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Agosto 2009               Índice Geral do BLOCO

O conteúdo do BLOCO tem forte vinculação com os debates nos Grupos de Discussão  Celld-group e WirelessBR. Participe!


01/08/09

• 1ª Confecom (25): Msg de Márcio Patusco: Sem definições

----- Original Message -----
From: Helio Rosa
To: Celld-group@yahoogrupos.com.br ; wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Cc: marciopatusco@oi.com.br
Sent: Sunday, August 02, 2009 12:04 PM
Subject: 1ª Confecom (24): Msg de Márcio Patusco: Sem definições
 
Olá, ComUnidade WirelessBRASIL!
 
Encaminho mais uma mensagem recebida de nosso Márcio Patusco.
Obs: As mensagens do Márcio e dos demais participantes seguem numerações diferentes.

A ComUnidade mantém, capitaneado pelo Márcio, um website - 1ª Confecom - com um rico conteúdo sobre a 1ª Conferência Nacional de Comunicações a ser realizada em dezembro, com conferências regionais durante o transcorrer do ano.

Estamos acompanhando cada detalhe da "gestação" da Conferência, as dificuldades de toda ordem e as forças antagônicas;  creio que esta oportunidade deve ser considerada como uma preciosidade pois vai permitir uma visão crítica dos temas que serão discutidos e votados durante o evento.

O "efeito colateral" desejado deste acompanhamento é o debate antecipado e proativo em nossos fóruns dos temas "oficiais" e de outros, do interesse da Comunidade e da sociedade.
Vamos lá?  :-)

Obrigado, Márcio!
 
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
 
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01/08/09
• 1ª Confecom (17): Sem definições

----- Original Message -----
From: Marcio Patusco
To: Helio Rosa
Sent: Saturday, August 01, 2009 4:52 PM
Subject: 1ª Confecom (17): Sem definições

Olá ComUnidade!

Mais uma vez adiada a reunião para discussão das questões ainda pendentes na Comissão Organizadora (CO) da 1ª Confecom que estava programada para o dia 28 de julho. Os ministros e os empresários deverão se reunir no dia 5 de agosto, para tentarem uma forma de continuar com as discussões. O governo tem dado indicações
contraditórias com relação à conferência. Ao mesmo tempo que dá um passo à frente anunciando a recomposição da verba para a sua realização, dá um passo atrás não definindo o Regimento Interno, cedendo às pressões dos empresários.

A atual situação já gera muito descontentamento nas comissões pro-conferência nos estados, que começam a emitir notas públicas, exigindo que o governo se posicione. A impressão que fica é de que o governo "está se enrolando" ou "sendo enrolado". Convocou a conferência, mas não consegue trazer os empresários para a mesa de discussões, e aparentemente aceita suas exigências travestidas de "condições mínimas de participação".

Sobre a divergência entre as visões dos empresários e da sociedade civil sobre o enfoque das discussões na Confecom ("presente x futuro"), já mencionada por nós em mensagem anterior, vale a leitura do artigo do professor Marcos Dantas mencionado abaixo.

Nos estados, as atividades para as conferências regionais continuam a se desenvolver, e em alguns, os decretos de convocação pelo legislativo local já foram emitidos. Este são os casos de Paraná, Alagoas e Piauí.
Em outros estados, a emissão da convocação está por acontecer, mesmo sem a definição do regimento para a conferência. A disposição em todas as comissões pro-conferência é pela realização de todas as etapas com os participantes que desejarem se integrar.

Aguardamos o próximo movimento.

Abaixo artigos de referência.

Marcio Patusco

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Sumário das transcrições (prefira sempre ler na fonte!):

Fonte: Intervozes
[01/08/09] Estaduais reivindicam publicação do regimento interno

Fonte: Observatório do Direito à Comuincação - Origem: Observatório da Imprensa
[20/07/09] Boicotes e caminhos da Confecom - por Valério Cruz Brittos e Rafael Cavalcanti Barreto

Fonte: Tele.Síntese
[20/07/09] Eu também quero olhar para o futuro - por Marcos Dantas

Fonte: Tele.Síntese
[28/07/09] Permanência dos empresários na Confecom será definida após reunião com ministros - por Lúcia Berbert

Fonte: Observatório do Direito à Comunicação
[29/07/09] Atraso na publicação do regimento interno engessa etapas estaduais - Mariana Martins
 
Fonte: Teletime
[28/07/09]  Empresários e ministros se encontram dia 5 de agosto para discutir Confecom

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Transcrições:

Fonte: Intervozes
[01/08/09] Estaduais reivindicam publicação do regimento interno

Comissões Pró-Conferência de quatro estados exigem por meio de nota pública a recomposição do orçamento e a publicação imediata do regimento interno. Elas também criticam as imposições do setor empresarial e informam que as mobilizações seguem fortalecidas.
As Comissões Pró-Conferência do Rio Grande do Sul, do Paraná, de Minas Gerais e de São Paulo publicaram manifestos exigindo a publicação do regimento interno e a recomposição orçamentária da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).

