3ª Parte - Capítulo I
1964

1. O ideário da Revolução de Março

"A fatalidade das revoluções é que sem os exaltados não é possível fazê-las e com eles é impossível governar".
JOAQUIM NABUCO

A Revolução de 31 de Março de 1964 resultou de uma excepcional reação da sociedade brasileira à corrupção, à subversão, à estagnação econômica, à espiral inflacionária e à insegurança política e social, e cristalizou-se na manutenção do regime democrático.

Em torno dessa aspiração, aglutinaram-se forças as mais heterogêneas, reunindo pessoas e entidades de tendências políticas até antagônicas. Deste ponto de vista, o movimento democrático de 1964 foi uma simples contra-revolução, que quebrou a trajetória da tomada do poder pelos comunistas.

O despertar da sociedade brasileira e seu desejo de preservar a democracia - para ela representando sua filosofia de vida - é que induziram a adesão das Forças Armadas e possibilitaram sua interferência no processo subversivo em curso. Mas, foi a força psicológica e, ao mesmo tempo, objetiva dessa aspiração generalizada, que fez desmoronar o sistema político-militar de Goulart e permitiu que o processo de tomada do poder fosse interrompido sem derramamento de sangue, sem patíbulos e sem "paredones".

As forças vitoriosas, porém, estavam perplexas ante o rápido desfecho. Não tinham preparo ideológico e nenhum plano político definido. Entretanto, os objetivos traçados pelo General Castelo Branco e enviados no final de março aos chefes militares, dos quais buscava apoio para o movimento revolucionário em gestação, conjugados com os contidos nos pronunciamentos à Nação feitos no curto período de atuação do Alto Comando Revolucionário, eram pontos básicos sobre os quais havia uma concordância quase unânime e sintetizava o ideário da Revolução.

Segundo essas ideias, a restauração da legalidade seria concretizada:
- pelo restabelecimento da composição federativa da Nação;
- pela ação contra a subversão que ameaçava a democracia, através do desmantelamento dos planos comunistas de tomada do poder;
- pelo reforço das instituições democráticas ameaçadas, onde se incluía a defesa da instituição militar solapada ao longo dos últimos anos;
- pela luta contra a corrupção, punindo os que se haviam enriquecido ilegalmente;
- pelo restabelecimento da ordem e da tranqüilidade da Nação; e
- pelo advento de reformas legais, que garantissem o desenvolvimento do País e proporcionassem melhores condições de vida para o povo.

Desse ideário, pode-se concluir que o movimento revolucionário não desejava, como em episódios anteriores, tornar-se, apenas, uma intervenção movida por meras injunções de política partidária e interesses de grupos. Tratava-se, na verdade, do atendimento de uma clara opção ideológica do povo brasileiro pela democracia, o que iria nortear as decisões tomadas daí em diante