01.
      Registrei, ao longo do tempo, alguns "posts" no nosso 
      BLOCO com o tema "mídia pautada".
      
      No caso, "pauta" é o "release" ou informação mastigada que os 
      departamentos de imprensa de empresas, organizações e entidades do governo 
      enviam aos veículos de divulgação.
 
    
      Mesmo não sendo jornalista, de vez em quando 
      recebo algumas "sugestões de pauta".  :-)
 
    
      Como disse, são matérias prontas, 
      normalmente redigidas por jornalistas contratados pelos interessados em 
      veicular a informação, que os sites noticiosos reproduzem com alguma "guaribação" 
      ou então na íntegra, e não raro são registrados como de autoria "da 
      redação".
 
    
      Nada contra as pautas, enquanto 
      fontes de notícias.
      Tudo contra quando são reproduzidas como se fossem frutos de 
      reportagem, sem apuração ou investigação, sem consultas aos arquivos das 
      redações e quando não são acompanhadas da "história" resumida do tema ou 
      das eventuais versões ou visões de ângulos diferentes para ambientação e 
      estímulo ao leitor para meditação e formação de opinião. 
    
    
       
    
      02.
      Mas...será que existe uma "despauta" que sugere que uma determinada 
      informação não deve ser divulgada?  :-)
      Certamente alguém vai dizer que assim também é demais, que uma "não-pauta" 
      é um... despautério ("grande tolice, despropósito, disparate": Houaiss).
      
      Pergunto:
      Qual será o maior despautério na cobertura da ressurreição do Rádio 
      Digital no recente Congresso da ABERT:
    
      - achar que o fato de nenhum 
      jornalista citar que em dezembro Helio Costa desistiu do Rádio Digital é 
      uma mera coincidência?
      - achar que houve "sugestão" do Minicom e da ABERT para o esquecimento da 
      desistência?
      - achar que houve uma autocensura geral pois o ministro e a ABERT são 
      poderosos demais?
      
      Os mais "antigos" devem se lembrar do famoso colunista Ibrahim Sued, cujo 
      bordão foi até título de livro: "Em sociedade tudo se sabe".
      Em algum momento tudo virá à tona, é questão de tempo.
      
      03.
    
      Vamos recordar mais abaixo, o artigo do 
      jornalista Ethevaldo Siqueira, colunista do Estadão, publicado após 
      a desistência no ministro:
      Fonte: Adnews  
      Origem: Estadão
      [29/12/08]   
      
      Hélio Costa abandona projeto de rádio 
      digital por Ethevaldo Siqueira, 
      do Estadão
      
      Esperei até hoje que o Ethevaldo voltasse ao tema na sua coluna 
      dominical do Estadão: não voltou.
      Em 
      seu blog 
      comenta timidamente, quase "en passant" no seu "post" de ontem:
      
      O surrealismo de um ministro das 
      Comunicações
      
      (...) Ah, o Rádio Digital
      A novela do rádio digital retorna aos debates. Conforme antecipou o 
      ministro Hélio Costa, a escolha do sistema do rádio digital que será 
      adotado pelas emissoras brasileiras será feita após consulta pública, com 
      prazo de 180 dias. Para tanto, o Ministério das Comunicações divulga 
      portaria específica, autorizando a consulta pública, para ouvir sugestões 
      da sociedade sobre o tema. 
    
      A escolha do padrão de rádio 
      digital para o Brasil não é uma questão de opinião. Por isso, o Brasil não 
      pode simplesmente escolher uma nova tecnologia apenas com base em 
      sugestões de pessoas e entidades, por mais competentes que elas sejam. É 
      preciso que uma comissão de especialistas e representantes de entidades 
      altamente qualificadas do ponto de vista científico e tecnológico, 
      realmente isentas, conduza testes exaustivos em centros de pesquisas e 
      universidades, num processo de licitação internacional. (...)
    
       
    
      Ah, Ethevaldo, e a desistência do 
      ministro, sô?   :-)
   
 
  
  
     
  
    A mudança de posição foi radical. Depois de 
    ter defendido abertamente durante quase três anos e meio o padrão de rádio 
    digital norte-americano (Iboc ou HD), apresentando-o como o único aceitável 
    para o Brasil, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, acaba de retirar 
    seu apoio àquela tecnologia, também preferida pela Associação Brasileira de 
    Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
  
     
  
    O ministro reconhece agora o que todos os 
    técnicos independentes vinham afirmando desde 2006: em todo o mundo, a 
    tecnologia de rádio digital ainda tem muitos problemas que não permitem sua 
    adoção no Brasil.
  