Os gaúchos foram os primeiros a se manifestar. No dia 15 de julho, após cancelamento da primeira reunião “definitiva” pelo Ministério das Comunicações (saiba mais), a Comissão do Rio Grande do Sul expressou preocupação com a demora na publicação do regimento e do documento-base da Confecom. A carta reforça a importância de que a Conferência seja realizada em 2009. “Nunca a sociedade teve a oportunidade de fazer esta discussão num espaço como este e é importante que se faça agora e não no próximo ano ou governo”, defende. O documento critica ainda os empresários do setor, pedindo que o governo não ceda ao “ inabalável poder de veto dos detentores dos meios e conteúdos da comunicação, interferindo e/ou impedindo a realização deste fundamental evento”.

Os paranaenses também se manifestaram de forma dura em relação ao setor empresarial. Na nota pública “Por um regimento plural e democrático para a Confecom. Não às pressões da Abert" (Associação Brasileira de Empresas de Rádio e TV) a Comissão Paranaense é enfática ao criticar o impasse provocado pelos representantes dos empresários na Comissão Organizadora. As imposições dos empresários são consideradas “inaceitáveis”. “Tal tentativa prévia de restringir o debate não encontra paralelo em nenhuma das demais conferências ocorridas em outras áreas no país”, protestam. A manifestação reivindica “que os representantes do governo Federal, do Congresso Nacional e dos movimentos sociais não cedam às pressões da Abert, aprovando de maneira objetiva e célere a proposta de regimento interno”.

Os mineiros reforçaram que apesar dos impasses, a Comissão Mineira Pró-Conferência de Comunicação intensificará mobilização para a realização da 1ª Confecom . Em nota publicada no dia 28 de julho, eles criticaram a não reposição do recurso e pediram que haja o restabelecimento “dos prazos para a realização das etapas municipais, regionais e estaduais, e a publicação do regimento interno". Ao final, eles conclamam o movimento social a participar do processo. “Será somente através de debates amplos, plurais e qualificados que faremos uma conferência capaz de nortear a reestruturação do marco regulatório das comunicações no País. Devemos aproveitar a oportunidade que conquistamos e mobilizar forças para equilibrar o controle e desfazer o monopólio histórico exercido sobre a comunicação no Brasil”.

Outra manifestação aconteceu em São Paulo, que avançou no debate defendendo que a proporção de delegados para a Conferência seja de 20% para o poder público e 80% para a sociedade civil (sem distinção de empresários e não-empresários). O governo federal defendeu 40% de cotas para o setor empresarial. A Comissão ainda lembrou que apesar dos progressos desenvolvidos pelas estaduais, “as convocações oficiais pelos executivos municipais e pelo Governo Estadual dependem da finalização do regimento interno pela Comissão Organizadora Nacional”.

Cancelamentos e boicotes
As manifestações das estaduais respondem a uma série de acontecimentos que se sucederam no mês de julho. Das três reuniões consideradas como definitivas para a publicação do regimento interno, duas foram canceladas pelo governo federal e uma não avançou pois foi boicotada pelas entidades do setor empresarial. Os empresários vêm impondo premissas para sua participação na Conferência.

No país inteiro é aguardada a publicação do regimento interno para convocação das etapas estaduais. Piauí, Paraná e Alagoas já publicaram decreto. “Como o impasse político está atrasando de maneira preocupante, alguns estados estão caminhando de forma independente. Existe sim a possibilidade de que mais estados toquem seus processos", analisou Jonas Valente, membro do Intervozes e titular da Comissão Organizadora Nacional.

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Fonte: Observatório do Direito à Comuincação - Origem: Observatório da Imprensa
[20/07/09] Boicotes e caminhos da Confecom - por Valério Cruz Brittos e Rafael Cavalcanti Barreto

* Valério Cruz Brittos é professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos.
* Rafael Cavalcanti Barreto é graduando em Comunicação Social – Jornalismo na Unisinos.

