2ª Parte - Capítulo IV
A REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA DE 1964

6. As mulheres envolvem-se decididamente

Desde 1954, existia, em São Paulo, o Movimento de Arregimentação Feminina (MAF). Inicialmente criado a fim de protestar contra o alto custo de vida e a falta de intrução cívica nas escolas públicas, o MAF, com o perigo da comunização do País, lançou-se a um trabalho de mobilização e conscientização em favor dos ideais democráticos.

Em 1962, começaram a surgir entidades semelhantes em diversos Estados. Algumas delas iriam ter uma participação muito importante na mobilização da consciência democrática nacional.
O Marechal Cordeiro de Farias, em entrevista a Lourenço Dantas Mota, diria: "Sou dos que defendem a tese de que a Revolução foi feita pelas mulheres brasileiras, principalmente as de Minas e São Paulo. Todas as pessoas que não estiveram , como eu estive, nesse setor, poderão achar minha afirmação fora de propósito (...) Acho que nunca ouvi tantos desaforos na minha vida como os que me foram ditos pelas mulheres de São Paulo na antevéspera da Revolução. Elas me diziam então o seguinte: Mas o que os Senhores querem mais que façamos para que tenham a coragem de ir para as ruas? (...)".(3)

Nesse ano foi inaugurado em São Paulo a União Cívica Feminina (UCF), que visava à "defesa do regime democrático e a despertar a consciência cívica das mulheres". Apesar de possuir um número de membros menor do que o MAF, a UCF contava com uma rede de núcleos em diversas cidades e atuava basicamente, através de palestras, conferências e cursos. Ainda em 1962, surgiu no Rio de Janeiro a Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE).

A CAMDE concentrava seus esforços sobre as donas-de-casa e esposas de líderes sindicais, de funcionários públicos e de militares. Produzia literatura própria, especialmente orientada no sentido das preocupações femininas. Mais de 200.000 exemplares só de um trabalho, descrevendo o que as mulheres podiam fazer, foram distribuídos pela CAMDE às suas associadas, incumbindo a cada uma de tirar cinco cópias e mandá-las a possíveis candidatas a sócias.

As mulheres insistiam em ação. Faziam comícios de protesto público; passavam horas ao telefone fazendo suas pregações; enviavam cartas a congressistas e a militares desafiando-os a assumirem posição determinada em defesa da democracia; pressionavam empresas comerciais que faziam propaganda em veículos comunistas; apareciam em comícios para discutir com esquerdistas; e distribuíam milhões de circulares e livretos preparados pelas organizações democráticas.

Realmente, trabalhando às claras e sem medo, as mulheres foram as principais responsáveis pela mobilização popular, devendo a elas ser atribuído o mérito maior do País ter sustado, sem sangue, essa tentativa de tomada do poder.


(3) Entrevista publicada em "História Vivida", vol. I, da coletânea Documentos Abertos, coordenado por Lourenço Dantas Mota e editado pelo "O Estado de S. Paulo", 1981