2a Parte - Capítulo I
AS DIVERGÊNCIAS DO MOVIMENTO COMUNISTA

1. A IV Internacional

Os dois últimos anos de Lenin, acometido por grave doença, foram marcados por divergências no PCUS, em torno da luta pelo poder e contra a sua concentração nas mãos de Stalin. Uma dessas divergências, encabeçada por Trotsky, recebeu a denominação de "Oposição de Esquerda".

A morte de Lenin, em janeiro de 1924, e uma grave doença de Trotsky facilitaram a tarefa de Stalin, que, após o XIV Congresso do PCUS, em 1925, conseguiu assumir, com todos os poderes, o domínio do Partido e do Estado russo, emitindo Trotsky do cargo de Comissário de Guerra (dirigente do "Exército Vermelho").

Durante alguns anos, escudado em seu grande prestigio,Trotsky conseguiu liderar a oposição a Stalin. Entretanto, a partir do XV Congresso do PCUS, em novembro de 1927, os fatos atropelaram-se. Trotsky foi expulso do partido, preso e deportado para a Sibéria. Em 1929, foi banido da Rússia, seguindo para a ilha de Prinkipo, próxima a Constantinopla. Depois seguiu para a França, Noruega, Espanha e, finalmente, para o México, onde, em 25 de agosto de 1940, foi assassinado, a golpes de picareta na cabeça, por Ramon Mercader Del Rio, considerado como.um agente de Stalin.

Além da luta básica pelo poder, as concepções de Stalin e de Trotsky eram divergentes, embora ambos se tenham declarados "marxistas-Ieninistas". Em sua visão original, podem-se alinhar as seguintes premissas básicas do trotskismo: pela defesa da tomada violenta do poder, tipo golpe de Estado, considerando a guerrilha urbana como elemento essencial para a transformação revolucionária; contra o burocratismo rígido na direção partidária, defendendo o "fracionismo", isto é, o direito de formar grupos, tendências e frações dentro da estrutura da organização; pela defesa da "revolução mundial"" em contraposição ao conceito stalinista do "socialismo num só país", substituindo o fator "nacional" pelos princípios internacionalistas; e pela defesa da "revolução permanente", contínua, não admitindo, uma etapa intermediária para atingir o socialismo (ditadura do proletariado).

Desse modo, modifica-se o quadro apresentado na 1ª Parte, Cap. I, item 1., deste livro, acrescentando-se a linha trotskista:

Em 3 de setembro de 1938, em Périgny, aldeia próxima a Paris, foi fundada a IV Internacional, também conhecida como Internacional Trotskista, que aprovou o seu documento básico, "Programa de Transição". As resoluções desse Congresso da Fundação foram consideradas como "secretas" e, por ordem de Trotsky, guardadas na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, para somente serem reveladas 40 anos após sua morte (1).

De 1938 para cá, é difícil estabelecer, em linhas precisas, o histórico do trotskismo. O principio do "fracionismo" e o "direito de tendência" provocaram inúmeras cisões e dissidências, formando um verdadeiro labirinto de linhas ideológicas, que se dizem, cada uma, representar o real pensamento de Trotsky.

No entanto, apesar da fraqueza acarretada por estas constantes divisões e por não ter conseguido, até hoje, assumir o poder em nenhum país, é inquestionável a crescente influência do movimentos trotskistas no mundo inteiro. Por seu aparente liberalismo", às vezes, até confundido com o anarquismo, vem conseguindo empolgar setores das massas, particularmente os estudantes e os intelectuais. E, mais uma vez, copiando o que aconteceu com a III Internacional, no Brasil, o trotskismo não conseguiu estabelecer uma linha própria, limitando-se a seguir, quase que mecanicamente, o que os grandes ideólogos decidiram no exterior.


(1) Em 1980 houve o acesso ao documento, que continha textos em russo e alemão mas não há notícia de seu conteúdo