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Setembro 2008               Índice Geral do BLOCO

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18/09/08

• Portabilidade Numérica (25) - África: Onde a portabilidade de celular já funciona. E bem!

----- Original Message -----
From: Luciano Cadaval Basso
To: Celld-group ; wirelessbr
Sent: Thursday, September 18, 2008 6:27 PM
Subject: [wireless.br] Onde a portabilidade de celular já funciona. E bem!
Envio um post de um blog sobre a áfrica bem interessante para a lista. Quebra alguns preconceitos e mostra que a portabilidade pode ser um sucesso exatamente pela quantidade de pré-pagos na rede.

Luciano Cadaval Basso recomenda a leitura da mensagem "Onde a portabilidade de celular já funciona. E bem", no endereço http://penaafrica.folha.blog.uol.com.br/arch2008-09-14_2008-09-20.html#2008_09-18_00_36_37-129032461-0.

Comentário:
Onde a portabilidade de celular já funciona. E bem É fácil encontrar coisas que não funcionam na África, mas de vez em quando esse continente pode dar exemplo

Fonte:Pé na Africa - Blog de Fábio Zanini
[17/09/08] Onde a portabilidade de celular já funciona. E bem

É fácil encontrar coisas que não funcionam na África, mas de vez em quando esse continente pode dar exemplo.

Peguemos esse debate sobre a portabilidade dos telefones celulares no Brasil, por exemplo. Estamos no meio de um processo que dará mais liberdade ao consumidor, estimulará a competição entre as operadoras e reduzirá em muito a burocracia. De maneira lenta, estamos migrando para um sistema em que o usuário do celular pode trocar de operadora como quem troca de roupa, sem precisar mudar de número. O celular será desbloqueado.

Bem, estamos a anos-luz da telefonia na África. Tirando algumas exceções de países com regimes malucos (como Zimbábue) ou que ainda não fizeram a transição completa da economia socialista (Etiópia), comprar um celular, trocar um chip ou mudar de operadora são coisas ridiculamente simples e baratas por lá. Até na Somália, um país há duas décadas sem um governo de verdade.

Em algum momento da década de 90, lá por 1995 ou 1996, a África deu um salto de qualidade em sua telefonia. A estrutura física para a telefonia fixa, com seus postes e fiação quilométrica, sempre foi muito cara e complexa num continente com enormes distâncias a serem percorridas e todo tipo de acidentes naturais. Os celulares passaram a ser a alternativa óbvia para conectar esse continente. Rapidamente caíram no gosto de uma população sedenta por estabelecer comunicação entre pessoas nas cidades e suas mulheres, maridos, pais, mães e filhos na zona rural.

A África tem estradas péssimas, mas tem telefonia celular de qualidade. Tem índices pífios de acesso à internet, com qualidade de conexões abaixo da crítica, mas possui quase 100 milhões de aparelhinhos de celular, cada vez menores. Num continente com 700 milhões de pessoas, o crescimento ainda será grande.

Na África funciona assim: você vai numa loja de celulares, paga o equivalente a R$ 50 por um modelo pré-pago simples, desbloqueado, e sai falando. Até aí nada de mais. O impressionante mesmo é a indústria que se formou para venda de acessórios, chips (os chamados sim cards) e cartões telefônicos.

Compra-se em barracas de camelô mesmo, que só não digo que existem em cada esquina porque na verdade existem a cada MEIA esquina (veja uma foto que fiz em Acra, capital de Gana).

Paga-se preços ridículos, em alguns lugares 2 ou 3 dólares, por um chip, numa transação que dura 10 segundos. Como se estivesse sendo comprada uma banana. Sem tirar xerox de documento, preencher formulário ou responder perguntas.

Em quase cinco meses de viagem da África do Sul até o Egito, por 13 países africanos, juntei dez chips de celular. Muitas vezes na fronteira mesmo comprava o chip para o novo país, junto com tempo de conversa, curiosamente chamado de “air time” (literalmente, tempo de ar, ar sendo conversa, no caso). Algumas vezes não eram nem cartões pré-pagos, mas apenas um número, numa tirinha de papel, que correspondia ao crédito.

Na fronteira entre a Zâmbia e a Tanzânia, um homem subiu no trem em que eu estava e fizemos negócio ali mesmo dentro do meu vagão.

Isso sem falar na proliferação de barracas especializadas em vender crédito com descontos especiais, em fórmulas mirabolantes que significam alguns centavos de dólar de economia no final do mês, cruciais naquele continente.

Compare isso com o Brasil, um mercado extremamente regulado, em que qualquer tentativa de liberalização é recebida com corporativismo e resistência das operadoras.

Na África, a competição é feroz e extremamente benéfica para o consumidor. A sul-africana MTN, uma das gigantes mundiais do setor, está presente em praticamente todos os países do continente, mas nem por isso pode relaxar. Tem de competir de igual para igual com companhias nacionais menores, para poder sobreviver.

Na África, o celular ajudou muito a dinamizar a economia. Produtores rurais que vendiam seus alimentos a preço de banana para atravessadores inescrupulosos agora checam por mensagem de texto a cotação de seus produtos antes de fazer qualquer negócio. A transferência de renda para camadas mais pobres foi brutal.

A África, se quiser sair da situação de penúria em que se encontra, precisará um dia de um choque de capitalismo em todos os seus setores. Na telefonia celular, isso já ocorreu.
 

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