A realização de uma Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) nunca foi um projeto definido do governo federal. Em mais de seis anos de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República, dezenas de conferências foram realizadas, em praticamente todas as áreas do serviço público, menos a de comunicação. Em parte isso se deve à má vontade das forças políticas que ocupam o Ministério das Comunicações (Minicom), em especial a partir da gestão de Hélio Costa, do PMDB, não só uma referência de conservadorismo político, como também um representante direto dos principais grupos midiáticos do país.

Com o passar do tempo, a pressão popular colocou o governo contra a parede, obrigando-o a posicionar-se. A resposta de Lula foi prática, anunciando a realização da Conferência em pleno Fórum Social Mundial, para um público formado por agentes dos movimentos sociais, comprometidos com sua efetivação. Com um prazo de cerca de 10 meses para a preparação da Confecom, esperava-se um debate prévio real, discutindo o marco regulatório das comunicações, para conformar um evento de porte nacional que reunisse o poder público, a sociedade civil e o empresariado. Seis meses depois, somam decepções.

Problemas históricos

Um exemplo: o cancelamento da reunião da quarta-feira (22/7), que se deu pela ausência de representantes dos empresários de mídia, desafiados com a necessidade de deliberar o regimento interno, atrasado em quase um mês. Assim o empresariado tem conseguido impor-se nas mais diversas esferas de decisão. Centralizou o debate da Confecom nos avanços tecnológicos propiciados pela convergência digital, lotou a comissão organizadora com seus representantes diretos e indiretos e até sustentou a idéia de garantir, por meio do regimento interno, um terço do número de delegados presentes, independentemente de sua representatividade, numa leitura própria dos princípios democráticos.

A única coisa que os empresários não conseguiram foi o consenso silencioso de toda essa hegemonia. Segundo representantes de entidades e movimentos populares no comitê organizador, os radiodifusores ficaram apavorados com as ameaças de prevalecer na Conferência o debate de assuntos polêmicos, a exemplo do controle social da mídia. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) chegou a postar em seu sítio, no mês de julho, que a categoria empresarial estava unida em evitar que a Conferência fosse palco de protestos, principalmente contra o modelo atual de comunicação.

O temor é tanto que os radiodifusores estão tentando atrair segmentos de mercado inicialmente alheios ao processo, a fim de aumentar ainda mais a pressão sobre o poder público. São os casos dos setores da TV paga e das telecomunicações, agora preocupadas com a Confecom, frente às pautas universalização da banda larga e recriação de uma empresa pública de telecomunicações. Para evitar riscos, a estratégia foi paralisar a formulação do regimento interno da Confecom, impondo premissas obrigatórias no documento, como a proteção dos serviços e outorgas atuais e a mínima interferência estatal nos serviços de comunicação. Sem o atendimento de tais condições, há a ameaça constante do empresariado de abandonar o comitê, pairando permanentemente o temor da suspensão do evento.

O regimento deveria estar pronto desde 30 de junho, para em seguida ser elaborado o Documento Base, paralelamente ao desenvolvimento das etapas regionais, que começariam em 1º de julho. É a partir da regulação interna que se dá a organização das conferências municipais e estaduais. Dessa forma, todo o processo está atrasado, sem evolução na interiorização do debate. Portanto, mesmo que nunca tenha se concebido a Conferência como a redentora dos problemas histórico-estruturais da comunicação brasileira, a questão é que o cenário desenhado, pelo processo e pelo formato, é de um espaço bem aquém de suas possibilidades, incompatível (mais uma vez) com o conhecimento acumulado.

A posição do governo

Diante do boicote do setor empresarial, cabe a pergunta: e o posicionamento do governo?. Mais uma vez fica atestado o temor de enfrentar os interesses hegemônicos, revelando pouca disposição em realizar a Confecom. Aqui, mais um exemplo: no início do ano, o Congresso Nacional garantiu 8,2 milhões de reais para cobrir os custos da Conferência. Foi promovido um corte de gastos no Ministério das Comunicações, reduzindo tal valor para 1,6 milhão de reais, em maio. O próprio Minicom assumiu que era impossível realizar uma Conferência com tão pouco dinheiro. O projeto de lei 27/2009 entrou na Câmara dos Deputados para recompor o orçamento, não tendo sido aprovado até o início do recesso parlamentar. A tensão de adiar o evento pairou até o início de julho, quando só então foi garantida a reintegração do montante.

