2a Parte - Capítulo II
A AÇÃO COMUNISTA

5. As crises políticas de junho e julho de 1962

Desde que assumiu o poder, Jango não escondia o seu objetivo de conseguir o retorno ao sistema presidencialista. Em junho de 1962, a renúncia do Primeiro Ministro Tancredo Neves provocou uma crise política e propiciou a oportunidade para esse retorno. Jango indicou para ocupar o cargo San Thiago Dantas, que, pouco antes, na Conferência de Punta del Est'e, havia tomado uma posição dúbia e tergiversante, defendendo a neutralidade do Brasil no caso de Cuba.

As esquerdas vislumbraram a possibilidade de avançar mais um passo na infiltração do Governo. Em 22 de junho, o PCB promoveu uma concentração popular no palácio Tiradentes, exigindo um gabinete "nacionalista e democrático". Os organismos sindicais lançaram um manifesto, colocando os trabalhadores de prontidão para a formação de um governo "nacionalista". O Pacto de Unidade e Ação (PUA) lançou uma proclamação exigindo "um governo que fizesse as reformas radicais". 0s universitários, que haviam decidido não comparecer às provas de junho, realizaram a primeira greve geral pelas reformas de base. Entretanto, apesar das pressões, o Congresso rejeitou a indicação de San Thiago Dantas.

O comando Geral de Greve, dominado pelos comunistas, enviou carta aberta ao Presidente da República, na qual os trabalhadores declaravam-se "dispostos a defender, a todo risco, um Conselho de Ministros Democrático e Nacionalista". Tentando contornar a crise, Jango indicou Auro de Moura Andrade, que foi aprovado como Primeiro Ministro em 5 de julho de 1962. As esquerdas não aceitaram essa indicação. O Comando Geral de Greve, apoiado pela UNE e por Brizola, decretou uma greve geral, paralisando milhares de operários. Os estudantes invadiram o MEC. Incitados por agitadores profissionais, populares saquearam casas comerciais, culminando, na Baixada Fluminense, com o trucidamento de comerciantes.

No meio dessa crise política, Prestes apresentou, ao Superior Tribunal Eleitoral, o pedido de registro legal do PCB.

O caráter pendular de Jango inclina-se para o outro lado. Não aprova os ministros indicados por Auro de Moura Andrade provocando a sua demissão dois dias apos ter sido eleito pelo Congresso. Jango indicou, então, um terceiro nome, o de Brochado da Rocha, aprovado pelo Congresso.

O PCB, inicialmente, passou a exigir participação no novo Gabinete. Não o conseguindo, mandou publicar um artigo (4), do qual extraímos: "As reformas devem e podem ser feitas já, desde que o governo se apóie no movimento de massas e no próprio dispositivo militar com que agora conta".

Essa seria a forma pacifica de implantar o governo nacional e democrático. Se o apelo ainda não vingara, o Partido seguia paciente. Afinal, essas crises constituíam-se; no entendimento do PCB, "num passo importante na elevação da consciência política e na capacidade de ação das massas". Representavam um passo em frente das forças nacionalistas e democráticas, e expressavam nova modificação na correlação de forças políticas, criando perspectivas mais favoráveis para o desenvolvimento da luta empreendida pelo partido.


(4) Novos Rumos nº 179, de 20 a 26 de julho de 1962, pág. 3.