3ª Parte - Capítulo I
1964

15. Influências marxistas na Igreja

Em março de 1964, um grupo de teólogos reuniu-se em Petrópolis, no Rio de Janeiro, para refletir sobre os problemas da população latino-americana. Levados pelo afã das coisas novas, pretendiam criar uma a nova teologia, que centralizasse todo o pensamento teológico no homem. Na ocasião, estava também acentuado, de modo especial, o caráter libertador do cristianismo, o que os levou a concentrar todo o pensamento dessa nova teologia antropocêntrica" no problema da libertação. Esse pensamento, marcado por influências marxistas, viria servir de arcabouço para uma teologia chamada de "libertação", que, tolerando muitas correntes neomodernistas - que pretendem reduzir o estudo teológico à sociologia, ou à política -, em pouco tempo assumiria o caráter de uma ideologia política e profana.

Esse grupo de teólogos, entre os quais se destacavam Joseph Pierre Comblin c Gustavo Gutiérrez, voltaria a se reunir em 1965 e 1966 e iria influir, com suas concepções marxistas, na II Assembléia Geral do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), realizada em Medellin, na Colômbia, no ano de 1968.

Em quase todos os trabalhos em que a influência marxista se faz presente, há um aspecto comum a pretensão de identificar o "socialismo" com o Reino de Deus na Terra". Essa associação de idéias surgiu logo apos a primeira Guerra Mundial, apresentada por Karl Barth, teólogo protestante de grande influência e um dos primeiros que começaram a construir pontes entre o cristianismo e o marxismo. Barth defendia esse elo, baseado em sua tese de que ambos teriam·a mesma finalidade: a construção de uma nova sociedade. Barth, que era membro de um partido socialista-marxista, pretendeu com sua tese aproximar estas duas visões do futuro feliz na Terra.

As diferentes correntes de marxistização da teologia provêm exatamente da teologia de Karl Barth. Elas empenham-se em convencer os cristãos de que eles e os marxistas buscam a mesma coisa: construir uma sociedade fundada na igualdade, na justiça e e na fraternidade. A questão seria apenas de semântica. O que os cristãos chamam de "Reino de Deus na Terra", os comunistas chamariam de "sociedade socialista" (19). Se ambos têm o mesmo objetivo, devem trabalhar juntos para alcançá-lo. Ademais, procuram convencer os cristãos de um dos seus dogmas: que o único caminho que leva a esse fim é a revolução marxista-leninista. Donde se conclui que os cristãos devem comprometer-se com essa revolução.

A influência marxista na teologia não se restringe à idéia do "Reino de Deus na Terra". Começa, na verdade, com o "saduceísmo do século XX", isto é, o revigoramento da idéia dominante na seita judia dos saduceus, que não acreditavam na ressurreição, sendo que a corrente "saduceia" moderna nega a existência da vida eterna, depois da morte. Segue-lhe a corrente do "cristianismo ateu", segundo a qual o cristianismo primitivo nada tem a ver com a religião, nem com a fé, pois é somente um movimento laico revolucionário. Tanto Moisés quanto Jesus foram grandes lideres políticos. Jesus pretendia não só livrar o povo judeu da dependência romana, mas também livrar cada homem da opressão e exploração das estruturas capitalistas. Como estas, existem muitas outras correntes do pensamento teológico que contribuíram para a marxistização da teologia, tais como: a do cristianismo horizontal; a da fé sem religião; a do cristianismo sem mitologia; e a do cristianismo marxista. Dessa influência surgiram as pretensas teologias, como as da revolução e da violência.

Essas idéias, que traduzem de forma simplista a influência marxista sobre o pensamento cristão, já não eram um fenômeno marginal e, no início da década de setenta, tornar-se-iam dominantes na América Latina. Essa influência não decorre somente de idéias, mas também da infiltração de pessoas, e não se faz sentir apenas de forma teórica, na teologia, mas avança na prática, com uma influência muito forte na liturgia e na pastoral. Não é pois de estranhar que venhamos encontrar ao longo dos anos sessenta e seguintes, cada vez mais, pastores da "nova Igreja" apoiando e até participando de organizações subversivas e de atos terroristas.


(19) Na realidade, a sociedade defendida por Barth aproximava-se mais da sociedade comunista, já que na sociedade de sua concepção não há lugar para a instituição do Estado e nem para a Igreja. (Infiltração Marxistas na Igreja, Miguel Poradowski (ilegíve) Ed, Sepes, pág 9 e 10)