2ª Parte - Capítulo III
O ASSALTO AO PODER

5. O plano revolucionário

Entrava-se no ano decisivo de 1964. A conturbada situação nacional pedia medidas drásticas que pudessem solucionar a crise. O pêndulo do poder oscilava entre um lado e outro. Faltava fixá-lo em um dos lados. E Jango pretendia ser o líder que iria fixá-lo no lado esquerdo.

Os entendimentos entre o Presidente e o PCB eram constantes. Seus trunfos eram a legalização e a promessa de maior participação no poder. Jango distanciava-se, cada vez mais, de Brizola, que colocava seus pedidos sempre além dos já conseguidos. Para o Presidente, o que realmente seu cunhado desejava era ocupar o seu lugar.

Em fevereiro de 1964, Jango afirmou que os comandos militares estavam inteiramente afinados com ele e que "se os generais estão comigo, não há razão para que os sargentos não estejam". Não pensava em realizar eleições presidenciais. Para ele, as hipóteses mais prováveis eram que a direita "botasse a cabeça de fora", através de Lacerda, ou que Brizola "demarrasse" para sua loucura.

A solução era desfechar um golpe, amparado nas forças populares e no "esquema militar", sob o pretexto de realizar as reformas de base. Faltava a Jango, entretanto, um motivo que justificasse esse golpe.

Segundo o jornalista Samuel Wainer, o plano era o seguinte:
- o Presidente enviaria uma mensagem ao Congresso, pedindo a decretação de um plebiscito para reformas na Constituição, apoiado por intensa campanha nacional;
- em face da provável negativa do Congresso, este seria dissolvido e implantadas, imediatamente, as reformas de base, num processo conduzido pela frente única;
- caso esse esquema falhasse, o Presidente ameaçaria renunciar, justificado pela impossibilidade de atender aos anseios populares;
- no comício previsto para 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro, Jango anunciaria, à Nação, a assinatura de decretos de conteúdo popular, tais como a desapropriação das terras ao longo das rodovias e ferrovias, a encampação das refinarias particulares e outros contra a inflação e o custo de vida;
- ao comício do dia 13, seguir-se-iam outros 4 ou 5, a serem realizados em importantes cidades do Pais, onde Jango anunciaria novos decretos, como os do sapato popular, da roupa popular e do depósito bancário para os sindicalizados;
- com o apoio e o clamor do povo, Jango estaria, ao final do processo, com força suficiente para fazer o que bem entendesse.

Esse plano de Jango começaria a ser executado no mês de março de 1964.