4ª Parte - Capítulo II
O PROJETO DO CLERO DITO PROGRESSISTA

2. As linhas do clero

Como decorrência dessas influências continuadas do marxismo e sua atuação no seio da Igreja, que vai da exploração de ambições pessoais até a infiltração em seminários e universidades religiosas, no final da década de sessenta os estudiosos do assunto consideravam que o clero comportava três linhas bem definidas, quanto às ideais que esposa e às atividades que desenvolve: conservadores tradicionalistas, reformistas e progressistas.

Quanto ao pensamento e ação dos tradicionalistas parece desnecessário qualquer esclarecimento, pois a designação fala por si.

Os Reformistas têm como principal característica a adaptação da Igreja às condições modernas, sob a orientação das encíclicas e em obediência à autoridade eclesiástica. Agem na linha das tradicionais missões da Igreja, visando à construção de uma civilização cristã orgânica, alicerçada num sistema religioso autônomo e nos recursos próprios. Julgam que a Igreja deve considerar a cidade - teatro no qual o Reino de Deus se realiza - os problemas e as inquietações que ela suscita para os cristãos. Mas consideram que a Igreja pode e deve ter uma orientação apenas ética com relação aos assuntos políticos e não uma orientação partidária. Eticamente a Igreja deve apontar as injustiças e as iniquidades, não justificando a inércia da sociedade diante de situações de miséria que são incompatíveis com a dignidade humana.
Consideram impossível conciliar marxismo e cristianismo.
Outra característica marcante deste grupo é acreditar que os instrumentos para conscientizar as massas são a Fé e a Esperança e jamais o Ódio e o Desespero.

Consideram os problemas sociais de máxima importância e procuram a cooperação laical para solucioná-los. Dentro da opção pelos pobres feita pela Igreja, não exclusiva e nem excludente, procuram posição de conciliação entre classes, que leve a sociedade ao progresso, como é tradição de sua doutrina social, com fundamentos nas encíclicas "Rerum novarum" e "Quadragésimo Anno".

Os Progressistas à essa época, quando a "teologia" da libertação ainda estava em gestação, já eram considerados, de forma genérica, como "integrados de várias maneiras ao socialismo". Embora sem definir que tipo de socialismo, dizia-se que essa integração era radical, tanto assim é que Pierre Valain, ao apresentar as tipologias sociais do episcopado brasileiro, caracterizou-o como extremista.

Considera a justiça social impossível na conjuntura moderna, assentada, segundo afirmam, na iniquidade de um sistema econômico falso e de uma estrutura social anti-cristã. Aconselham mesmo em trecho da "Mensagem de 17 bispos do Terceiro Mundo" dos quais 7 signatários são brasileiros, a subversão e a luta de classes.

Ao referir-se a esse grupo, Valain diz: "sua trajetória, em que pese buscar polos diferentes dos comunistas (sic), tem pontos que se entrelaçam, sendo pois aliados que percorrem caminhos comuns, cada vez mais difíceis de serem distinguidos". São atraídos para os poderes temporais que almejam obter. Intrometem-se na vida econômica e política das nações inclusive com participação político-partidária. Acusam as autoridades democráticas de incapazes e procuram desprestigiá-las.

D. Antônio Batista Fragoso, Bispo Diocesano de Crateús, um dos signatários do manifesto antes referido, afirmava à época que "Cuba deve ser o exemplo para a América Latina" e convidou Crateús a "transformar sua Diocese numa pequenina ilha de Cuba".

Essa tipologia é aceita, pelo menos pelos progressistas. O ex-padre Hugo Assmann, "um dos mais radicais protagonistas da teologia da libertação", ao referir-se às divergências no seio da Igreja, afirma que o "verdadeiro abismo, a verdadeira discrepância de fundo, não e o existente entre cristãos rudemente tradicionalistas de um lado e os cristãos reformistas pós-conciliares de outro, mas o que existe entre estes e os cristãos revolucionariamente comprometidos.