2a Parte - Capítulo II
A AÇÃO COMUNISTA

9. Cedendo às pressões

Com o fracasso do Plano Trienal, Jango perdera a oportunidade de seguir uma linha moderada e voltava-se para o papel de populista, que melhor se ajustava ao seu passado. Isso era o que desejavam as esquerdas. O PCB fez publicar uma Resolução Política (8), na qual, além de mostrar insatisfação com o Ministério e sua política conciliatória, testava o crescimento e a radicalização do movimento de massas e vislumbrava a possibilidade de novas vitórias:

"Cresce, por outro lado, a combatividade das forças patrióticas e progressistas, avança e se radicaliza o movimento de massas, abrindo-se, diante de nosso povo, perspectivas de lutas vigorosas e maiores vitórias".

O Partido exige novos passos adiante no movimento sindical e preconiza a utilização de novas formas de luta para deflagrar uma greve geral:

"A elevação do movimento de massas também está vinculada à justa utilização de diferentes formas de luta. Comícios, manifestações, suspensão de trabalho, greves de solidariedade, etc., são formas de luta que podem contribuir para melhor preparação da greve geral política".

No campo, atesta o PCB:

"Os camponeses multiplicam o número de suas organizações, desencadeiam lutas a fim de que ao latifundiários sejam compelidos a respeitar direitos já conquistados, defendem-se, muitas vezes de armas na mão, dos assaltos dos grileiros, iniciam ações de ocupação de terras".

Com espírito otimista, o Partido encerra a Resolução:

"Através da lutas, nosso povo consolidará as vitórias já alcançadas e marchará para novas e decisivas vitórias".

Enquanto tudo isso acontecia, a classe média tinha a esperança de que a Nação aguenta-se e sobrevivesse ao "acidente" João Goulart. Mas, a esquerda e a direita consideravam-no incapaz de governar.

A mudança do Ministério generalizou a crença de que Jango não mais acreditava nos processos institucionais: "Brizola temia que a reforma ministerial pudesse ser o prelúdio de uma tentativa de Jango para permanecer no poder" (9).

Essa mudança fez recrudescer as agitações em todo o País. Os comunistas, prosseguindo na mesma tática, sempre colocavam as metas um pouco mais além, mobilizando as massas como um constante elemento de pressão.

Em 23 de agosto de 1963, um dia antes do aniversário da morte de Getúlio Vargas, o CGT realizou uma grande concentração em torno de seu busto, na Cinelândia, com a garantia de tropas do Exército e com a presença do Presidente da República. Sobre o discurso do Presidente, assim se refere a revista "Novos Rumos":

"Fazendo, afinal, uso da palavra o presidente João Goulart pronunciou, na verdade, dois discursos.

O primeiro caracterizou-se pelo tom vago e vacilante com que se referia, repetindo frases já várias vezes pronunciadas, à necessidade de reformas de base e às difícieis condições de vida do povo.

Foi quando se verificou a manifestação de desagrado da massa popular, exigindo de Jango a definição.

O presidente mudou, então, visivelmente, o plano do discurso, emprestando-lhe um tom mais vigoroso, embora fugindo, ainda aqui, a afirmações de repúdio à política de conciliação. Nessa parte, fez questão de mencionar o discurso do CGT - a 'entidade máxima dos trabalhadores brasileiros' como afirmou -, comprometendo-se fazer com que em 1964, nas comemorações de 24 de agosto, já fossem festejadas as reformas de base convertidas em realidade. Afirmou que a consecução dessas reformas depende, fundamentalmente, da mobilização dos trabalhadores e do povo, dizendo que nenhuma reforma social foi feita, até agora, senão sob a pressão das massas" (10).

Se dúvidas havia, agora não mais existiam. O próprio Presidente da República pedia a pressão das massas. Contra quem? O Congresso, obviamente. O PCB, eufórico, conclamava o povo à luta por "decisivas vitórias" e o CGT entrava em estado de alerta.

As greves dos portuários de Santos, dos metalúrgicos e dos bancários, e os discursos de Arraes e de Brizola, cada vez audaciosos, mantinham a população excitada e angustiada. As invasões de terras prosseguiam. Tudo parecia conduzir, em setembro de 1963, para uma revolução de esquerda.

As Forças Armadas, entretanto, vilipendiadas, observavam a constante degeneração dos valores e da ordem. A revolta dos sargentos de Brasília, em 12 de setembro de 1963, iniciou um novo processo.


(8) Novos Rumos n9 229, de 12 a 18 de julho de 1963, pág. 3.

(9) Skidmore, T: "Brasil: de Getúlio a Castelo", Ed. Saga, R:J., pág,. 311.

(10) Novos Rumos n9 236, de 30 de agosto a 5 de setembro de 1963, pág. 8.