3ª Parte - Capítulo I
1964

13. As primeiras denúncias de torturas

Em setembro de 1964, iniciaram-se, em uníssona orquestração, as primeiras denúncias sobre maus tratos físicos e morais que estariam sendo infligidos aos presos políticos. Alguns jornais, como o "Correio da Manhã", através 'de Márcio Moreira Alves e o "última Hora", chegaram a indicar locais onde estariam ocorrendo as pretensas torturas, sendo citados a Base Aérea de Cumbica, o Hospital Central do Exército, os órgãos policiais de Recife, a prisão da ilha de Fernando de Noronha, o navio-presídio "Raul Soares", fundeado no porto de Santos, e o quartel da policia do Exército (PE), no Rio de Janeiro, que abrigava os presos envolvidos no "caso dos chineses".

Considerando intoleráveis as práticas denunciadas, o Presidente Castelo Branco, em nota oficial lida na Câmara dos Deputados, designou o seu próprio Chefe da Casa Militar, o General Ernesto Geisel, para "buscar minuciosas informações para a adoção de providências imediatas e assegurar a vigência de todas as franquias constitucionais".

Durante urna semana, Geisel viajou a Recife, Fernando de Noronha, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Nas visitas aos presos, fez-se acompanhar de juristas, de políticos - inclusive da oposição, de jornalistas, de representantes da OAB e da ABI, além de de outros interessados.

Em Recife, nomeou-se uma comissão composta pelo desembargador Adauto Maia, presidente do Tribunal de Justiça, pelo advogado Carlos Moreira, presidente da Ordem dos Advogados, pelo jornalista Reinaldo Câmara, presidente da Associação de Imprensa, por Guerra Barreto, Procurador do Estado, e por Felipe Coelho, presidente da Assembleia Legislativa.

No Rio de Janeiro, os chineses receberam as visitas do Embaixador da Indonésia e de uma comissão da Cruz Vermelha, ocasião em que foi atestado que recebiam bom trD.tament.oe gozavam de ótima saúde (16).

Em São Paulo, altas personalidades locais, entre as quais o Presidente da Assembleia Legislativa, o Presidente da Seção da Ordem dos Advogados,' representantes da Imprensa e autoridades eclesiásticas, ouviram os presos da Base Aérea de Cumbica.

As investigações, nos próprios locais denunciados, conduziram à conclusão da inexistência de torturas.

Na Câmara de Recife, o deputado Andrade Lima, do PTB, testemunhou pela isenção da comissão nomeada para apurar os fatos.

O jornalista Edmundo Morais, do "Diário de Pernambuco, assim reportou a sua visita a Fernando de Noronha: As autoridades, na ilha-prisão, deixaram-nos à vontade para ver, ouvir e fotografar durante mais de uma hora. Nós e os presos. Sem ninguém por perto. Os torturados - um ex-governador de Pernambuco (que nos acompanhou de volta ao continente, sentados lado a lado e a palestrar todo o tempo), um ex-governador de Sergipe e outros que seriam um grupo de 15, se a lembrança não nos mente - disseram como viviam: banho de sol, banho de mar, exercícios ao ar livre, rancho na cantina dos oficiais, nenhum vexame de ordem física ou moral. A sofrer, como era óbvio, o constrangimento da prisão apenas, a prisão insular".

Entretanto, essas comprovações não impediram o constante surgimento de novas denúncias, partidas de esquerdistas no País e no exterior.


(16) Após a Revolução, foram presos nove agentes chineses, sete dos quais se apresentavam como membros de uma "missão comercial" desconhecida e dois como correspondentes da Agência de Notícias Nova China. Com eles, foram apreendidos planos pormenorizados de assassinatos e grande quantidade de moeda estrangeira. Estes chineses, mais tarde, foram expulsos do país.