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Fonte: TelecomOnline (site descontinuado)
[10/09/08]   PLC volta à cena com a promessa de universalização da banda larga  - por Marineide Marques
 
Consulta pública retoma o debate sobre a tecnologia, que ainda precisa vencer desafios técnicos e mercadológicos.
 
A consulta pública aberta pela Anatel trouxe aos holofotes o PLC, sigla para Power Line Communications, tecnologia que permite a oferta de banda larga pela rede elétrica. A tecnologia não é nova – só no Brasil ela é testada há quase dez anos -, mas os avanços registrados nos últimos anos dão esperança de que ela possa se tornar realidade. A promessa do PLC é animadora: transformar todas as tomadas em ponto de rede e levar banda larga a todas as localidades sem necessidade de novos cabeamentos, afinal a rede energia elétrica cobre praticamente todo o Brasil. É o sonho da universalização do acesso à internet.
 
Até lá, no entanto, falta vencer os desafios técnicos e mercadológicos, afinal a tecnologia ainda não se provou mais barata que o ADSL. No Brasil, praticamente todas as concessionárias de energia elétrica já testaram o PLC em maior ou menor grau. Agora, com a proposta de regulamentação em curso, o interesse foi redobrado, dada a perspectiva de disponibilidade de equipamentos.
 
A consulta pública aberta pela Anatel não visa regulamentar a tecnologia, mas sim estabelecer as condições de uso e as características dos equipamentos, que passarão a ser certificados pelo órgão regulador. O regulamento também estabelece as freqüências nas quais os sistemas podem operar. Apesar de o PLC funcionar por cabo, há emissões indesejadas, que vazam pelo fato de o cabo da rede elétrica não ser blindado. Com o regulamento, a Anatel estabelece as condições para que estas emissões não interfiram nos demais serviços e como devem ser tratadas estas interferências. De maneira geral, as emissões acontecem na faixa entre 1,7 MHz e 30 MHz. A consulta pública vai até 29 de setembro e a expectativa é de que a regulamentação esteja publicada até o final do ano.
 
O grande desafio da tecnologia é justamente superar as interferências. “A rede elétrica, por sua própria constituição, apresenta muito ruído, mas a tecnologia já está bastante evoluída”, afirma o diretor do Fórum PLC na Associação de Empresas Proprietárias de Infra-Estrutura e de Sistemas Privados de Telecomunicações (Aptel), Paulo Pimentel. Nos primeiros estágios do PLC, a conexão era seriamente prejudicada pela interferência de outros dispositivos elétricos. Ou seja, a rede caía cada vez que se ligava o secador de cabelo ou o liquidificador. A evolução da tecnologia já suporta oscilações como estas, dada o isolamento conseguido nos equipamentos.
 
Na avaliação de Pimental, a regulamentação deve alavancar o primeiro grande uso do PLC, que são as aplicações de automação e medição de uso próprio da concessionária de energia. Essas aplicações já são usadas em baixa escala no Brasil e permitem a leitura remota dos medidores de energia elétrica, sem que um técnico precise ir ao local para realizar a tarefa. “A Itália tem 30 milhões de medidores conectados com a tecnologia”, informa Pimentel.
 
Mas é na oferta de serviços de banda larga que está a grande atratividade do PLC. Na teoria, as concessionárias de energia podem se tornar provedoras de serviços de telecomunicações, competindo com as teles. Ou podem ser parceiras das teles, entrando com a oferta de infra-estrutura para que elas ofereçam o serviço ao consumidor final. O modelo de negócios do PLC ainda é uma incógnita, já que a tecnologia é tão nova, mas os caminhos seguidas pela Brasil Telecom e pela Copel, por exemplo, mostram que as possibilidades são amplas.
 
Pioneirismo com o Videon
 
A BrT foi a primeira operadora brasileira a utilizar comercialmente o PLC. A solução vem sendo usada desde o início do ano na versão indoor, ou seja, dentro da casa do assinante, para transmissão do Videon, o serviço de IPTV da concessionária. Os testes começaram em 2006 e se mostraram satisfatórios, de acordo com o Sebastião do Nascimento Neto, engenheiro consultor de telecom da BrT. “Alcançamos taxas de transmissão de 200 megabits”, diz. Ele destaca que o PLC vem se mostrando bastante apropriado para fazer a conexão internamente, entre o modem, por onde chega o sinal do ADSL, e o aparelho de televisão. “Na maioria das vezes, a TV não está ao lado do computador e nem sempre é possível levar o cabo do ADSL até a sala de visitas. O PLC foi a solução”, explica.
 
