2ª Parte - Capítulo IV
A REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA DE 1964

8. A vitória da democracia

Quando, no dia 30 de março, uma segunda-feira, o Sr. João Goulart se dirigiu ao Automóvel Clube do Rio de Janeiro para falar a uma assembleia de sargentos, o desencadeamento da Revolução já estava decidido. Recebida no domingo a decisão do Comandante do II Exército, que até a última hora insistira com o Presidente para que depurasse seu governo dos comunistas, o dispositivo revolucionário estava pronto. O inicio do movimento foi marcado para a noite de 2 para 3 de abril, após a realização de uma concentração popular prevista para o Rio de Janeiro naquela quinta-feira.

Por razões diversas, porém, o movimento revolucionário foi antecipado em Minas Gerais e, na madrugada do dia 31 de março, as tropas ali sediadas começaram a marchar em direção ao Rio de Janeiro. No encontro dessas forças com as tropas do I Exército, que se deslocaram para barrá-las, não houve o primeiro tiro. Depois dos instantes dramáticos iniciais, o confronto esgotou-se em diálogos de persuasão e em gestos do confraternização. Episódio semelhante ocorreria no ponto de encontro das tropas I e II Exército, no eixo Rio-São Paulo.

Pelo meio da tarde de quarta-feira, tudo estava terminado. Ruíra o dispositivo militar do Presidente. Ninguém moveu ou esboçou resistência em defesa de Goulart, ou de suas reformas.

Na tarde do dia 2 de abril de 1964, mais de um milhão de pessoas lotavam as ruas e praças centrais do Rio de Janeiro. A população irmanada - operários, estudantes, senhores idosos e crianças, todas as profissões, todas as categorias sociais e todos os credos - reunia-se na maior manifestação que o Brasil jamais vira. Chuvas de papéis picados, jogados dos edifícios, atapetavam de branco as ruas e calçadas. Bandeiras brasileiras coloriam o espetáculo. Faixas repudiavam o comunismo. Em cima dos carros, pessoas carregavam flores, rejubilando-se pela vitória da democracia. Os jornais do dia saudaram a retomada da democracia. As rádios e canais de televisão cobriam a manifestação, transmitindo para todo o país os discursos inflamados.

Era a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", um movimento de cunho nacional em defesa do regime e da Constituição e que já se realizara, com êxito, em São Paulo, Belo Horizonte, Santos e Porto Alegre. Programada com antecedência, no Rio de Janeiro, transformara-se, de protesto contra o caos do governo anterior, em júbilo pela vitória da democracia.