Porém, o prejuízo já estava feito. Faltando cerca de quatro meses para sua realização, ainda não existe nenhuma sede confirmada em Brasília para a etapa nacional. Nem mesmo há reservas de qualquer lugar adequado para eventos desse porte, até porque boa parte dos centros de convenções já está reservada para outras atividades mais bem organizadas. Por outro lado, nem tudo está perdido. A publicidade estatal foi salva e, curiosamente, é uma das poucas demandas com a liberação de verbas em dia. O Ministério das Comunicações também não enviou aos governadores carta oficial convocando os demais poderes executivos a participar da Confecom, o que incentivaria o desenvolvimento das etapas regionais.

Contudo, a melhor contribuição a dar, por parte do governo federal, como instância máxima de comando no país, deveria ocorrer no campo político. Uma postura firme do Minicom, se existisse, seria o exemplo que influenciaria as edições estaduais, em termos de agilidade necessária e cumprimento dos objetivos inerentes ao processo de organização da Conferência. No embargo do regimento interno, o poder público agravou a letargia do empresariado, adiando a reunião que concluiria o documento, a fim de que os ministros Hélio Costa (Comunicações), Franklin Martins (Secretaria de Comunicação Social) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) pudessem analisá-lo, para posteriormente haver a votação.

Para completar, o setor empresarial e os representantes do Executivo, inclusive com Hélio Costa presente, tiveram uma reunião fechada na véspera da data estabelecida para a redação do documento. A intenção, que claramente transparece, era afinar as posições entre duas das três forças da comissão, já que no encontro nenhum representante da sociedade civil estava presente. Vale frisar que, na falta de um consenso no comitê, cabe ao governo federal impor um texto de regimento interno. Destaca-se que, no processo de escolha do padrão de TV digital também se reproduziram várias reuniões (decisivas) entre radiodifusores e representantes governamentais, enquanto o fórum oficial era esvaziado em seu poder.

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Fonte: Tele.Síntese
[20/07/09] Eu também quero olhar para o futuro - por Marcos Dantas

* Marcos Dantas é professor da Escola de Comunicação da UFRJ, doutor em Engenharia de Produção pela COPPE-UFRJ, ex integrante do Conselho Consultivo da Anatel, ex-secretário de Educação a Distância do MEC. E-mail: mdantas@inventhar.com.br 

Pelo que se lê na imprensa especializada (sim, porque só se lê na imprensa especializada...), os radiodifusores brasileiros, pelos seus principais líderes e porta-vozes, defendem que os debates da I Conferência Nacional de Comunicação (I Confecom) “olhem para o futuro”. Sustentam ser necessário discutir, principalmente ou exclusivamente, temas como internet e banda larga, não tratando do que seria o “passado”, isto é, o atual regime de concessão e demais práticas da radiodifusão, tal como existem realmente.

Vamos, neste artigo, concordar com os radiodifusores. Temos, sim, que discutir o futuro.

Se o conhecido “efeito Orloff” se aplica ao Brasil, as coisas por aqui acontecem com dois, cinco, no máximo dez anos de atraso em relação ao que se passa nos países centrais. Se quisermos olhar o futuro das comunicações, no Brasil, talvez seja um bom exercício de futurologia, com razoável margem de possível acerto, examinar o que já é presente em países como Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Coréia, França etc. Em todos esses (e outros) países, é fato que a radiodifusão aberta e seu modelo de negócios são um sistema decadente. Trata-se de um modelo criado, nos Estados Unidos, há quase 70 anos (quando ainda nem existia a televisão, só o rádio), e que chegou ao seu apogeu, já na era da TV, nos anos 1960 a 1980. Desde então, um amplo conjunto de transformações econômicas e culturais nas sociedades mais desenvolvidas, com fortes reflexos nos bolsões endinheirados dos países periféricos, veio corroendo esse modelo, substituindo-o por outro, denominado convergente. A esta altura, a convergência já se confirma como o modelo do futuro, isto é, dos próximos 10, 20, talvez 30 ou mais anos. Então vamos falar do modelo do futuro.

O modelo do passado dividia as comunicações em dois segmentos bem distintos, tanto econômica, quanto culturalmente, daí também normativamente: telecomunicações e radiodifusão. O modelo do presente e do futuro apaga essa distinção: será necessário falar apenas em comunicações. Basta fazer-nos a seguinte pergunta: uma operadora de telefonia celular que, hoje em dia, oferece agressivamente acesso à internet; recepção pela rede de vídeos e músicas; notícia atualizada a cada instante; canais de TV; práticas de tirar, remeter ou receber fotos; e muito mais, além de comunicação de voz ponto-a-ponto, essa operadora pode ainda ser definida como uma empresa de telecomunicações? Claro que não (sem trocadilho...). Mas, também, não será uma empresa de radiodifusão. E a internet ? E, com ela, qualquer operadora de banda-larga?

