4ª Parte - Capítulo II
O PROJETO DO CLERO DITO PROGRESSISTA

3. A teologia da libertação

Essa teologia surgiu em meados dos anos sessenta, prosperou e se fez sentir nos documentos da Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM), realizada em Medellín/Colômbia" em 1968, que traduziu seu radicalismo intelectual.

Proclama e insiste no seu caráter especificamente latino-americano, embora sustente-se claramente em teólogos europeus, protestantes e católicos.

Seu postulado fundamental é que constituímos (a América-Latina) "um mundo dominado, oprimido e explorado pelo capitalismo ocidental". Baseia-se na famigerada doutrina da dependência. Segundo esse corolário marxista, "a riqueza de uns é baseada, sustentada e explorada pela pobreza dos outros. Parte suas análises da disjuntiva - países subdesenvolvidos e países imperialistas. Transporta essa disjuntiva do plano internacional para a relação entre as classes de uma mesma nação, onde identifica os "exploradores" como a personificação do capitalismo, de "riqueza à custa da miséria".

Sintetiza, como se pode perceber, toda a influência marxista sofrida pela teologia. Seu discurso, antropocêntrico, deixou de ser teológico, é sócio-político-ideológico. Sua semântica é marxista e sua principal característica talvez "seja seu conteúdo utópico, algumas vezes admitido francamente".(4)

O padre peruano Gustavo Gutierrez, o mais importante teólogo da libertação, confessa-se marxista. Acredita que o "Reino" realiza-se aqui na terra, numa sociedade "justa", o que quer dizer, "numa sociedade socialista, sem classes e sem propriedade. (5)

O brasileiro Hugo Assmann, ex-padre, é o mais conhecido e radical teólogo da libertação patrícia. Assmann ataca o "reformismo" e a "terceira via", alegando que ela desvia a atenção do que é essencial, a Revolução. Considera os reformistas da Igreja "ingênuos ou reacionários". Ao criticar o padre Vekemans, SJ, que defendeu a idéia de que o subdesenvolvimento pode ser superado por medidas reformistas, diz "o que se deve é fazer ciência nova, subversiva, rebelde, guerrilheira e politizada" e não procurar "saídas terceiristas, tais como capitalismo de Estado, multiplicação de polos de dependência, etc".

O marxismo desses senhores, diz o embaixador Meira Penna "não é apenas num sentido platonicamente ideológico"... "porém no sentido muito definido da "práxis" de violência, de luta de classes, de revolução social totalitária e da subversão do que denominam eles, de um modo geral, as "estruturas".(6)

"Os teólogos da libertação, ou pelo menos alguns deles, como Gutierrez e Assmann, sustentam a necessidade do empenho em uma "práxis" radical que incida sobre o nível estrutural, sócio-econômico, para transformá-lo. Não se trata assim de um programa reformista - que eles violentamente condenam, mas de uma "práxis" que se propõe deliberadamente a modificar o sistema vigente, se necessário por métodos que violam a legalidade". (7)

"O tipo de socialismo que, do princípio ao fim, pregam em suas obras não é chamada social-democracia, que vigora em muitos países da Europa Ocidental. A condenação irrestrita da propriedade privada, manifestada em seus livros, não deixa dúvidas quanto a isso e tampouco a constante citação de Marx e seus discípulos". (8)

Para Assmann e isso é importante, "não se trata somente de ser marxista, mas de ser marxista em nome da fé". Isto é, valer-se de seu valor simbólico - a nível público e social, o peso sociológico e místico do sacerdote ainda é determinante - e de todo instrumental da Igreja".


(4) Respondendo, a 29 de junho de 1980, à pergunta de um estudante "sobre qual a libertação que defende a Igreja Brasileira", D. Paulo Evaristo Arns preconizou "uma utopia prática". Citação retirada de Penna J. O de Meira - "O evangelho segundo Marx" - Editora Convívio - S. Paulo, 1982 pg 51.

(5) Pena J. O. de Meira - Ob citada pg 37.

(6) Pena J. O. de Meira - Ob citada pg 16.

(7) Pena J. O. de Meira - Ob citada pg 32.

(8) Pena J. O. de Meira - Ob citada pg 12.