2ª Parte - Capítulo IV
A REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA DE 1964

1. Ascensão e queda de Goulart

A reação a João Goulart teve inicio antes mesmo de sua posse. Com a renúncia de Janio Quadros, apresentou-se um impasse entre as forças que consideravam sua ascensão a Presidência da República uma temeridade para as instituições e as que, por razoes diversas, desejavam ver cumprida a Constituição.(1)
Em face desse dilema, que poderia conduzir o País a uma guerra civil, o parlamentarismo apresentou-se como a forma política capaz de suplantar democraticamente a crise.

Apesar da desconfiança com que Goulart era encarado por muitos, uma vez empossado, poderia ter chegado ao final de seu mandato - pelo simples fato de que era o sucessor constitucionalmente eleito -, se não adotasse medidas que ferissem a Constituição. Vários fatores concorriam para essa assertiva. Os governadores dos principais estados eram pretensos candidatos às eleições presidenciais previstas para 1965 e tinham interesse que o sistema político continuasse a funcionar normalmente. Nas Forças Armadas, embora houvesse um pequeno grupo que iria, desde logo, conspirar contra Goulart, a imensa maioria de seus quadros era legalista , respeitando incondicionalmente a Constituição. Ademais, a divisão que ocorrera nas Forças Armadas, mais particularmente no Exército, por ocasião da posse de Goulart, fora marcante e funcionava como um freio muito forte a qualquer veleidade de destituir o Presidente.

Goulart, no entanto, acabou caindo. Sua queda, não se deveu às reformas de base que desejou implantar. Elas eram necessárias e a maioria justa, tanto e que a Revolução vitoriosa, a seu modo, acolheu várias delas.
Goulart caiu por causa da estratégia e das táticas que adotou. Pretendeu implantar as reformas com ou sem apoio do Congresso, "na lei ou na marra" como diziam seus seguidores, através da mobilização das massas com o apoio passivo das Forças Armadas e o apoio ativo do dispositivo militar que pensava haver implantado.
Buscou mobilizar as massas com ativistas de esquerda, ligando constitucionalmente seu governo ao PCB, mas foi incapaz de conter o radicalismo que até os comunistas mais experientes condenavam, permitindo que a desordem interna ultrapassasse os limites do tolerável. Desordem que, adicionada ao abandono do plano econômico do Governo, conduziu uma economia já desorganizada para o caos. Desordem que, através da infiltração do proselitismo e da agitação esquerdista, se instalou na máquina administrativa, no campo, na área educacional e na área trabalhista. Desordem que alcançava as Forças Armadas, com o risco de sua desagregação pela quebra da disciplina e da hierarquia.


(1) Em 1953, Goulart havia sido afastado, sob pressão, do Ministério do Trabalho, por graves irregularidades e pela orientação justicialista que ali imprimia.