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17/06/11

• Mensagem de José Smolka: OMS chama atenção para relação entre o uso de celulares e o desenvolvimento de câncer

Nota de Helio Rosa:
José Smolka repercute esta notícia, transcrita no final desta página:
Fonte: O Globo
[01/06/11]  OMS chama atenção para relação entre o uso de celulares e o desenvolvimento de câncer
HR

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de J. R. Smolka  smolka@terra.com.br 
para Celld-group@yahoogrupos.com.br, wirelessbr@yahoogrupos.com.br
data 1 de junho de 2011 21:05
assunto [wireless.br] Re: [Celld-group] OMS chama atenção para relação entre o uso de celulares e o desenvolvimento de câncer

Oi pessoal,

Normalmente eu não me meteria nesse tipo de discussão, mas como a notícia veiculada é uma citação feita por O Globo de uma citação feita pela CNN de um press-release do IARC (International Agency for Research on Cancer - um órgão da OMS baseado na França) que sumariza os resultados de um estudo que ainda vai ser publicado, achei melhor colocar as coisas na devida perspectiva.

Não se trata de fingir que o problema não existe, mas tampouco é o caso de presumir um problema sem evidência concreta. Todas as vezes que grandes interesses políticos ou econômicos se misturam com a ciência, quem sai perdendo é esta última. Especialmente nestes nossos dias onde pesquisadores acostumaram-se a ter tratamento (e orçamento de pesquisa) dignos de pop star, bem como a noção de que a existência de um "consenso" na comunidade científica é, por si só, garantia de boa ciência.

A condenação mais veemente que já vi a esta forma de atuação pseudo-científica foi feita por Michael Crichton na sua Michelin Lecture proferida no CalTech (California Institute of Technology) em 17/01/2003, intitulada Aliens Cause Global Warming.

Lembro também da disputa Gallo x Montagnier pela "paternidade" da descoberta do HIV, e do fiasco da divulgação dos erros e conflitos de opinião (e interesses) entre os cientistas do IPCC.

Muito bem... Tendo tudo isto em mente vamos aos fatos.

O IARC anunciou que "promoveu" a radiação eletromagnética na faixa de RF, particularmente aquela emitida pelos aparelhos celulares (mas também por transmissões de rádio e TV, por exemplo) da categoria 3 para a categoria 2B de risco de carcinogênese. Este documento detalha os critérios de classificação adotados pelo IARC. Ou seja, radiação de RF, que era considerada não classificável como agente carcinogênico em humanos, passa a ser considerada como agente possivelmente carcinogênico em humanos. Vejamos o que significa a classificação 2B do IARC.
This category is used for agents for which there is limited evidence of carcinogenicity in humans and less than sufficient evidence of carcinogenicity in experimental animals. It may also be used when there is inadequate evidence of carcinogenicity in humans but there is sufficient evidence of carcinogenicity in experimental animals. In some instances, an agent for which there is inadequate evidence of carcinogenicity in humans and less than sufficient evidence of carcinogenicity in experimental animals together with supporting evidence from mechanistic and other relevant data may be placed in this group. An agent may be classified in this category solely on the basis of strong evidence from mechanistic and other relevant data.
Os grifos em negrito são meus. Os dois critérios iniciais não representam problema. Mas o terceiro... Ele dá a margem para que se criem celeumas como a do potencial carcinogênico da fumaça de cigarros exalada pelos fumantes (second-hand smoke). Ele é uma janela aberta para a "ciência de consenso". Interessante também é ver a explicação dos conceitos de evidência limitada e evidência inadequada de carcinogênese, conforme apresentados no próprio press-release citado.
Limited evidence of carcinogenicity: A positive association has been observed between exposure to the agent and cancer for which a causal interpretation is considered by the Working Group to be credible, but chance, bias or confounding could not be ruled out with reasonable confidence.
Inadequate evidence of carcinogenicity: The available studies are of insufficient quality, consistency or statistical power to permit a conclusion regarding the presence or absence of a causal association between exposure and cancer, or no data on cancer in humans are available.
Então, quais foram as conclusões do estudo do IARC, conforme citadas no press-release?
Dr Jonathan Samet (University of Southern California, USA), overall Chairman of the Working Group, indicated that "the evidence, while still accumulating, is strong enough to support a conclusion and the 2B classification. The conclusion means that there could be some risk, and therefore we need to keep a close watch for a link between cell phones and cancer risk."
"Given the potential consequences for public health of this classification and findings," said IARC Director Christopher Wild, "it is important that additional research be conducted into the long‐term, heavy use of mobile phones. Pending the availability of such information, it is important to take pragmatic measures to reduce exposure such as hands‐free devices or texting."
Ou seja, após intensa revisão de vários estudos feitos por outros pesquisadores (nenhum estudo novo foi feito), o máximo que o IARC pode encontrar foram suspeitas, e que podem muito bem ter justificado a "promoção" para o grupo 2B por aquele famigerado terceiro critério. E, no final de tudo, fazem apenas o célebre e batido comentário de que são necessárias "mais pesquisas" (e mais verba, naturalmente) sobre este tema. E a "promoção" só está associada à ocorrência de gliomas (tumores das célular gliais do cérebro), que formam cerca de 2/3 dos casos de tumores cerebrais malignos. Convenhamos, com esta prevalência toda só não acha alguma possível relação de causa e efeito entre os gliomas e qualquer outro fator ambiental quem não quiser. Sobre os famosos neuromas acústicos (tumores do nervo auditivo), apesar dos pesquisadores terem tido acesso aos dados de pesquisas que nem foram publicadas ainda, ninguém quis se comprometer.

