3ª Parte - Capítulo I
1964

11. Brizola e a "Operação Pintassilgo"

Após a Revolução de Março, a maioria dos subversivos e inconformados políticos foi para o Uruguai. A proximidade do Rio Grande do Sul, visualizado como o principal foco de resistência, oferecia condições seguras para que fosse feita uma avaliação da situação e realizado o planejamento das maquinações revanchistas. A fronteira seca favorecia o contato permanente entre os asilados e aqueles que, atingidos por atos revolucionários, não se sentiam ameaçados a ponto de abandonarem o País.

Ainda em abril de 1964, Leonel Brizola, do Uruguai, espalhou, com a estultícia que lhe era peculiar, que, até dezembro, estaria de volta ao Brasil, na "crista de um movimento insurrecional".

Entretanto, refletindo a crise das esquerdas, os asilados dividiram-se em três grupos: um sindical, um militar e um terceiro, liderado por Brizola.

A tentativa de formar-se uma frente esbarrou no jogo de interesses e na inconciliável luta que envolvia a vaidade pessoal dos lideres. No entanto, a "cadeia da legalidade", frustrada tentativa de Brizola para conter o Movimento de Março, dava-lhe uma ascendência natural sobre os outros dois grupos.

Foi montada, então, no Uruguai, a "Operação Pintassilgo", que deveria ser desencadeada no aproveitamento da crise de Goiás, em pleno desenvolvimento (12). Seriam atacados diversos quartéis, tomada a Base Aérea de Canoas, no Rio Grande do Sul, e os aviões da FAB seriam utilizados para o bombardeamento do palácio Piratini.

A prisão em Porto Alegre, em 26 de novembro de 1964, do Capitão-Aviador cassado, Alfredo Ribeiro Daudt, abortou a operação e todos os seus planos caíram em poder da polícia. Diversos elementos da Aeronáutica foram envolvidos, aliciados pelo Tenente-Coronel Reformado Américo Batista Moreno e pelo ex-Sargento Santana.

Anos mais tarde, em 1982, em entrevista concedida na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, o ex-Coronel Jefferson Cardin de Alencar Osório acusou Brizola de ter sido o responsável pela "Operação Pintassilgo". Do Uruguai, no conforto de suas estâncias, Brizola enviava os ingênuos para as ações que ele próprio não se propunha a executar.


(12) Em novembro, desenrolava-se a crise envolvendo Mauro Borges, Governador de Goiás, acusado desde os primeiros meses após a Revolução, de um processo de comunização no Estado, com a participação de estrangeiros e militares cassados.