2a Parte - Capítulo II
A AÇÃO COMUNISTA

3. Reforma ou Revolução?

Desde que assumiu o poder, em 7 de setembro de 1961, já sob um sistema parlamentarista, Jango manobrou para recuperar os poderes constitucionais, procurando equilibrar-se entre os choques de forças opostas, ora apoiando uma, ora outra. A essa política, vieram juntar-se as vacilações de sua personalidade, conduzindo a vida política brasileira através de um caminho incerto e sinuoso.

Em novembro de 1961, a lei de remessa de lucros para o exterior dividiu o Congresso Nacional, com a Câmara dos Deputados tomando uma posição mais radical e "nacionalista" e o Senado Federal, outra, mais, "conservadora". Após a rejeição do Senado, a lei foi aprovada pela Câmara e enviada para a sanção presidencial. Pressionado pelo Ministro da Fazenda, Jango aceitou que o Senado apresentasse outro projeto, emendando essa mesma lei, prometendo para a ocasião seu apoio à emenda. No momento oportuno, entretanto, Jango, sem coragem de enfrentar a Câmara, não apoiou a emenda enviada pelo Senado.

Em 24 de novembro de 1961, o restabelecimento das relações diplomáticas com a URSS aproximou Jango dos comunistas. No início de 1962 (já estando infiltrado na UNE e na PETROBRÁS),o PCB alcançou a presidência da poderosa Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), com a eleição de Clodsmith Riani, cuja posse contou com a presença de Jango. Coerente com o princípio marxista-leninista de que a classe operária era o principal agente da revolução, o PCB sempre procurou conduzi-la através de suas entidades representativas, os sindicatos, as federações e as confederações, dominando-as ou infiltrando-as.

Naquela época, os comunistas dominavam diversos sindicatos das áreas de comunicações e de transportes e estavam infiltrados nos sindicatos de bancários e dos empregados nas indústrias. Em variados graus de controle, o PCB atuava nas seguintes Confederações Nacionais de Trabalhadores: do Comércio (CNTC), dos Estabelecimentos de Crédito (CONTEC), dos Transportes Terrestres (CNTTT) e dos Transportes Marítimos, Fluviais e Aéreos (CNTTMFA).

O grande objetivo nessa area, entretanto, era o de criar um organismo centralizador, a fim de desencadear as greves gerais, transformando-as em instrumento de pressão política.

Nesse aspecto, já existiam dois organismos aglutinadores, o Pacto de Unidade e Ação (PUA), que reunia os sindicatos vinculados aos transportes, e a Comissão Permanente das Organizações Sindicais (CPOS), que englobava várias categorias, em particular, a dos metalúrgicos. A conquista da CNTI forneceu, ao PCB, a hegemonia no meio sindical e a base para a criação de uma entidade acima das confederações.

Em fevereiro de 1962, Brizola, então Governador do Rio e Grande do Sul e contando com o apoio do PCB e da UNE, encampou a Companhia Telefônica, criando atritos nas relações econômicas entre o Brasil e os Estados Unidos da América. Tal episódio serviu como estopim para o ínicio, pelos comunistas, de uma campanha pela encampação de outras empresas, particularmente as concessionárias de serviços públicos.

Em março de 1962, as comemorações dos 40 anos de fundação do PCB provocaram uma intensa atividade de agitação e propagada. Foi organizada uma exposição sobre a URSS e realizaram-se comícios e festas, culminando com o canto da Internacional no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. 1Ao mesmo tempo, dezenas de pronunciamentos de políticos e de intelectuais procuravam chamar a atenção para os comunistas.

Em abril de 1962, ainda em pleno desenvolvimento da campanha pela encampação das subsidiárias de serviços públicos, Jango viaja para os Estados Unidos da América em busca de apoio financeiro para seu plano de governo. Mas, apesar de se ter declarado, em discurso pronunciado no Congresso norte-americano, contrário ao regime totalitário de Fidel Castro, nos problemas internos o Presidente mais e mais se aproximava das esquerdas.

A campanha pelas "reformas de base" ofereceram a Jango a oportunidade de obter o apoio das massas. Reforma ou Revoluç5ão? Para os comunistas, as reformas serviam para preparar e acelerar a revolução; para Jango, as reformas poderiam dar-lhe um nome na história, ao estilo populista.

Seus discursos de 19 e 13 de maio aproximaram-no mais das esquerdas. Ainda em maio, Brizola lançou o "slogan" "Reforma ou Revolução", com muito maior repercussão do que o fizera Francisco Julião, no I Congresso das Ligas Camponesas, em novembro de 1961.