Eu não vou perder nem um minuto de sono por causa disso.

[ ]'s

J. R. Smolka

P.S.: Seguem os links em formato texto para aqueles que não suportam e-mail formatado em HTML.

Matéria da CNN - http://edition.cnn.com/2011/HEALTH/05/31/who.cell.phones/index.html
Press-release do IARC -  http://www.iarc.fr/en/media-centre/pr/2011/pdfs/pr208_E.pdf
Texto da palestra de Michael Crichton - http://wattsupwiththat.com/2010/07/09/aliens-cause-global-warming-a-caltech-lecture-by-michael-crichton/
Artigo sobre a controvérsia da descoberta do HIV - http://www.ias.ac.in/resonance/May2009/p472-498.pdf
Artigo sobre o IPCC - http://news.sciencemag.org/scienceinsider/2011/05/international-climate-panel-anno.html
Critérios de classificação de risco de carcinogênese pelo IARC - http://monographs.iarc.fr/ENG/Preamble/CurrentPreamble.pdf

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Fonte: O Globo
[01/06/11] OMS chama atenção para relação entre o uso de celulares e o desenvolvimento de câncer

RIO - Pela primeira vez desde que estudos começaram a ser feitos, a Organização Mundial da Saúde alertou nesta terça-feira para a existência de uma relação entre o uso de celulares e o desenvolvimento de câncer. A agência agora classifica o uso dos aparelhos na categoria de potencial cancerígeno, a mesma para chumbo e clorofórmio.

Antes do anúncio, a OMS chegou a garantir aos consumidores que nenhum aviso de risco à saúde havia sido estabelecido. Mas uma equipe de 31 cientistas de 14 países tomou a decisão de revisar estudos sobre segurança dos celulares. O grupo descobriu evidências suficientes para classificar a exposição pessoal como "possivelmente cancerígena para humanos".

Isso significa que, até agora, não há pesquisas suficientes para esclarecer se a radiação de celulares é segura, mas há dados o bastante mostrando uma possível relação à qual os consumidores deveriam ficar atentos.

- O maior problema que nós temos é que sabemos que fatores ambientais precisam de décadas de exposição até realmente vermos as consequências - disse à CNN Keith Black, neurologista chefe do Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

O Fórum de Fabricantes de Celulares (MMF, na sigla em inglês) se posicionou sobre o assunto:

"A Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer (IARC) avaliou apenas a possibilidade de risco, e não o risco real em uso normal. Essa avaliação agora será considerada pelas autoridades de saúde, que vão determinar o seu impacto em geral", afirmou Michael Milligan, secretário-geral do MMF em comunicado.

"Ao entender as implicações desta avaliação, devemos lembrar que os equipamentos de telecomunicações sem fio, incluindo telefones celulares e suas estações rádio-base, foram projetados para operar dentro de limites internacionais e nacionais que já têm margens de segurança substanciais integradas a eles. Além de operar dentro de limites de exposição, os telefones celulares são desenvolvidos para garantir que estejam sempre operando no nível mínimo para fazer uma chamada telefônica de qualidade", concluiu Milligan.

O tipo de radiação emitida por um celular é chamada não ionizante. Não é como um aparelho de Raio-X, mas se parece mais com um forno microondas de muito baixa potência.

- O que as microondas de radiação fazem, nos termos mais simplistas, é parecido com o que acontece com a comida no microondas, só que com o nosso cérebro. Então, além de poder acarretar o desenvolvimento de tumores, elas poderiam causar uma série de outros efeitos, como danificar a função de memória cognitiva, já que os lobos de memória temporal ficam onde seguramos nossos celulares - completa Black.

A Agência Europeia de Meio Ambiente solicitou a realização de novos estudos, afirmando que os celulares podem ser um risco à saúde pública como a fumaça, amianto e gasolina com chumbo. O coordenador de um instituto de pesquisa sobre câncer na Universidade de Pittsburg enviou um memorando a todos os funcionários pedindo a eles que limitassem o uso de celulares, devido ao risco de desenvolver câncer.

- Quando acompanhamos o desenvolvimento de um câncer - particularmente no cérebro - vemos que isso leva um longo tempo. Acho que é uma boa ideia dar ao público algum tipo de aviso de que muito tempo de exposição à radiação do seu celular pode possivelmente causar câncer - disse Henry Lai, professor pesquisador em bioengenharia da Universidade de Washington, que estuda radiação há 30 anos.

Os resultados do mais amplo estudo realizado internacionalmente sobre telefones celulares e câncer foram publicados em 2010. Eles mostraram que os participantes da pesquisa que usaram o celular por dez anos ou mais tinham o dobro das taxas de glioma cerebral, um tipo tumor. Até agora, não há estudos realizados num grande intervalo de tempo sobre os efeitos do uso do celular entre crianças.

- Os crânios e o couro cabeludo das crianças são mais finos. Então, a radiação pode penetrar mais fundo em seus cérebros, assim como nos de jovens. Suas células estão se dividindo a taxa mais rápida, então o impacto da radiação pode ser muito maior - afirmou Black.

Os produtores de muitos celulares populares já alertam os consumidores para manter seus aparelhos afastados de seus corpos. É o caso do iPhone 4 e do Blackberry Bold.
 


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