2ª Parte - Capítulo III
O ASSALTO AO PODER

4. Os Grupos dos Onze

Em outubro de 1963, Brizola achava que o Brasil estava vivendo momentos decisivos e que, rapidamente, se aproximava do desfecho por ele almejado. Sucessivamente, em 19 e 25 de outubro, fez pronunciamentos à Nação, através dos microfones de uma cadeia de estações de rádio, liderada pela Mayrink Veiga, que detinha, na época, o maior percentual de oúvintes das classes média e baixa.

Nesses pronunciamentos, eivados, como sempre, de metáforas e redundâncias, Brizola conclamou o povo a organizar-se em grupos que, unidos, iriam formar o "Exército popular de Libertação". Comparou esses grupos com equipes de futebol e os 11 "jogadores" seriam os "tijolos" para "construir o nosso edifício". Estavam lançados os Grupos dos Onze (G 11), que, em sua cabeça megalomaníaca, seriam seu exército particular.

Os documentos encontrados, posteriormente, nos arquivos pessoais de Brizola, revelaram os planos para a formação dos G 11 e do Exército Popular de Libertação. Como todo o discurso "brizolista",esses documentos possuíam uma linguagem incisiva mas primária, dramática mas demagógica. O documento mais hilariante, se não fosse trágico, era o das "Instruções Secretas", assinadas por um "Comando Súpremo dc Libertação Nacional". Inicia-se por um "Preâmbulo Ultra-Secreto"" onde consigna que a morte pesaria sobre aqueles que revelassem os segredos dos grupos dos onze:

"Após tomar conhecimento, só a morte libertará o responsável pelo compromisso de honra assumido com o Comando Supremo de Libertação Nacional...".

"O compromisso de resguardo deverá ser um tanto solene, para impressionar o companheiro, devendo, antes, verificar as idéias desse soldado dos G 11, a fim de que seja selecionado, ao máximo, os autênticos e verdadeiros revolucionários, os destemerosos da própria morte...".

Os G 11 seriam a "vanguarda avançada do Movimento Revolucionário", a exemplo da "Guarda Vermelha da Revolução Socialista de 1917 na União Soviética". Defendendo a tese de que "os fins justificam os meios", faz veladas ameaças sobre futuros atos dos G 11:

"Em consequência, não nos poderemos deter nas procura de justificativas acadêmicas para atos que possam vir a ser considerados, pela reação e pelos companheiros sentimentalistas, agressivos demais ou, até mesmo, injustificados".

Os integrantes dos G 11 deveriam considerar-se em "Revolução Permanente e Ostensiva" e seus ensinamentos deveriam ser colhidos nas "Revoluções Populares", nas "Frentes de Libertação Nacional" e nos "folhetos cubanos" sobre a técnica de guerrilha (4).

Admitiam, essas "Instruções Secretas", que a época era propícia á atuação dos G 11:

"Devemos nos lembrar que, hoje, temos tudo a nosso favor, inclusive o beneplácito do Governo e a complacência de poderosos setores civis e militares, acovardados e temerosos de perder seus atuais e ignominiosos privilégios".

Instruem os G 11 sobre a aquisição de armas, recomendando "não se esquecer dos preciosos coquetéis molotov e outros tipos de bombas incendiárias". Alertam, também, que:

"A escassez inicial de armas poderosas e verdadeiramente militares será suprida pelos aliados militares que possuímos em todas as Forças Armadas"

As "Instruções Secretas" estabelecem o esquema para o início do movimento insurrecional:

"...os camponeses, dirigidos por nossos companheiros, virão destruindo e queimando as plantações, engenhos, celeiros, depósitos de cereais e armazéns gerais...";

"A agitação será nossa aliada primordial e deveremos iniciá-la nos veículos coletivos, à hora de maior movimento, nas ruas e avenidas de aglomeração de pedestres, próximo às casas de armas e munições e nos bairros eminentemente populares e operários"

"Desses pontos e à sombra da massa humana, deverão convergir os G 11 especializados em destruição e assaltos, já comandando os companheiros e com outros se ajuntando pelas ruas e avenidas, para o centro da cidade, vila ou distrito, de acordo com a importância da localidade, depredando os estabelecimentos comerciais e industriais, saqueando e incendiando, com os molotovs e outros materiais inflamáveis, os edifícios públicos e os de empresas particulares".

"Ataques simultâneos serão desfechados contra as centrais telefônicas, rádio-emissoras e, onde houver, de TV, casa de armas, pequenos Quartéis Militares...".


(4) Nessa época, os "folhetos cubanos" sobre a técnica de guerrilha eram disseminados, no País..(ilegível).. Movimentos de Educação Popular.