     
  
    O recuo de Hélio Costa, embora tardio, é um 
    fato positivo, pois seria muito pior se o País adotasse o padrão Iboc. O 
    maior prejuízo ficaria com as 5 mil emissoras de rádio brasileiras, que 
    seriam levadas a investir numa tecnologia que aindafunciona precariamente.
  
     
  
    O que mais estranhou os observadores nesse 
    episódio foi a posição da Abert, ao defender apaixonadamente o padrão 
    norte-americano, mesmo diante da comprovação de seus problemas.
  
     
  
    MARCHA A RÉ
  
     
  
    Hélio Costa anunciou sua nova posição no 
    domingo passado, em artigo no jornal O Estado de Minas (leia-o no site Caros 
    Ouvintes, 
    http://www.carosouvintes.org.br/blog/?p=2111), 
    em resposta à jornalista e professora Nair Prata, que havia cobrado do 
    ministro, no início de dezembro, o cumprimento de suas promessas quanto ao 
    rádio digital. 
  
     
  
  
     
  
    Na realidade, o jornal norte-americano apenas 
    confirmou a conclusão já conhecida havia muito tempo: depois de quase 5 anos 
    de introdução nos Estados Unidos, a nova tecnologia digital não conta hoje 
    sequer com 10% da adesão das emissoras.
  
     
  
    Para se ter idéia da baixa penetração do rádio 
    digital nos Estados Unidos, basta lembrar que, do lado dos ouvintes, mesmo 
    com preços subsidiados, apenas 0,15% da população norte-americana adquiriu 
    seu receptor digital.
  
     
  
    PROBLEMAS
  
     
  
    Uma das características do padrão conhecido 
    pelo nome de In Band on Channel (Iboc) ou HD Radio, criado pela empresa 
    Ibiquity, é utilizar o mesmo canal de freqüência para transmitir um único 
    programa, simultaneamente, tanto no modo analógico quanto no digital. A 
    idéia é excelente, mas, até agora, o sistema não tem funcionado de forma 
    satisfatória.
  
     
  
    Nas transmissões em AM e FM, o padrão Iboc 
    apresenta, entre outros, o problema do atraso (delay) de 8 segundos do sinal 
    digital, em relação ao analógico. Como o alcance do sinal digital é menor do 
    que o analógico, nos limites de sua propagação, a sintonia oscila entre um e 
    outro, com grande desconforto para o ouvinte.
  
     
  
    Embora pareça ser a grande saída, a idéia de 
    usar o mesmo canal para transmissões analógicas e digitais, adotada pela 
    empresa Ibiquity, não tem tido sucesso na prática. O fato indiscutível é que 
    essa tecnologia ainda não está madura e apresenta diversos problemas sérios, 
    como a impossibilidade de se utilizarem receptores portáteis - pois o 
    consumo de energia é tão elevado que as baterias se descarregam em poucas 
    horas.
  
     
  
    Na Europa, outras tecnologias têm sido 
    propostas em faixas de freqüências exclusivas para o rádio digital, o que, 
    no entanto, obrigaria à troca de todos os receptores. Conclusão: ainda temos 
    que esperar que o mundo desenvolva uma solução melhor para a digitalização 
    do rádio.
  
     
  
    ANÚNCIOS PRECOCES
  
     
  
    O ministro Hélio Costa, desde que tomou posse 
    no Ministério das Comunicações, em julho de 2005, tem anunciado numerosos 
    projetos puramente imaginários que nunca se concretizam ou que se revelam 
    inviáveis.
  
     
  
    Na abertura do evento internacional Américas 
    Telecom, em outubro de 2005, em Salvador (Bahia), ele anunciou que o Brasil 
    já vivia "a era do rádio digital" (quando apenas algumas emissoras iniciavam 
    os primeiros testes com o padrão norte-americano HD Radio ou Iboc). Na mesma 
    ocasião, anunciou ao auditório que a Grande São Paulo veria as imagens da 
    Copa do Mundo de 2006 com imagens da TV digital, que só entrou no ar em 2 
    dezembro de 2007.
  
     
  
    Entrevistado no programa Roda Viva, da TV 
    Cultura, em 2005, afirmou categoricamente que o Ministério das Comunicações 
    iria investir não apenas o montante de R$ 600 milhões anuais dos recursos do 
    Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), bem como o 
    saldo acumulado então superior a R$ 4 bilhões.
  
     
  
    Até hoje o Brasil não utilizou praticamente 
    nada do Fust. No ano de 2006, o ministro garantiu que o Japão havia 
    concordado em instalar uma indústria de semicondutores (circuitos 
    microeletrônicos) no Brasil, em contrapartida à escolha do padrão de TV 
    digital nipo-brasileiro. Na verdade, o Japão jamais prometeu essa fábrica.
  
    Ethevaldo Siqueira - O Estado de S.Paulo