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18/08/08

• Editorial de Alice Ramos: "Supertele ameaça estado democrático de direito"

----- Original Message -----
From:
Helio Rosa
To: Celld-group@yahoogrupos.com.br ; wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Sent: Monday, August 18, 2008 6:56 PM
Subject: Editorial de Alice Ramos: "Supertele ameaça estado democrático de direito"
 
Olá, ComUnidade WirelessBRASIL!
 
01.
Antes, uma informação "de expediente".  :-)
Estamos com sobrecarga "no particular" e, em conseqüência,  há um atraso na "blogagem" de mensagens em nosso
BLOCO.  :-)
Contamos com a compreensão de todos!
 
02.
Transcrevemos abaixo o novo Editorial da jornalista Alice Ramos, nossa participante e "publisher" do Portal AliceRamos.com.
 
Trata-se de mais um texto de "coragem" e merece toda nossa atenção.

Estamos vivendo "neste país" um momento de "quase exceção" em que críticas ao governo e seus órgãos são feitas com muito cuidado e parcimônia devido à uma estranha sensação de "patrulhamento".
No entanto, a "crítica" é uma atividade básica de uma democracia, para aperfeiçoamento das instituições.
Num país com governo "não aparelhado" por um partido político, certamente estaríamos elogiando outros atributos de jornalistas, nunca sua coragem.
Infelizmente, é a nossa realidade.

Alice Ramos é uma "Senhora" e uma "senhora jornalista" e merece todo nosso respeito!
Parabéns, Alice Ramos!

03.
Recortamos do "Quem Somos" do "AliceRamos.com:
(...) Trata-se do primeiro Site autoral brasileiro, com formato diferenciado e voltado para o mercado corporativo, estando agora sendo direcionado também, para médias empresas, que passaram a investir em TI. Foi criado em 2002 pela jornalista, Publisher e colunista Alice Ramos, que esteve por mais de 17 anos à frente das diretorias de Marketing e Comercial da IDG Computerworld do Brasil - a maior editora do mundo em publicações de Tecnologia da Informação, além de ter dirigido publicações pioneiras na área da informática brasileira, tais como: Revista Dados e Idéias , a primeira do setor criada pelo Serpro, e posteriormente adquirida pela Gazeta Mercantil. Lançou ainda, a Revista Info no Jornal do Brasil (atual Info Exame). Em 2007 foi premiada pela ASSESPRO como Personalidade do ano. É também colunista do site ADNews. (...)
 
Escrevam para Alice Ramos! aramos@aliceramos.com
 
04.
Transcrevemos abaixo, na íntegra:
 
Fonte: AliceRamos.com
[17/08/08]   Supertele ameaça estado democrático de direito por  Alice Ramos
 
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
 
-----------------------------
 
Fonte: AliceRamos.com
[17/08/08]   Supertele ameaça estado democrático de direito por  Alice Ramos
 
Quando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes concedeu dois habeas corpus seguidos a Daniel Dantas – conhecido lobista da privatização da telefonia - logo após ter sido preso pela Polícia Federal na Operação Satiagraha, a ordem democrática e o estado de direito sofreram forte desgaste.
 
Em primeiro lugar, a população que já andava desconfiada da isenção do Poder Judiciário quando se trata de julgar processos movidos por pessoas da alta sociedade, agora passou a ter certeza que, pelo menos no STF, a justiça está a serviço da elite econômica e trata-se mesmo de um tribunal dos ricos.
 
Segundo, o efeito do hábeas corpus, foi muito além de libertar Daniel Dantas da cadeia, uma vez que:
 
1) Deu a entender que o Poder Executivo tem muito mais influência sobre o Poder Judiciário do que se imaginava.
 
2) Reforçou a percepção coletiva que o STF é uma instituição definitivamente encastelada fora da realidade da sociedade brasileira, pouco ou nada se importando com o sentimento de impunidade que emerge da opinião pública. Sobretudo se tratando de um investigado da Justiça, que foi libertado por duas vezes em decisões ultravelozes. Coisa que dificilmente ocorreria se o acusado não fosse Dantas.
 
3) Revoltou vários setores da sociedade organizada, entre eles juízes e promotores, que reprovaram a atitude do STF por suprimir o julgamento pelo menos duas instâncias inferiores, com a finalidade de proporcionar, a qualquer custo, a liberdade a Daniel Dantas. Essa pressa em expedir os hábeas corpus causou estranheza e insuflou ainda mais a idéia de: quanto mais rico o réu for, maior a indulgência por parte das autoridades.
 
Ora, sendo assim, por mais que representantes da suprema casa venham a público tentar esclarecer que nenhuma lei foi violada, é compreensível que a incredulidade da nação só faça aumentar.
 
Quando os demais ministros do STF apoiaram Gilmar Mendes em desagravo à sua pessoa, isso não reduziu a má impressão que pairou sobre o caso.
 
