3ª Parte - Capítulo I
1964

3. A eleição de Castelo Branco

O General Humberto de Alencar Castelo Branco foi eleito com a quase unanimidade dos sufrágios, obtendo 361 dos 388 votos que compunham o Colégio Eleitoral, e empossado em 15 de abril de 1964.

Na noite de 1º de abril, os principais Governadores que haviam apoiado a Revolução reuniram-se no Rio de Janeiro, representando todos os Partidos, com exceção do PTB, e acordaram que o Chefe do Governo Revolucionário deveria ser um militar. Como escreveria mais tarde o Governador Carlos Lacerda, "a fim de garantir a unidade das Forças Armadas, impedir uma eventual usurpação e evitar uma competição entre políticos numa hora delicada para o País".(1)

A Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo enviaram telegrama ao Senado, solicitando a eleição de um chefe militar.(2)

A Sociedade Rural Brasileira publicou um manifesto, exigindo um militar para presidente e pedindo expurgos políticos. A União Cívica Feminina também fez publicar seu manifesto, no qual exortava a consolidação da Revolução pela eliminação da corrupção e do comunismo e endossava a escolha de Castelo Branco porque era "um general sem ligações políticas".(3) No mesmo tom, "O Estado de S. Paulo" publicou um editorial onde defendia a escolha de um presidente militar, para varrer os comunistas, e dizia que o País precisava de um homem "sem ligações políticas".(4)

Castelo assumia o poder com o apoio civil, demonstrando "o estado de apreensão e a perda de confiança de muitos representantes das classes assalariadas e dos grupos empresariais, bem como de políticos de direita e de centro", num presidente civil, embora mais tarde a maioria retirasse seu apoio ao governo.(5)

Castelo Branco era um líder militar que, como chefe do Estado-Maior do Exército e pela autoridade reconhecida, se tornara o líder do movimento de 1964. Todavia, era desconhecido para o País. Poucos haviam ouvido, antes, o seu nome, embora não tivesse passado despercebido à acuidade política de Tancredo Neves que, em novembro de 1963, dissera a um grupo de políticos: "Se houver alguma complicação maior neste País, o nome que vai surgir como estrela de primeira grandeza é o de nenhum desses generais que andam dando entrevistas. Quem vai aparecer é o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Castelo Branco".(6)

Voltado para a profissão e dotado de profundo sentimento legalista, para Castelo Branco a revolução "visava a repor a Nação na ordem jurídica consentânea com as aspirações e realidades, estabelecer a ordem pública , dignificar o comportamento ético na administração do País e superar as diversidades socioeconômicas regionais, a fim de que o Brasil amadurecesse como nação integrada e desenvolvida". Como diz Luiz Vianna, Castelo estava "convicto de que afastado Goulart e eliminados da vida pública alguns elementos perturbadores, governaria com tranquilidade, mantida toda a ordem jurídica".

Os problemas que lhe esperavam, porém, eram enormes. A primeira condição, para a estabilidade e para a retomada do desenvolvimento, consistia em repor a ordem no País. Mas, caber-lhe-ia, também, estabelecer uma estratégia para o desenvolvimento e assegurar o apoio político à estratégia adotada.

A par desses inúmeros problemas, caberia, ao Presidente recém-eleito, encontrar o ponto de equilíbrio entre as diferentes correntes revolucionárias.


(1) Lacerda, C.: "Análise de uma Provocação", Tribuna da Imprensa de 26 de agosto de 1967.

(2) "O Estado de São Paulo", de 5 de abril de 1964.

(3) "O Estado de S. Paulo", de 4 de abril de 1964.

(4) "Editorial de "O Estado de S. Paulo", de 5 de abril de 1964.

(5) Alfred, S.: "Os militares na política", Ed. Artenova, RJ, pág. 133

(6) Vianna Filho, I.: " O Governo Castelo Branco", Liv. José Olímpio editora, 1975, Vol. I, pág (ilegível)