Cabe pois uma segunda pergunta, dando possível razão aos radiodifusores: a todo esse mundo das comunicações convergentes não se aplicaria todo o disposto no Capítulo V do Título VIII da Constituição brasileira? É claro que, quando a Constituição foi elaborada em 1988, os princípios estabelecidos pelo constituinte para a Comunicação Social somente poderiam se aplicar à radiodifusão, pois somente por ela era possível produzir e transmitir conteúdos relacionados ao entretenimento, à cultura, à educação, à informação. Hoje já não o é, e cada vez mais, no futuro, não será mais assim.

Se eu sou você amanhã, é altamente provável que, dentro de alguns poucos anos, talvez ao final da próxima década, grande parte da população brasileira e a quase totalidade da população de renda mais alta (classes “A” e “B”), isto é, de melhor poder aquisitivo e maior atratividade publicitária, estará preferindo assistir a canais de TV paga, ou navegando na internet banda larga, ou usando os cada vez mais poderosos recursos incorporados aos terminais móveis, sem falar, também, do que nos promete a própria TV digital. Hoje, nos Estados Unidos, apenas 10% dos lares ainda não assinam um serviço de TV a cabo ou satélite. Em muitos países, como o Japão e a Holanda, todas as residências já assinam serviços de televisão. Em outros, como o Reino Unido ou a França, os serviços pagos atingem metade dos domicílios e essa penetração deverá seguir crescendo. Neste aspecto, o Brasil ainda está atrasado: só 10% de nossas residências aderiram à TV paga, ignorando-se, claro, o “gatonet”. Mas ninguém deve duvidar de que essa taxa logo duplicará ou triplicará, com PL-29 ou sem PL-29...

Evidentemente, nesse processo, a publicidade vem migrando para os novos meios e, mesmo, vem sendo obrigada a se modificar. A publicidade linear típica da TV aberta, tende a dar lugar a novos formatos interativos, ao marketing viral, ou mesmo a um novo modelo inspirado na lógica de leilão, como o exitosamente introduzido pelo Google. Segundo o Idate, notório centro de pesquisas sobre comunicações, a publicidade na rede está crescendo 25% ao ano e já captura, no mundo, 9% da verba publicitária total. Nos terminais móveis, cresceu, em cinco anos, de USD 1,5 bilhão para USD 4,7 bilhão, já representando 1% do mercado publicitário total.

Falar do futuro, pois, implica discutir um novo modelo político-normativo que possa dar conta dessas mudanças em todo o campo das comunicações, mudanças essas que vão fazendo da radiodifusão coisa do passado. Esse novo modelo necessita considerar as características econômicas básicas do modelo emergente, ao mesmo tempo considerando as necessidades, as condições, as expectativas, os rumos da sociedade brasileira, agora e nos próximos anos.

Uma das mais importantes características do modelo emergente, talvez a mais importante, se encontra no fato de os gigantes dessas comunicações convergentes não serem, necessariamente, detentores dos meios de transmissão. Conglomerados como Time Warner, Disney, Vivendi, Yahoo, Google e tantos outros nossos bem conhecidos não precisam de “concessões” ou “autorizações” para chegar nos terminais de TV ou celular de milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive no Brasil. Inversamente, os detentores dos meios de transmissão não são, necessariamente, produtores e programadores de conteúdos: Comcast, Crown Castle, Verizon etc. As novas regulamentações que começam a ser adotadas em diferentes países centrais tendem a separar as duas atividades. Isto é, não se trata mais de separar “telecomunicações” de “radiodifusão”, mas conteúdo de infra-estrutura. Na maioria dos países europeus, inclusive, essa nova visão atingiu até a antiga radiodifusão, aliás com benefícios para ela: sem mais deter o controle das freqüências hertzianas, transferido para operadores de rede especializados, os antigos programadores em regime aberto foram liberados para multiplicar a oferta de canais por uma mesma faixa hertziana, assim fortalecendo as suas condições de competir com a diversificada oferta de canais disponível nos cabos e satélites das redes fechadas (pagas).

