2a Parte - Capítulo I
AS DIVERGÊNCIAS DO MOVIMENTO COMUNISTA

6. POLOP: uma criação da esquerda independente

No Brasil, na segunda metade da década de 50, vivia-se o período do governo Juscelino Kubitschek, cercado pela euforia do nacionalismo, no qual a emancipação econômica seria conseguida pelo desenvolvimento industrial. A maioria dos partidos politicos, inclusive o PCB, partilhava dessa posição, cujo polo de difusão era o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB).

Na evolução do processo, começaram a surgir críticas à ideologia nacionalista, partidas de uma nova corrente - a esquerda marxista independente.· Segundo ela, a crise do nacionalismo viria embutida no próprio desenvolvimento industrial, que não iria conseguir resolver conflito da exploração da força de trabalho. A emancipação econômica também ficaria anulada pela presença do capital estrangeiro, que, fomentando o desenvolvimento industrial, inviabilizaria qualquer modificação na estrutura fundiária.

Infenso as criticas, o PCB continuava apoiando a política nacionalista, com a ressalva de que esta só se complementaria quando as reformas de base acabassem com o latifúndio e com a "exploração imperialista" representada pelo capital estrangeiro.

A esquerda marxista independente resolveu organizar-se, buscando, ideologicamente, uma posição intermediária entre a "revolução nacional-democrática" do PCB e a "revolução socialista" dos trotskistas, representada, no Brasil, pelo PORT. A nível internacional, já havia essa posição intermediária, denominada de "centrista".

Na década de 20, Thaelheimer, dirigente do PC alemão, começou a difundir suas ideias, que procuravam fugir ao dilema Stalin X Trotsky. Na década de 30, o bolchevista Bukharin passou a defender as ideias de Thaelheimer. Caindo em desgraça, foi fuzilado, em 1938, por ordem de Stalin. Na Espanha, Andrés Nin, dirigente do Partido Operário de Unificação Marxista (POUM), passou a implantar as concepções de Thaelheimer. Após a Revolução Espanhola, foi assassinado a mando de Stalin.

Em 1960, baseado nessa posição centrista de Thaelheimer, Bukharin e Nin, o núcleo leninista do Rio de Janeiro, que representava a corrente da esquerda marxista independente e publicava a revista "Movimento Socialista", juntando-se a dissidentes do Partido Socialista Brasileiro (PSB), elaborou um documento propondo a criação de um "partido revolucionário da classe operária" e apresentou um projeto de estatuto.

À proposta do grupo do Rio de Janeiro, juntaram-se a "Liga Socialista" de São Paulo (4), membros da "Mocidade Trabalhista de Minas Gerais, e elementos da Bahia, de Goiás, de Brasília, de Pernambuco e do Paraná. Num verdadeiro cadinho ideológico, independentes e dissidentes trotskistas do PCB reuniram-se no interior de São Paulo, em fevereiro de 1961, e realizaram o Congresso de Fundação da Organização Revolucionária Marxista-Politica Operária (ORM-PO) mais conhecida como POLOP ou, simplesmente, PO. Seus principais ideólogos eram Erico (ilegível) Sachs, Eder Simão Sader, Rui Mauro de Araújo Marini e Teotônio dos Santos, os dois primeiros mais conhecidos como, "Ernesto Martins" e "Raul Villa".

A POLOP defendia o caráter da revolução brasileira como sendo "socialista", ao contrário do PCB que a caracterizava como "nacional-democrática". Enquanto o PCB propunha a constituição de uma "frente única" congregando a "burguesia e o proletariado", a POLOP lutava pela formação de uma "frente dos trabalhadores da cidade e do campo" excluindo a burguesia. Visualizava, também, a criação de um grande partido revolucionário a partir de uma "Frente da Esquerda Revolucionária" (FER), que congregasse as diversas "vanguardas" existentes fora da esfera da influência "reformista e colaboracionista" do PCB.

Em seus primeiros anos, até 1964, a POLOP viveu a fase da "luta ideológica contra o reformismo dominante". Em julho de 1963, no Rio de Janeiro, realizou o II Congresso Nacional, quando transformou o seu boletim "Política Operária" em jornal e, mais tarde, no inicio de 1964, em revista. Por decisão do Congresso, a organização deveria buscar uma atuação mais efetiva junto ao operariado, procurando a efetivação da FER juntamente com o PC do B, com a Ligas Camponesas e alguns trotskistas. Ainda em 1963, a POLOP apoiou a subversão dos sargentos em Brasília e concitou o PCB, através de uma "Carta Aberta" a romper com o reformismo e com o Governo de João Goulart.

Em março de 1964, em São Paulo, pouco antes da Revolução Democrática, realizou o seu III Congresso Nacional, no qual se colocou contra a Campanha pela Constituinte, defendida pelo PCB e por Brizola. A Revolução de 31 de março de 1964 encontrou a POLOP às voltas com discussões teóricas internas e na incipiente tentativa de penetrar no meio operário, até então impermeável a essa organização de origem intelectual burguesa.


(4) O grupo de São Paulo, se seguia a orientação ideológica de Rosa de Luxemburgo, mais tarde, afastar-se-ia da organização que (ilegível) (POLOP).