Mesmo porque o próprio Daniel Dantas foi quem disse que contava com facilidades no Supremo. Ele podia estar mentindo, porém Dantas não é marinheiro de primeira viagem, e já demonstrou ter fortíssimas relações com o poder. Daí suas afirmações não serem algo que se possa desprezar.
 
A agravante porém - e para a perplexidade de todos – foi tudo isso ter sido confirmado imediatamente. Primeiro através das declarações do presidente do STF que manifestara sua discordância com a prisão, antes mesmo de expedir os HCs.
 
Essas alegadas “facilidades”, se é que existiram, até o momento não foram devidamente esclarecidas. Contudo não tocar mais no assunto (coisa que inclusive a imprensa também vem fazendo) não afastará o questionamento, pelo contrário.
 
Pequena parte da imprensa que também parece contar com facilidades governamentais, ficou igualmente calada a respeito desse detalhe. Sem contar os balões de ensaio apócrifos que freqüentemente surgem nos veículos de grande circulação, dando conta do êxito da operação de fusão BrOI, porém isso não é verdadeiro. A fusão ainda é ilegal.
 
Para que a criação da BrOI não se torne fraudulenta, o Plano Geral de Outorgas (PGO) deverá ser isonômico e abrir a oportunidade de fusão para outras operadoras também. As regras da telefonia celular precisarão ser alteradas, e a concentração deverá ser permitida para as demais teles.
 
O calcanhar de Aquiles do PGO tem sido justamente isso. Não se trata de simplesmente alterar a lei. Se fosse assim já o teriam feito. O governo federal provavelmente anda ensaiando fazer uma alteração que favoreça somente a OI e a Brasil Telecom, e impedindo outras fusões.
 
A demora se dá porque ainda se contorcem num malabarismo jurídico para viabilizar uma lei que dê suporte a tais objetivos. Legislação esta que não conseguirão aprovar a menos que apliquem um golpe de estado.
 
Se fizerem a tal mudança, discriminando os outros players, o governo não somente atropelará a legislação, como precisará contar com o apoio do Congresso Nacional para promulgar (isto mesmo, promulgar) algo nesses termos, e com o STF para referendá-la como constitucional.
 
Num regime democrático semelhante manobra seria equivalente ao Ato Institucional Número Cinco (AI-5), do tempo da ditadura. O ato foi redigido pelo presidente Artur da Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968, em resposta a um episódio menor: um discurso do deputado Márcio Moreira Alves pedindo ao povo brasileiro que boicotasse as festividades do dia 7 de setembro.
 
Aquele decreto maldito foi o resultado de várias ações, declarações, manobras e disputas ambiciosas envolvendo poder e dinheiro. Com tudo isso a classe política da época fortaleceu a chamada linha dura do regime instituído pelo Golpe Militar.
 
O AI-5 foi um instrumento que deu ao governo federal militar poderes absolutos, para impor as leis, suspender garantias individuais, violar a privacidade alheia, os lares dos cidadãos, destruir vidas e famílias, e desaparecer com outros tantos, sem que houvesse qualquer interferência do Poder Judiciário. A primeira conseqüência do AI-5 foi o fechamento do Congresso Nacional por quase um ano.
 
Se o governo aprovar uma lei que favoreça somente a supertele BrOi, impedindo que outras façam o mesmo, nada garante que o Poder Executivo não adote semelhante medida em todos os casos que antes só conseguia fazer por decretos-lei, ou medidas provisórias. Isso acarretaria em ruptura total do regime democrático de direito.
 
Não se iludam, quem pensa que deputados federais e senadores não seriam capazes de aprovar tal abominação se isso lhes interessar, mesmo que desemboque no fechamento do Congresso.
 
Quem entende a atual conjuntura política somente como estado da baderna e da impunidade, comete um equívoco fatal. Não existe desorganização entre corruptos.
 
Bom que se diga claramente: nem todos os parlamentares que se calam a respeito do imbróglio BrOi o fazem por estarem recebendo propina.
 
Existem momentos que, políticos mais conscientes preferem não forçar a barra com insistentes denúncias, a ver o País mergulhar novamente nas trevas da ditadura.
 
Considerando que os regimes ditatoriais no Brasil invariavelmente foram gerados após longos e intensos períodos de corrupção ativa no cenário político, a recordação que deixou o deputado Márcio Moreira Alves, se torna vívida nessas horas.
 
A fim de garantir tanto os ganhos legais, como os escusos, a elite econômica não medirá esforços. A diferença, tênue por assim dizer, encontra-se apenas entre os principais protagonistas. Os que estarão à frente de um eventual regime fechado não serão os militares e sim os civis.
 
No caso da criação da supertele, para todos os envolvidos os fins justificam os meios.

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