade de "ganhar" os camponeses para a Revolução, dizia que, para isso seria "necessário acionar a luta de classes no campo, agrupar grandes massas camponesas pobres e sem terra em torno do partido, educando-as no processo da própria luta revolucionária" (21). Sua pregação iria dar frutos num futuro próximo.

O Congresso, como um todo, foi a expressão viva do sectarismo que norteava as concepções comunistas, sufocando as lutas ideológicas internas, latentes, entre o caminho da luta armada e o da via pacífica.

No dizer insuspeito de Moisés Vinhas: "... o próprio Diógenes de Arruda Câmara, sintetizando uma percepção coletiva, iria dar "expressão teórica" inigualável a essa mistura orgânica de leitura "catastrofista", apocalíptica, da realidade, esquerdismo declinante, estreiteza e megalomania partidária" (22).

O PCB, por seus dirigentes, continuava no caminho da luta.


(18) Vinhas, M.: ""O Partidão", Ed. Hucitec, S.P., 1982, pág.134.

(19) Idem, pág. 139.

(20) Idem, pág. 137.

(21) Arruda, D.C., membro do CC/PCB - "O programa do PCB - Bandeira de Luta e Vitória - apresentado no IV Congresso do PCB."

(22) Vinhas, M.: "O Partidão", Ed. Hucitec, S.P., 1982, pág. 134.