O que parece estar sendo proposto nesse debate da Confecom, seria uma espécie de Tratado de Tordesilhas, separando a radiodifusão em VHF ou UHF, unidirecional, generalista e dirigida ao “povão”, de algo que continuaria sendo erroneamente entendido por “telecomunicações”, pelo qual seguiriam sendo difundidos dezenas ou centenas de canais pagos ou de portais (muito bem remunerados) de internet. Sabemos que o Tratado de Tordesilhas até funcionou por algum tempo, mas não por todo o tempo...

A discussão, conforme está posta, impede, mascara ou até, talvez mais corretamente, falseia uma outra discussão bem mais estratégica, já que falamos de futuro. A radiodifusão, como sabemos, é um serviço público, operado por concessão do Estado e submetido a princípios constitucionais embora jamais regulados numa devida lei. Entre esses princípios, encontra-se a defesa e promoção da cultura brasileira. As telecomunicações não são necessariamente serviços submetidos ao regime público, a exceção da também decadente telefonia fixa. As telecomunicações são regidas e orientadas pelas regras aéticas e apátridas do mercado. Na medida em que a convergência se expanda no Brasil, essas regras prevalecerão e a nossa importante indústria cultural, sem falar de muitas outras múltiplas dimensões felizmente ainda não mercantilizadas de nossa cultura, ver-se-ão esmagadas por uma autêntica invasão estrangeira. Aliás, isso já está ocorrendo. Nas classes altas e médias conectadas à TV por assinatura ou à internet, está-se esgarçando mais e mais a relação de pertencimento ao nosso povo e ao nosso país. Quem aqui escreve e assina é professor universitário, sabe, no contato diário com jovens bem nutridos, o que está dizendo.

A defesa da cultura brasileira, nos termos do discurso das lideranças dos radiodifusores, só poderia ser levada a sério se estivesse acompanhada de uma real proposta para estender a todo o campo das também antigas telecomunicações os princípios da Constituição – junto com a devida legislação que os aplique. Em troca, pois é dando que se recebe, seria necessário reconhecer a clara distinção, nas novas comunicações convergentes, entre conteúdo e infra-estrutura. Esta, inclusive no espectro atmosférico, precisa ser neutra em relação ao que transporta. Aquele, por seu turno, precisa ser regulamentado de modo a assegurar a maior igualdade de oportunidade possível para a manifestação da diversidade, da pluralidade, logo, para a expressão democrática da sociedade, reafirmando-se nisto, por todos os meios práticos-normativos necessários, a defesa e promoção da cultura brasileira, comercial ou não. O projeto argentino para o audiovisual, neste aspecto, nos oferece boas sugestões.

Pelo muito pouco que se lê na imprensa sobre os debates da Confecom (e nada se vê ou ouve no “Jornal Nacional”...), tem gente falando do futuro sem querer discutir o presente e, segundo estes, tem gente que estaria falando do passado mas, se isto for certo, também, ao que parece, sem discutir o presente. Se essa leitura estiver correta, uns e outros estão, ambos, de fato, discutindo o passado, ignorando o que vem pela frente. Querer engessar o debate nos problemas da radiodifusão – o que os dois grupos politicamente mais mobilizados fazem, embora com sinais trocados –, apenas deixa alegremente livre para continuar se expandindo à margem de qualquer regra política maior, aquele que será, de fato, o grande setor das comunicações brasileiras nos próximos anos: é este comandado pela Fox, pela Disney, pela CNN, pelo Yahoo, pelo Google, pela Microsoft, pela Warner, pela Sony, pela HBO... a lista é grande e sobre esta lista não se imporá nem as regras do tão querido artigo 221, nem outras que se queiram estabelecer em nome de um desejado “controle social da mídia”, de uma ansiada “renovação de concessões”, ou coisa que o valha. Simplesmente, não haverá controles, nem serão necessárias concessões para os canais e portais, quase todos estadunidenses, dos meios convergentes.

Discutir o futuro é entender o presente. Entender o presente é definir as regras que orientarão os avanços futuros. Trata-se de saber se o futuro evoluirá num rumo mais democrático e culturalmente inclusivo, conforme definido por um projeto de país, ou no rumo da hegemonia cultural anglo-saxã e de uma conseqüentemente renovada apartação social e cultural distinguindo uma elite com acesso livre, pois poderá pagar, aos conteúdos para cá enviados diretamente do exterior, e uma grande massa subeducada para a qual se concederá seguir assistindo (dizem que de graça) a algum tedioso programa de domingo a tarde. Para o primeiro rumo, haverá que se reafirmar e ampliar os princípios de regime público, em especial os expressos na Constituição, para o conjunto das comunicações convergentes. Para o segundo rumo, bastará seguir discutindo o passado, conforme parece que não é, mas é, a pauta dos radiodifusores, e entregar o futuro ao mercado. Simples assim.


