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13/08/09

• Telebrás e Eletronet: de novo... (63) - Opinião de José Smolka

----- Original Message -----
From: J. R. Smolka
To: wirelessbr
Sent: Thursday, August 13, 2009 11:44 PM
Subject: [wireless.br] Sobre a "ressurreição" da Telebrás

Boa noite pessoal,

Assim como o Bruno deu a opinião dele (a favor), vou dar a minha também. Sou contra.

Eu vi o sistema Telebrás por dentro, já na sua pior fase. O que posso dizer é o seguinte: minhas objeções não tem nada a ver com a possibilidade ou não de uma empresa estatal atuar com seriedade. É possível sim. Porém, assim como algumas mulheres ao volante acabam dando má fama a toda a classe, algumas empresas do velho sistema Telebrás são responsáveis pela má fama de todo o resto. Não é difícil adivinhar quais eram estas empresas. Basta reparar em um fato simples: aqui no Brasil o que repercute na mídia são os eventos do eixo São Paulo - Rio - Brasília. Então, onde vocês acham que os problemas de PEX vencidos há mais de dois anos e não entregues eram mais graves? E, na época do lançamento da telefonia celular, onde as filas de espera pela habilitação eram maiores, a ponto de ter havido sorteio de quem seriam os felizardos a receber as primeiras habilitações? É... Exatamente ali, no "triângulo das Bermudas".

E por serem assim, estas empresas deram a má fama a todo o resto do sistema. Não importa que outras empresas, como Telemig, Telepar, Telebahia, Teleceará e tantas outras tivessem conseguido resolver estes problemas sem maiores traumas (a Telebahia, por exemplo, em pouco tempo após o lançamento da telefonia celular já fazia habilitação imediata - o cliente saía da loja falando).

Mas, como eu disse antes, minhas objeções não tem a ver com essas histórias. A primeira objeção é técnica. Vou pegar um trecho da reportagem citada pelo Hélio:

(...) Rogério Santana, secretário de e Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, um dos pais do projeto de recriação da Telebrás, rejeita o rótulo de estatizante ao projeto. Avalia que o modelo da economia de mercado não cria condições para que as operadoras cheguem com banda larga aos pontos mais distantes do país. Por isso, ou o governo parte para implementação de uma rede própria ou os mais desassistidos ficarão de fora da chamada inclusão digital. (...)

(...) Agora vamos dar uma boa olhada no mapa das rotas de fibra da rede da Eletronet. Temos essencialmente quatro anéis de fibra. um cobrindo a região sul, dois cobrindo a região sudeste e um que vai pelo litoral da região nordeste e desce fechando pela região centro-oeste. O miolo da região nordeste é um vazio, bem como a região norte, e o lado oeste da região centro-oeste. (...)

Eu gostaria muito que o Sr. Rogério Santana explicasse como e quando a Telebrás, tendo recebido a imissão de posse desta malha de fibras, faria com que ela realmente tivesse capliaridade para chegar onde as redes de fibra ou rádio das operadoras atuais não chegam.

As fibras são apenas uma parte do negócio. É preciso conectá-las a multiplexadores óticos DWDM, e depois construir toda uma malha de captação, encaminhamento e concentração do tráfego para esta malha central - o tal backhaul, com SDH (se eles forem conservadores) ou com carrier Ethernet (meu preferido).

Depois tem a infra-estrutura de acesso em cada região urbana. Com xDSL, Metro Ethernet, e MPLS (a exata conjugação de tecnologias depende do porte da cidade). Alguém já parou para pensar que as escolas que ficaram de fora do projeto com as operadoras atuais também estão longe do backbone da Eletronet, ou até mesmo o da Eletrobrás? E especialmente nas regiões N e NE?

Alguém já calculou quanto custaria construir este backhaul? Ou será que, para isto, o governo sinta-se inclinado a, finalmente, mexer nas verbas do FUST?

Finalmente, mas não menos importante, me oponho a este projeto - assim como a uma nova estatal para o pré-sal - por razões ideológicas. Já me defini, no passado, como quase
minarquista. Para mim o ideal é que os políticos tenham o mínimo possível de cargos e verbas para manipular. Criar novas estatais, ou ampliar o poder das já existentes, vai totalmente contra esta minha convicção.

Tenho certeza que, uma vez ressurgida (ou ressurecta, no dizer erudito do Hélio) a Telebrás será campo fértil para tudo que existe de pior da prática política brasileira: partidos da base aliada se engalfinhando para nomear a si mesmos, ou seus apadrinhados, para cargos de diretoria e de primeiro escalão, roubalheira nas licitações para expansão da rede, etc. etc. Ah, sim... e não custa nada lembrar que 2010 é ano eleitoral...

Não sei de vocês, mas eu já não tenho mais fígado para este tipo de espetáculo. Me incluam fora dessa!

[ ]'s

J. R. Smolka
 


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