2a Parte - Capítulo II
A AÇÃO COMUNISTA

7. Crescem as pressões para mudanças

O PCB havia terminado o ano de 1962 com uma Resolução Política (5). Nela, incentivava o trabalho de infiltração no movimento camponês e alertava sobre o surgimento no país de "agrupamentos políticos de esquerda que representavam setores da pequena burguesia e adotavam posições sectárias, interpretando erroneamente o caráter da revolução brasileira e propondo incorretas formas de luta para a situação atual" (uma critica à atuação do PC do B, POLOP, AP e PORT). Além disso, exortando o início da construção do comunismo na União Soviética e o exemplo revolucionário de Cuba, exigia o estabelecimento de relações diplomáticas com todos os países socialistas. Decidia, também, "intensificar, em todo o Brasil, o movimento de solidariedade à Revolução Cubana".

As esquerdas estavam eufóricas com o sucesso obtido nas greves gerais de 5 de julho e de 14 de setembro de 1962. Em 15 de janeiro de 1963, o ilegal CGT homenageou o General Osvino Ferreira Alves, Comandante do I Exército. Em fevereiro, seis mil soldados, cabos e sargentos realizaram; em São Paulo, uma passeata pela posse das praças eleitas. Mais tarde, em abril, o Sargento Garcia, eleito deputado, declarou que o General Amaury Kruel, então Ministro da Guerra, era um "golpista". A situação encaminhava-se para nova crise.

Prestes e o CGT posicionam-se contra o Ministério e o Plano Trienal. O PCB, de acordo com a Resolução Política de dezembro de 1962, organizou, em abril, em Niterói, o Congresso Continental de Solidariedade a Cuba. Prestes declarou que o Brasil estava disputando, com outros países, o privilégio de ser o segundo pais latino-americano onde o socialismo seria instalado. Bravateiro, vangloriou-se de que o PCB já era legal "de fato", só faltando obter a legalidade "de direito". Superando o PCB, o CGT declarava-se legal "de "fato e de direito".

O PCB emitiu mais uma Resolução Política, caracterizando os objetivos táticos das reformas e conclamando pelo esforço da frente única das esquerdas para derrotar os "gorilas". Ao mesmo tempo, incentivava o início de uma pressão popular sobre o Congresso para abrir o caminho da reforma agrária.

A revista "Novos Rumos" exige à demissão do Ministro da Guerra e incentiva o povo a lutar contra os outros ministros, tachando-os de "agentes do imperialismo e do latifúndio". A pressão pelas reformas deixa de ser iniciativa das bases e atinge a cúpula governamental. O Presidente da República, o Governador de Pernambuco e o Ministro do Trabalho fazem sucessivos pronunciamentos em seu favor.

Em junho de 1963, encampando as palavras de ordem do PCB, o CGT emite um documento, do qual extraímos, em seus trechos finais (6):

"Declaramos, ainda, ser imperiosa a recomposição do Ministério, incluindo-se no governo cidadãos verdadeiramente Identificados com a plataforma de lutas das forças nacionalistas e democráticas, sinceramente convencidos da necessidade de aprovação e plena execução das Reformas de Base".

Além disso, o Comando Sindical ameaça deflagrar uma greve geral caso não seja aprovada a reforma agrária. A greve geral permaneceria, ao longo dos meses seguintes, como uma constante espada ameaçando a Nação.

Na área militar, o General Osvino Ferreira Alves pronuncia-se contra a Aliança para o Progresso, tachando-a de suporte do anticomunismo.

Na área estudantil, a União Nacional de Estudantes (UNE) e a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), além de entidades estaduais e municipais, levavam as concepções comunistas aos jovens. O próprio MEC, através do Movimento de Cultura Popular, do Movimento de Educação de Base e da Campanha de Alfabetização, editava cartilhas de doutrinação ideológica, incitando os pobres às lutas de classe. O MEC, ainda, fornecia elevados recursos a essas entidades estudantis, utilizadas para financiar a ida de estudantes comunistas a países socialistas.

A UNE, na época, relacionava-se com a União Internacional de Estudantes (UIE) que, fundada em 1946, em Praga, era a "Seção Estudantil do Cominform" (7). Um dos vice-presidentes da UNE era o brasileiro Nelson Vanuzzi. Datada de 21 de janeiro de 1963, Nelson Vanuzzi enviou, de Praga, uma carta a Zuleika Dalambert, então membro do CC/PCB, da qual extraímos o item 6:

"Sobre a Campanha de Alfabetização e nossa ajuda, tenho algumas coisas mais detalhadas a tratar. Na carta anterior, eu havia me referido à falta absoluta de dinheiro por aqui. Dei também as razões. Porém, dada a tremenda discussão que houve no Secretariado, o companheiro soviético foi a Moscou tratar do assunto. Resultado: trouxe com ele a quantia de 5 mil dólares exclusivamente para a UNE, enquanto que as outras planejadas quase nada foi conseguido. Parece ter sido uma consideração especial. Além do maias, a UIE enviará as demais partes materiais. Porém resta um problema que eu estou sentindo ou melhor estou cheirando à distância.

Olhando-se o balancete da UNE de agosto a janeiro, o último, vê-se claramente que cinco mil dólares não representam muito para a UNE. Porém, para a UIE, tratando-se de divisas pesadas, significa muito. Por isso, o que se passa é que a UIE espera de tal soma de dinheiro os consequentes resultados políticos. Ou seja, espera que a campanha seja um sucesso e que seja feita como o estrondo político maior"

Esse trecho da carta, um dos muitos exemplos que poderiam ser citados, além de mostrar que 5.000 dólares representavam pouco para a UNE, comprova que essa entidade brasileira recebia dinheiro da URSS através da UIE. E comprova, também, que a Campanha de Alfabetização, além das verbas do MEC, recebia outras do exterior, e era, na verdade, um programa que visava a interesses político-ideológicos.

Muitos jovens brasileiros, tangidos pelo idealismo, eram manobrados pelo dinheiro soviético. E muitos, inclusive, eram diretamente impregnados ideologicamente, através dos cursos que realizavam na Universidade de Amizade dos Povos Patrice Lumumba (UAPPL), em Moscou, selecionados pelo PCB.


(5) Novos Rumos nº 179, de 13 a 20 dedezembro de 1962, pág. 4.

(6) Novos Rumos nº 244, de 7 a 13 de junho de 19632, pág. 3.

(7) "Cominform" (Informações Comunistas) era o novo nome da III Internacional e do Comintern (Internacional Comunista), órgão de difusão ideológica do Partido Comunista da União Soviética (PCUS).