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Fonte: Tele.Síntese
[28/07/09] Permanência dos empresários na Confecom será definida após reunião com ministros - por Lúcia Berbert

Os debates sobre o regimento interno da Conferência Nacional de Comunicação estão parados à espera de uma decisão do governo sobre os pleitos dos empresários. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse hoje que não vê problemas na continuação dos representantes das entidades empresariais na comissão organizadora do evento, mas não adiantou se irá atender algum dos pedidos deles.

Os empresários se reuniram hoje, na sede da Abert (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) em Brasília, mas não houve nenhuma definição. “Vamos esperar a posição do governo na próxima semana”, disse Eduardo Parajo, presidente da Abranet (Associação Brasileira dos Provedores de Acesso, Serviços e Informação da Internet).

Os empresários entregaram na semana passada um documento ao ministro Hélio Costa, apresentando propostas de premissas e conceitos para assegurar a efetiva participação das entidades nos debates. Eles não participaram da reunião da comissão da quarta-feira passada e ameaçaram sair do evento, alegando que não vão aceitar o papel de homologadores das decisões dos movimentos sociais e do governo. Eles defendem uma forma de representatividade que garanta a participação 'democrática' de todos os integrantes.

Segundo Costa, essas reivindicações serão reapresentada pelos empresários em uma reunião entre os três ministros responsáveis pela coordenação da Confecom, o próprio Costa, Franklin Martins (Secretaria de Comunicação Social) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), que acontecerá no próximo dia 5 de agosto. Os representantes do setor de radiodifusão, mídia impressa, telecomunicações e provedores de internet, apesar de divergentes em muitos pontos, se mantiveram unidos nos debates da Confecom.

Para o ministro, a preocupação maior é com relação à recomposição dos recursos para realização do evento, ainda não efetivado pelo governo, apesar das promessas. A conferência, que contava com recursos orçamentais da ordem de R$ 8,2 milhões, ficou com apenas R$ 1,6 milhão após o corte promovido no orçamento. Um projeto propondo a recomposição já está na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional, mas a comissão organizadora defende a adoção de uma providência imediata, como a edição de um decreto.

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Fonte: Observatório do Direito à Comunicação
[29/07/09] Atraso na publicação do regimento interno engessa etapas estaduais - Mariana Martins

Três estados – Paraná, Alagoas e Piauí – já convocaram suas etapas estaduais da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) e outros seis estão com decretos prontos para serem publicados pelo Executivo estadual. Todos aguardam, entretanto, a publicação do regimento interno da Confecom pela Comissão Organizadora Nacional (CON), cuja redação vem sendo protelada por pressão do empresariado. Sem o regimento, as etapas estaduais não podem ser realizadas sob o risco de que sua forma organização entre em conflito com as regras previstas no regimento, invalidando tanto as propostas aprovadas por elas como a eleição dos delegados.

O calendário para realização das etapas estaduais e municipais – até 31 de outubro –, anunciado depois da primeira reunião da CON, há tempos está ameaçado. Cansados da morosidade na aprovação do regimento, os governos do Piauí, Paraná e de Alagoas publicaram seus decretos e convocaram as etapas estaduais. Nestes casos, os estados terão de aguardar a publicação do documento oficial para formarem as comissões organizadoras estaduais, que podem ter sua composição determinada pelo regimento. Sem as comissões, não é possível iniciar os procedimentos para organizar de fato as etapas regionais e estaduais. Também é preciso esperar o número de delegados destinados a cada estado, as regras para sua eleição e qual será a divisão por segmentos das vagas previstas.

Para Valdice Gomes, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas e membro do Conselho Estadual de Comunicação e da Comissão Estadual Pró-Conferência de Comunicação, a situação é revoltante. “Depois de tantos anos de luta para conseguir que o governo convoque a conferência, não podemos aceitar que se protele a aprovação do regimento”, protestou Valdice. “O governo de Alagoas publicou o decreto, mas estamos muito atrasados e sem ter como avançar enquanto não houver as definições previstas pela Comissão Organizadora Nacional. Na próxima reunião da Comissão Estadual, é possível que soltemos uma nota de repúdio ao constante cancelamento das reuniões.”

