2a Parte - Capítulo II
A AÇÃO COMUNISTA

1. A exploração das dificuldades e das ambições

Esta história começa em setembro de 1961, quando João Goulart assume a Presidência da República, após a renúncia de Jânio Quadros. Naquela época, além do PCB, já existiam o PORT e a POLOP,e2 estavam em processo de formação o PC do B e a AP. Entretanto, no período que vamos abordar, até 1964, essas quatro organizações não tiveram atuação marcante na vida política nacional, limitando-se a ações episódicas e a atividades de infiltração nos diversos movimentos de massa.

Quatro figuras sobressaíam no cenário político nacional, e, em torno delas, giravam as ações das esquerdas:

- Luiz Carlos Prestes, o Secretário-Geral do PCB, antigo Senador da República, com invejável domínio carismático sobre seus seguidores;
- Miguel Arraes, firmando-se çomo o grande líder das esquerdas no Nordeste, e que viria a ser, ainda em 1962, Governador de Pernambuco;
- Leonel Brizola, cunhado de Jango, agressivo e possuidor de urna retórica capaz de seduzir as grandes massas. Sua falas, recheadas de metáforas e de repetições demagógicas, levaram-no ao Governo do Rio Grande do Sul e, posteriormente, à Deputados pelo Rio de Janeiro; e
- o vértice das ações, pois Presidente da República, João Goulart.

Apesar de inteligente e de serem proclamados seus "bons sentimentos", Jango não estava à altura de compreender a importância da missão histórica que o destino lhe reservara. Inábil para a ação governamental e instável em seus posicionamentos, se lhe faltavam "outros atributos, um ele possuía em grau conspícuo: o de ordenar metodicamente a desordem", como sintetiza Afonso Arinos (1).

Apesar de continuamente amparar-se em Prestes, Brizola e Arraes, Jango os temia, na medida em que as ambições pessoais desses líderes, cada um representando uma linha, entrassem em confronto direto, comprometendo o projeto político do Presidente.

Somando-se a essas ambições, Jango herdara uma nação frustrada pela recente renúncia, marcada pelas dívidas e pela inflação galopante, instabilizada pela fragmentação partidária e conflagrada por uma 'intensa agitação sindical, dirigida pelo PCB. E todas essas dificuldades, fraquezas e ambições não deixaram de ser exploradas pelos comunistas, que, colocando seus objetivos táticos sempre mais além, não perdiam de vista os objetivos estratégicos.


(1) Melo Franco, A.A. - "Problemas Políticos Brasileiros" - Livraria José Olímpio Editora, R. J., 1975 t pág. 171.