4ª Parte - Capítulo II
O PROJETO DO CLERO DITO PROGRESSISTA

1. A infiltração marxista

Existem inúmeros trabalhos que se ocupam do processo do marxistização da Teologia. Um dos mais interessantes, mas nem por isso completo, é o do sacerdote polonês Miguel Poradowski (1). Ele apresenta o que denomina etapas da marxistização, iniciando pela corrente "saduceia" que é constituída pelos cristãos que crêem em Deus, amam-nO e O servem, mas não crêem na vida após a morte. Há muito da influência saduceia na "teologia da morte de Deus". Seus seguidores estão muito próximos dos marxistas, com eles se entendem facilmente e com eles colaboram. Introduzida essa corrente na Igreja, tanto na Teologia como na Pastoral e na Liturgia, constitui uma excelente preparação para as etapas posteriores. Procura-se com ela acostumar os cristãos a concentrarem a sua vida, exclusivamente, sobre o temporal, aproximando-os dos marxistas (2).

A etapa seguinte da evolução do processo está ligada à imagem do "Reino de Deus na Terra". Partindo dessa imagem , o teólogo protestante Karl Barth constituiu uma ponte mais sólida entre os cristãos e os marxistas, desenvolvendo a tese de que ambos têm a mesma finalidade: "a construção de uma nova sociedade do futuro". Os cristãos concebem essa sociedade como "Reino de Deus na terra", os marxistas, como o "socialismo" ou o "comunismo". A posição de Barth é em muitos pontos idêntica à de Marx, como por exemplo, a referente ao "desaparecimento" da instituição do Estada precedendo a sociedade ideal da futuro, o que é característica fundamental da sociedade comunista.

O problema do "reino de Deus na terra" foi objeto de vários enfoques. Um deles que lhe deu novo e forte impulso, ocorreu imediatamente após o Concílio Vaticano II, com "A Teologia da Esperança" de Jurgen Moltmann, outro teólogo protestante. A esperança de um porvir melhor, dirigido a um fim concreto, temporal e terreno é um catalisador das energias humanas esteja vinculada ou não à religião. Este é no fundo o mesmo problema de que se ocupara Barth, sob mm ponto de vista mais atraente, considerando a esperança como o motor da vida, como elemento dinâmico. A esperança como confiança, quase certeza, de que o homem pode, aqui, na terra, construir uma sociedade ideal do futuro, que será uma realização tanto do conceito cristão do "Reino de Deus na terra", quanto do conceito marxista de uma sociedade comunista. Como quase ninguém se pergunta e a grande maioria desconhece, se o "Reino de Deus na terra" está mais próximo no Quênia, na Tanzânia socialista, na Costa do Marfim, na pobreza socialista da vizinha Guiné, na Tailândia, em Cingapura ou na Coréia do Sul do que no Camboja, na Coréia do Norte ou na Nicarágua, para não falar no Japão e noutros países desenvolvidos, fica imanente que esse "Reino" só poderá ser construído pelo socialismo.

Fica claro que a marxistização da corrente teológica católica se deu através da protestantização, o que vale dizer que a protestante está igualmente marxistizada.

Outra: "teologia" que aproxima os cristãos do marxismo é a do "cristianismo horizontal". Antropocêntrica, essa ideologia elimina a cruz como símbolo. Para a Teologia católica a cruz é seu símbolo: seu tronco, isto e, a direção vertical simboliza o amor do homem a Deus e de Deus ao homem, enquanto seus braços, isto é, a direção horizontal, indicam as consequências desse amor: sua projeção até o próximo. Para essa "nova teologia" o braço vertical não existe, pois está concentrada totalmente sobre o homem, sobre o horizontal. O essencial no cristianismo é o amor a Deus, mas sua consequência se expressa no amor ao próximo - amar a Deus no próximo. Para o "cristianismo horizontal," na prática, Deus não existe e Jesus é apresentado como um homem que sacrificou sua vida pelos demais, por motivos puramente humanos, corno expressão da solidariedade humana. Dai porque o comparam a "Che" Guevara e outros. Muitas congregações religiosas que assimilaram esse pensamento, concentram-se no trabalho exclusivamente laico e temporal, por sacrificado que seja. Transformando-se em associações laicas de beneficência muito freqüentemente estão comprometidas em atividades subversivas, colaborando ativamente como os movimentos marxistas revolucionários (3).

Suas homilias, e isso é comum entre nós, versam quase exclusivamente sobre temas sócio-econômicos . As funções litúrgicas são por eles transformadas em cerimônias laicas, com sentido meramente sociológico. O "cristianismo horizontal", diz Poradowski, "manifesta-se nas orações e cânticos litúrgicos compostos para a circunstância. As igrejas são transformadas em "casas do povo". Até a Santa Missa fica reduzida a uma assembléia do povo, frequentemente com a participação ativa até de pessoas ateias..."


(1) Os trabalhos de Poradowski foram publicados no Brasil no nº 19 da Revista "Hora Presente". Nessa mesma revista são também encontradas duas entrevistas, nos seus nº 17 e 18, respectivamente, do Cardeal D. Agnelo Rossi (Evangelização e Secularismo) e do Cardeal D. Joseph Holtner (O evangelho do paraíso terrestre) que localizam outros aspectos deste mesmo tema.

(2) No item 15, Cap 1 da 3ª Parte deste trabalho, sob o título "Influências marxistas na Igreja" já abordamos alguns aspectos desta mesma questão.

(3) Poradowski - Ob citada (...ilegível...)