Os planos da BrT para o PLC não param por aí. A operadora parte agora para testes com a solução outdoor, usando a rede de distribuição da concessionária de energia. Para esta primeira experiência, os trâmites foram acertados com a Celg, de Goiás, e os primeiros pilotos começam ainda este ano. “Enxergamos o PLC como complementar ao ADSL, para levar a banda larga onde a minha rede não alcança”, explica Nascimento.
 
Segundo o consultor, é vislumbrada uma série de serviços a serem oferecidos por meio da tecnologia PLC. A BrT começa a testar, por exemplo, uma espécie de PLC gateway, capaz de alimentar pequenos prédios comerciais. O equipamento é plugado na caixa de força do edifício e transforma todas as tomadas em ponto de rede. O ADSL, que chega pela rede de cabos telefônicos da concessionária de telefonia, é ligado no mesmo dispositivo, levando a banda larga para todo o prédio. Dessa forma, é eliminada a necessidade de modems em cada andar ou para cada microcomputador. “É uma solução apropriada para pequenos edifícios comerciais e muito atraente para hotéis e pousadas, por exemplo”, diz Nascimento.
 
Ele destaca que nos países europeus e no Japão já são comercializados gateways que integram ADSL, Wi-Fi e a interface de voz. Assim, com um único equipamento, a operadora oferece os três serviços, com a vantagem de dispensar o cabeamento interno. “A maioria das residências não tem cabeamento preparado para a variedade de serviços que existe hoje. O PLC resolve o problema usando a rede elétrica, que já está presente em todas as casas”, diz.
 
Nascimento assegura que a evolução dos equipamentos permitiu minimizar as interferências do uso da rede elétrica. “Os dispositivos mais modernos são capazes de absorver as flutuações sem derrubar a rede. A taxa de sucesso está em 80%”, informa.
 
Disputa com as teles
 
Enquanto a BrT vê a Celg como parceira, o modelo da Copel, no Paraná, é de concorrer diretamente com as teles na disputa pelo cliente final. “Com o PLC, resolvemos o problema de acesso”, diz o consultor para a área de telecom da Copel, Orlando César de Oliveira, que prevê uma revolução no setor com o início das ofertas comerciais de PLC. A própria Copel já testou a tecnologia em 2001 e 2002, sem que os resultados permitissem um lançamento comercial. Agora, com a evolução dos sistemas, está mais otimista. A empresa prepara um novo teste com PLC envolvendo 300 assinantes e um modelo inédito de negócio: a web sob demanda, ou WoD. A idéia é oferecer, pela rede elétrica, serviços de voz, banda larga, vigilância/segurança e vídeo sob demanda. Segundo Oliveira, a tecnologia disponível hoje permite o acesso a uma velocidade de 50 megabits por segundo. “Entramos na era da wideband”, diz ele.
 
Para o teste, a Copel fechou acordo com a BPL Global, que funcionará como integradora das soluções da sueca Ilevo. Nesta primeira fase, o projeto consumirá cerca de R$ 1 milhão, considerando apenas a compra dos equipamentos. Segundo Oliveira, o objetivo é dar impulso à tecnologia PLC e atrair investidores para o projeto. Em uma segunda fase, a Copel quer usar o PLC para cobrir todo um município, com a ambição de chegar a 3 milhões de usuários na fase 3. “Mas, antes disso, o business plan terá que mostrar a viabilidade econômica do projeto”, diz o consultor.
 
A idéia da Copel é oferecer ela própria os serviços de voz e acesso à internet, constituindo-se em mais um player no mercado de telecomunicações. “A Copel tem 3,5 milhões de consumidores, dos quais já tem todos os dados e conhece os hábitos de consumo”, destaca. A empresa já atua na oferta de conectividade para o mercado corporativo por meio da Copel Telecom, que também trabalha em parceria com as teles vendendo capacidade de infra-estrutura. A rede da empresa cobre 180 cidades, com mais de 180 quilômetros de fibra, e atende 600 empresas. Para este público, a Copel está dando mais um passo na oferta de serviços: a empresa entrou com pedido de licença de STFC (Serviço Telefônico Fixo Comutado) para oferta de voz. Com isso, ganhará um plano de numeração e entra na disputa direta do cliente com as concessionárias de telefonia.
 
