2ª Parte - Capítulo III
O ASSALTO AO PODER

6. O comício das reformas

Os finais de tarde nas proximidades da estação da Central do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, sempre foram caracterizados pela presença de um enxame de pessoas, pressurosas em tomar os trens que as conduzem aos seus lares nos subúrbios cariocas. Foi esse o local escolhido pelos organizadores do que ficou conhecido como o "Comício das Reformas", realizado na tarde noite de 13 de março de 1964.

Cerca de 100 mil pessoas aglomeravam-se na praça em frente da estação da Central do Brasil e ao lado do Palácio Duque de Caxias, antiga sede do Ministério da Guerra. Dezenas de faixas e cartazes conclamavam às reformas, à legalização do Partido Comunista e à entrega, ao povo, de armas para a luta. No palanque, ao lado dos principais líderes sindicais e comunistas, inclusive membros do Comitê Central do PCB, alinhavam-se Jango, Arraes e Brizola. Estações de rádio e de televisão transmitiam, para todo o Pais, os diversos discursos que se sucediam, preparatórios ao do Presidente.

Brizola chamou o Governador Carlos Lacerda de "energúmeno" e pediu a realização de um plebiscito, exigindo o fechamento do Congresso Nacional e a convocação de uma Constituinte:
"... o povo brasileiro votará maciçamente pela derrogação do atual Congresso e por uma Assembléia Constituinte..."

Arraes vociferou contra os "fascistas", os "reacionários" e os "retrógrados". Mas, foi a fala do Presidente que causou maior impacto, pela série de novas medidas que anunciava à Nação. Jango prometeu, em um prazo de 48 horas, enviar uma mensagem presidencial ao Congresso Nacional, tratando sobre uma série de revisões na Constituição, a fim de possibilitar as reformas, dentre as quais a Reforma Agrária, a Eleitoral, a Universitária e a Tributária. Anunciou, também, que havia assinado, naquele mesmo dia, três decretos: O de encampação das refinarias particulares; o de tabelamento de aluguéis de imóveis; e o da SUPRA, que desapropriava as terras que margeiam as rodovias federais.

Todas essas providências foram anunciadas, pelo Presidente, como indispensáveis para a "salvação nacional" e para a transformação de uma "estrutura ultrapassada". E solicitava, enfático, o apoio da população às reformas. Jango iniciava a execução do plano revolucionário.