2ª Parte - Capítulo IV
A REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA DE 1964

2. A iniciativa da reação

A posse pacífica de João Goulart não trouxe tranquilidade à Nação. O Governador de Minas Gerais, que fora favorável à ascensão de Goulart à Presidência da República deixava transpirar que "já a partir dos primeiros dias, os propósitos do Presidente indicavam rumos perigosos". Dando curso a essa preocupação, em 26 de novembro de 1961, ou seja, poucas semanas após a posse de Goulart, Magalhães Pinto em entrevista á imprensa declarava: "A Nação continua traumatizada. Pairam no ar indagações inquietantes".

Esse clima de insegurança que a Nação respirava, aliado às dificuldades econômicas era sentido de forma mais acentuada pelos empresários. Não era, pois, de estranhar que partissem deles as primeiras iniciativas no sentido de reverter essa situação.

A preocupação dos empresários com a infiltração comunista, com a propaganda esquerdista e a estatização vinha de algum tempo. Pelo menos, desde os últimos estágios do governo populista de Juscelino Kubitschek.
Dessa preocupação resultou uma série de encontros de empresários do Rio de Janeiro e de São Paulo, os quais, com a posse de Goulart, se amiudaram. Da troca de idéias sobre suas responsabilidades na manutenção da liberdade e da democracia, surgiu no final de novembro de 1961, o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES).

O documento básico do Instituto, de autoria de Garrido Torres, intitulado "A responsabilidade democrática do empresariado", utilizado para o recrutamento de novos adeptos, apresentava o IPES como uma "organização apartidária com objetivos essencialmente educacionais e cívicos. Seu lançamento foi recebido favoravelmente pelos principais jornais do Pais e saudado com entusiasmo por lideres políticos, personalidades eclesiásticas e intelectuais.

A preocupação primeira do IPES era defender a frágil democracia nacional. Como declarava um dos seus fundadores, Paulo Ayres Filho: "A princípio a ideia era resistir, não atacar. Todos queríamos que Jango terminasse o seu mandato".
Suas atividades iniciais concentraram-se na distribuição de folhetos e livros e na realização de palestras versando sobre a liberdade e a democracia.

O IPES, porém, não se restringiu ao empresariado. Passaram a integrar seus quadros profissionais liberais, militares da reserva, clérigos, funcionários públicos, etc. Com isso, o Instituto não só se expandiu rapidamente para os maiores centros do País como pôde aperfeiçoar sua estrutura para estender sua ação aos vários segmentos sociais. Passou a encorajar associações femininas e organizações estudantis apoiando-as materialmente.
Criou um programa de treinamento de lideranças democráticas para homens de negócios, estudantes e operários. Publicava e promovia livros, bem como estimulava a realização de peças teatrais e filmes e disseminava, através da mídia, discursos e entrevistas defendendo a livre iniciativa e a democracia.

Mas a situação do Pais evoluía rapidamente e, no final de 1962, houve uma mudança de atitude de alguns membros do IPES. As ações do Governo fizeram com que uma ala do IPES começasse a achar que a resistência intelectual a que se propunha o Instituto, isto é, a realização de estudos doutrinários para disseminar idéias e esclarecer os cidadãos, não operava os resultados desejados com a necessária rapidez.

Enquanto o IPES continuou com seu trabalho e apoio as atividades de conscientização e esclarecimento da opinião pública, membros da entidade começaram, individualmente ou em grupos, a procurar novas ligações e maneiras mais diretas de manifestar sua oposição ao estado de coisas que se verificava no País. Dessa atitude decorreu boa parte das inúmeras organizações que surgiram no ano de 1963, com objetivos semelhantes aos do IPES, mas a maioria delas voltada diretamente para a ação política e algumas delas dispostas mesmo à ação revolucionária, se necessário. Um desses grupos, por exemplo, contatou com Júlio de Mesquita Filho, dono do jornal "O Estado de S. Paulo", que se tornou o seu chefe nacional e que em 1964 chegou a armar-se para participar diretamente da revolução.

Outras organizações e associações de classe teriam importante papel no esclarecimento e mobilização da opinião pública. Na década de cinqüenta, as condições de desenvolvimento haviam estimulado a expansão da estrutura associativa das classes produtoras e fizeram surgir uma geração de empresários jovens e dinâmicos.
Esses novos empresários assumiram a direção de boa parte das associações de classe já existentes como a Confederação e as Federações da Indústria, as Associações Comerciais, etc. Nessa época, duas novas entidades surgiram: o Conselho Superior das Classes Produtoras - CONCLAP e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática - IBAD.
Destas, o IBAD foi constituído especificamente com o propósito de "defender a democracia, as instituições e o regime".
O IBAD iria, principalmente após a posse de Goulart, atuar particularmente na conscientização ideológica dos sindicatos e movimentos estudantis. Seu veiculo de difusão mensal "Ação Democratica", chegaria a ter uma tiragem de 250.000 exemplares.

Embora essas organizações não se tivessem constituído em um bloco ideológico e político monolítico, elas se reuniriam e encontrariam sua unidade na situação por que passava o País e iriam influir decisivamente no movimento revolucionário.