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Fonte: UFMG
[01/02/10]   Coordenador da rádio UFMG Educativa fala sobre mudanças que o sistema de rádio digital deve produzir na emissora

O início dos testes para transmissão radiofônica pelo sistema digital em Minas Gerais já começa a ganhar corpo na UFMG. No final da semana passada, técnicos do Ministério das Comunicações começaram a instalar os equipamentos no estúdio da rádio UFMG Educativa, que participará do processo no estado. De acordo com informações divulgadas pela assessoria de imprensa do Ministério, até meados deste mês o governo federal pretende anunciar o padrão que será adotado no Brasil. As avaliações consideraram sobretudo o padrão norte-americano (Iboc) e o europeu (DRM). Em entrevista concedida ao Portal UFMG, o jornalista e coordenador da emissora Elias Santos comentou sobre as repercussões que essa mudança tecnológica deverá produzir na rádio da Universidade.

Por que a a emissora da UFMG foi escolhida para participar do teste do padrão para rádio digital no país?

Acho que é bem lógico, pois trata-se da definição de um padrão que vai ser utilizado por toda a comunicação de rádio do Brasil. Então, até para evitar que interesses econômicos dominem essa decisão, é natural que a nossa emissora, que é educativa, ou seja, sem interesse comercial, e ligada a uma universidade pública seja utilizada para isso. Não temos interesse comercial algum – nenhum fornecedor nos procurou e não sofremos nenhum tipo de pressão nesse contexto. Isso nos dá certa tranquilidade e independência para servir para testes. Além do mais, desde a criação da emissora, sempre pautamos nossa atuação junto com a Universidade, para que ela também contribuísse na formação complementar dos alunos e fosse campo para estudos que existem aqui dentro. Um exemplo é a parceria com o Departamento de Engenharia Eletrônica, em que há pessoas que estão pesquisando rádio e tv digital. Logo, quando o Ministério pediu para as universidades públicas participarem dos testes – que foi uma boa decisão, até para evitar problemas ocorridos anteriormente, como no caso da tv digital –, naturalmente a UFMG se destacou e a emissora "pegou carona", já que somos parte da Universidade. Quando o professor Cássio Gonçalves do Rego, que integra grupo de especialistas brasileiro que avalia esse processo, disse que precisaria que a UFMG Educativa para realizar os testes, concordei imediatamente. Primeiro, porque quero saber como vai ser esse rádio digital em primeira mão. Se vai funcionar ou se não vai; e como vai funcionar. E em segundo lugar, porque há o interesse institucional – sabemos da importância dessa participação e vamos atender todas as condições, mesmo que tenhamos para isso de tirar a rádio do ar.

Quando haverá interrupção da transmissão convencional?

Vamos estudar os horários para nos adaptar às necessidades. Mas há uma questão importante. Como profissional me interesso muito pela história do rádio, e como a evolução tecnológica influencia diretamente na produção de conteúdo. Não é possível, nesse meio, sermos meros produtores de conteúdo sem ter pelo menos curiosidade na evolução tecnológica. É claro, não somos engenheiros. Mas esses dois campos não podem mais trabalhar separados e nesses momentos de mudanças tecnológicas, a interlocução com a engenharia se faz mais visível ainda. Na história do rádio, quando uma tecnologia nova foi introduzida, como por exemplo o telefone, a produção de notícias mudou completamente. No caso, ele permitiu maior agilidade ao jornalismo. Outro exemplo foi a exploração da frequência modulada, ou a rádio FM, que é local e possui um sinal de melhor qualidade. Exatamente por esse motivo, a rádio passou a tocar mais música. Antes, muitos músicos e gravadoras não gostavam da execução de suas músicas no sistema AM, que "chia" bastante. Vem daí a velha história de pouco papo e muita música na rádio FM – mas agora tem mudado.

Como a rádio UFMG Educativa pretende explorar o sistema digital?

Estamos num exercício de adivinhação. Por isso me interessa muito participar de perto desse processo de avaliação do padrão digital. Há várias especulações. Por exemplo, todos sabem que o sistema permite ter mais de um programa sendo transmitido na mesma frequência. A tv digital também poderia ter isso, mas algumas emissoras estão preferindo não fazê-lo, para garantir qualidade de imagem. É algo meio duvidoso, mas... No rádio, no momento em que você puder acessar seu conteúdo preferido no horário que escolher, questões essenciais podem mudar a característica do veículo. O rádio possui um papel único: ele marca a hora da nossa vida. Muitas pessoas se planejam tendo como referência a hora do jornal, do programa de um comentarista etc. Parece simplismo, mas é um serviço de utilidade vendido nas rádios comerciais; você é "obrigado" a anunciar a hora certa porque tem um patrocínio. Como é que nós vamos ficar se você puder ter acesso a seu conteúdo no melhor horário seu, o do ouvinte? Você não precisa ouvir Elias Santos às 10h da manhã; pode ouvir em outro horário que escolher.

Nos Estados Unidos houve grande diversificação de serviços que são vendidos: rádios sobre esportes para automóveis, por exemplo...

Exatamente. E retornando à pergunta sobre o que estamos planejando, queremos criar uma segunda rádio, uma espécie de rádio alternativa, em um outro canal, na internet. Temos hoje, é claro, arquivos de programas disponíveis para o ouvinte na Web, além de transmissão ao vivo. Mas gostaríamos de testar outra programação. A tendência é optar por um canal científico, com menos música. A rádio trabalha muito com a lógica de tal programa, tal horário. Ali poderíamos subverter um pouco isso.

Essa rádio teria uma transmissão em tempo real também? Ou seria sob demanda?

Não sei, a minha ideia é que ela faça as duas coisas, como ocorre hoje. Mas poderia ter uma programação altamente segmentada e sem o compromisso de tal dia, tal horário. Inclusive para os produtores de conteúdo, ela atuaria de maneira mais dinâmica.

Essa experiência estaria próxima do modelo da transmissão múltipla do rádio digital?

Exatamente. Porque já estou preocupado com isso: se tivermos a possibilidade de quatro canais, quatro programações diferentes, como vamos lidar com isso? Temos de pensar melhor nessa lógica.

A UFMG Educativa obteve autorização para ampliar sua potência. Agora, com a transmissão digital, quais as necessidades de investimentos?

São duas demandas diferentes. Independentemente do rádio digital, conseguimos o aumento de potência. Só que precisamos de um transmissor que já trabalhe com o novo sistema. Ele é mais caro, mas é importante incluir a tecnologia certa para não ficarmos defasados daqui a dois anos. Ainda não compramos os equipamentos, mas o valor estimado é de R$ 1 milhão e contempla as duas necessidades: migração e aumento de potência.

Não é possível uma solução mais simples?

Não. Temos de mudar antena, com o aumento da potência. A torre também deverá ser mais alta, os cabos são outros, tudo é diferente. Precisamos ainda de um gerador de energia, pois quando cai energia o transmissor desliga. Isso não pode mais ocorrer. Essa seria a nossa passagem para a adolescência para ficarmos no mesmo patamar das outras emissoras, do ponto de vista da infraestrutura. Mas a migração para o sistema digital envolve interesse público mais global e o governo deverá olhar isso de modo especial. Se o processo for muito caro, só as rádios grandes vão conseguir realizar a passagem, como está acontecendo com a TV. Estamos atentos também para outra questão na UFMG Educativa: queremos trabalhar melhor essa ferramenta digital junto às unidades acadêmicas da Universidade. Esse é um espaço em que se experimenta e a participação dos alunos e a interação com projetos de pesquisa são fundamentais também nesse momento de mudança.