Para oferecer o serviço de telecom, seja ele em qualquer modelo de negócios, praticamente todas as concessionárias de energia constituíram subsidiárias para a área de telecomunicações, já que a regulação do setor de energia elétrica veta a oferta pela própria empresa. Uma das mais antigas é a Infovias, braço da mineira Cemig, que realizou testes com o PLC em 2002. “Desde então, problemas como interferências e quedas foram minimizados”, explica o gerente de engenharia de redes, Wanderley Maia Filho. Agora, com a regulamentação dos sistemas, ele conta que a idéia é usar o PLC na última milha, aquela que chega ao usuário final. “A tecnologia deverá ser usada complementarmente à rede óptica”, explica. Maia Filho faz uma ressalva: o PLC deverá ainda ser avaliado do ponto de vista econômico, comparativamente a outras tecnologias em estudo pela Infovias, como Wi-Fi, Wi-Mash e WiMAX. O modelo de negócios, no entanto, não deverá ser alterado. “Continuamos com foco no corporativo. Não temos a intenção de chegar ao cliente residencial”, diz ele.
 
Outras empresas, sem a licença para serviços de telecom, avaliam os sistemas somente para uso próprio. É o caso da Celesc, de Santa Catarina, que também testou o PLC há mais de cinco anos para conhecer a performance da tecnologia. “A tecnologia não estava tão madura, motivo pelo qual optamos por investir na infra-estrutura óptica”, afirma o chefe da divisão de manutenção e instalação de telecomunicações da concessionária, Edson Luiz Souza. Segundo ele, a Celesc deve aguardar para ver o que acontece com a tecnologia pós-regulamentação, para decidir pela adoção ou não do PLC. “Os preços dos equipamentos ainda não são competitivos”, pondera Souza.
 
Não são apenas as concessionárias de energia que estão de olho no potencial de negócios com PLC. Os fabricantes de equipamentos também estão atentos às possibilidades que se abrem com a nova tecnologia. E ela deve por em cana nomes até então distantes do mercado de telecomunicações, como é o caso da Panasonic, mais conhecida pela fabricação de aparelhos de áudio e vídeo. “A proposta da Panasonic é integrar a solução de PLC aos equipamentos”, diz o consultor técnico da empresa, Eduardo Kitayama. Ele conta que, no Japão, a Panasonic já comercializa equipamentos como porteiro eletrônico e até TV de plasma com conexão para PLC, além do próprio modem de acesso. “A regulamentação deve favorecer a disseminação da tecnologia”, diz ele. Enquanto isso, a Panasonic procura parceiros no Brasil para demonstrar suas soluções baseadas em PLC. Kitayama informa que a empresa está fechando uma parceria com um fabricante de medidores de água e energia elétrica para embutir a tecnologia nos equipamentos, o que permitirá a leitura dos dados remotamente.
 
Outra aposta da Panasonic, e de toda a comunidade envolvida com PLC no Brasil, são os novos testes com a tecnologia que começam a ser feitos em Barreirinhas, no Maranhão. A Aptel já havia realizado uma experiência piloto de seis meses em 2004. Agora, parceria com a iniciativa privada e governos, serão aportados mais de R$ 5 milhões em dois anos de experiências, que envolvem inclusive aplicações inovadoras, como o uso do PLC como canal de retorno para a TV digital.
 
Essa aplicação, em particular, conta com o apoio da Comunidade Européia, que está colocando 2 milhões de euros no projeto, além do suporte de fabricantes europeus e japoneses. O interesse da Comunidade Européia se justifica pelo fato de o PLC já estar em estágio mais avançado na região, que deseja disseminar o padrão, mais amplamente usado em aplicações outdoor, ao passo que o padrão japonês tem se mostrado mais adequado a aplicações indoor.
 
Outros fabricantes deverão aportar mais R$ 1,5 milhão na experiência piloto, que pretende mostrar a viabilidade do PLC para oferta da banda larga. Em parceria com a Panasonic, será usado um link do Gesac (Governo Eletrônico – Programa de Atendimento ao Cidadão) para levar o acesso a uma biblioteca local, transformando as tomadas em pontos de rede. Outro sistema, desta vez outdoor, deve conectar outros 50 pontos em toda a cidade e a idéia é estender a experiência para mais de 100 pontos até o final do ano. O presidente da Aptel, Pedro Luiz Jatobá, acredita que a regulamentação do PLC deve favorecer a vinda de outros fornecedores para o país, contribuindo para disseminar o uso da tecnologia.
 
O interesse pela tecnologia chega também ao meio acadêmico. A UniverCidade, instituição privada de ensino do Rio de Janeiro, inseriu a matéria de BPL (Broadband Power Line) no curso de graduação tecnológica e no curso de pós-graduação em redes de computadores da Escola de Ciências Exatas e Tecnologia. A iniciativa contou com a parceria da AES Communications, prestadora de serviços de telecomunicações no Estado do Rio de Janeiro que vem realizando testes com a tecnologia há anos. A AES Com equipou um laboratório com a tecnologia, além de treinar os professores, que abordam a evolução da tecnologia, requisitos para sua implementação, principais aplicações, interação com outras tecnologias, topologias de rede e configuração de equipamentos.