A passos lentos

A etapa alagoana foi convocada para os dias 18, 19 e 20 de outubro. No Paraná, o decreto previu que a etapa estadual ocorra também em outubro,nos dias 23, 24 e 25. A etapa do Piauí foi convocada parae 29,30 e 31 do mesmo mês. Pará, Rio de Janeiro, Ceará, Sergipe, Bahia e Espírito Santo estão na iminência de publicarem seus decretos. Em Sergipe, por exemplo, segundo informações da Comissão Pró-Conferência do estado apresentadas durante uma videoconferência organizada pela Comissão Nacional Pró-Conferência (CNPC) na semana passada, o governo alega aguardar somente as definições que virão do regimento interno da nacional para a publicação. Situação idêntica é verificada nos estados do Espírito Santo e do Pará.

Já os governos do Rio de Janeiro e do Ceará anunciaram que, no mais tardar, na próxima semana irão publicar o decreto mesmo sem as definições nacionais. A cidade do Rio de Janeiro por sua vez já convocou a etapa referente à região metropolitana do município, que será em Niterói nos dias 28 e 29 de agosto e a Prefeitura de Fortaleza também garantiu a realização da etapa municipal.

A videoconferência que contou com a participação de 18 estados dos 23 mobilizados para conferência e a avaliação das comissões pró-Conferência de vários estados é de que os processos caminham a passos lentos influenciados pela morosidade da CON provocada pelos seguidos impasses e ameaças dos empresários de abandonar o processo.

Em Pernambuco, o processo de articulação entre o governo do estado e comissão estadual pró-conferência foi praticamente paralisado por conta da ausência nas definições nacionais. Mas o governo já demonstrou interesse em realizar a etapa estadual.

Adiamentos seguidos

Desde o dia 9 a CON protela a publicação do tão esperado regimento interno da Confecom. A reunião marcada para essa data e que tinha em sua pauta a aprovação do regimento pelos membros da CON foi desmarcada a pedido dos ministros Franklin Martins (Secretaria de Comunicação da Presidência) e Luís Dulci (Secretaria Geral da Presidência). Realizada na semana passada, no dia 22, a reunião não contou com a presença dos empresários e, por esta razão, optou-se por não aprovar o regimento [saiba mais] . Um indicativo para que a próxima reunião fosse realizada no dia 28 foi aprovado pela CON, contudo a reunião não foi convocada pelo Ministério das Comunicações e ainda não há data prevista para sua realização [saiba mais] .

Ao noticiário especializado TeleTime, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, confirmou para o próximo dia 5 de agosto a realização de uma reunião entre os representantes dos empresários na CON e os três ministros diretamente envolvidos na organização da Confecom (além de Costa, Martins e Dulci). O encontro foi solicitado pelos empresários e é muito provável que nada se resolva até lá.

Segundo Valdice Gomes, da Comissão Estadual Pró-Conferência de Comunicação em Alagoas, é inaceitável ver o governo ceder à pressão do empresariado. “É uma falta de responsabilidade do empresariado com a Confecom e o governo está infelizmente cedendo a esta pressão. Se o empresariado não está querendo ir à reunião, tudo bem. Mas o governo cancelar a aprovação do regimento por conta disso é inaceitável”, lamenta.

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Fonte: Teletime
[28/07/09]  Empresários e ministros se encontram dia 5 de agosto para discutir Confecom

O ministro das Comunicações Hélio Costa confirma para o próximo dia 5 de agosto a reunião entre as associações representativas do empresariado de telecomunicações e comunicações com os três ministros diretamente envolvidos na organização da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom): o próprio Hélio Costa, Franklin Marins (secretaria de comunicação) e Luis Dulci (secretaria geral). Segundo Hélio Costa, a solicitação parte dos empresários. Hélio Costa diz ainda acreditar na presença de todos os setores na Confecom, e explica que o maior problema, hoje, ainda é a falta de recursos para a organização do evento. Segundo o ministro, o assunto será tratado em reunião entre ele e o presidente Lula nesta quarta, 29. Mas até o fechamento desta edição, a agenda oficial do presidente não resrvava horário para despacho com Hélio Costa.

No encontro do dia 5, é esperado que os empresários manifestem aos demais integrantes do governo a pauta que consideram imprescindível para a organização da Confecom. Caso não sintam resposta satisfatória, já é clara a disposição de boa parte das associações de abandonar a organização da conferência.


 

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