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Leia na Fonte: Painel Brasil
[28/12/12] 
Rádio Digital - Entrevista com o jornalista Marcelo Goedert, representante do 
consórcio internacional DRM
Nota: Na fonte, não consta a data do vídeo e do texto. 
Acessei em 28/12/12. HR
Ver vídeo
aqui. 
Transcrição:
Rosa: Olá, está começando mais um Painel Brasil e eu recebo Marcelo Goedert.
Ele é jornalista, representante do consórcio internacional DRM, Digital Radio 
Mundiale aqui no Brasil. O nosso assunto é a implantação da rádio digital no 
Brasil. Tudo bem, Marcelo?
Marcelo: Olá Rosa, tudo bem? Prazer em estar aqui com vocês.
Rosa: Muito obrigada, agradeço a sua presença, que eu sei que essa entrevista 
vai ser bastante esclarecedora, para que as pessoas tomem conhecimento do 
andamento da implantação das rádios digitais no Brasil.
Primeiramente, eu gostaria que você explicasse o que é a rádio digital, para que 
os nossos internautas comecem a dar esse primeiro passo no conhecimento dessa 
nova tecnologia da radiofonia no Brasil.
Marcelo: Bom Rosa, o rádio digital é uma nova transmissão radiofônica. Hoje nós 
temos o rádio analógico, que é transmitido para uma emissora de rádio, todos 
conhecem através de um transmissor com uma antena, e nós temos receptores de 
rádio no carro, hoje, no celular, em casa, que a gente sintoniza rádio como há 
90 anos isso acontece.
Aliás, o rádio é o único meio de comunicação eletrônico, que ainda utiliza o 
mesmo sistema de transmissão há 90 anos. Então, isso colocou o rádio numa 
situação difícil, com as novas mídias digitais a concorrência aumentou, então o 
rádio vem perdendo cada vez mais espaço e a digitalização é um passo muito 
importante para o rádio no Brasil, para modernizar essa plataforma de 
transmissão.
Então, o rádio digital segue os mesmos padrões, vão continuar a ser as emissoras 
que vão transmitir, via antena, vão ter aparelhos receptores de rádio, só que o 
sinal, em vez de ser transmitido em ondas hertzianas, como foi esse tempo todo, 
é transmitido em digital agora, em zeros e uns. Então, o transmissor codifica e 
o receptor decodifica o sinal digital da emissora de rádio. Então, ele não 
depende de internet, o rádio digital não precisa de internet e, assim, o 
receptor atual de rádio não pega o rádio digital.
Rosa: Ah, é isso que eu queria perguntar.
Marcelo: Pois é, não.
Rosa: Vamos ter que mudar tudo, então.
Marcelo: Sim, temos que trocar nossos receptores. É claro que não é de hoje para 
amanhã. A gente tem uma previsão de estudos, de um período de transição entre 5 
e 10 anos. Não vai ter um apagão analógico, a rádio que você está ouvindo, que 
você gosta não vai sumir de repente do seu dial e agora você só vai escutar se 
tiver um receptor digital. Não é isso. Inclusive, tem um grande período aí que 
vai ser o que estão chamando de "simulcasting", que vão transmitir nos dois 
formatos, tanto em analógico quanto em digital, a mesma emissora. Então, a 
emissora vai passar a transmitir em digital, vai transmitir nos dois formatos. 
Quem tem o receptor digital, vai ouvir em digital. Quem tem o receptor 
analógico, vai ouvir em analógico.
Rosa: E aí, a pessoa terá, no caso, como você colocou, de 5 até 10 anos para 
essa mudança.
Marcelo: Não. A gente está prevendo. Nós fizemos um plano de implantação, porque 
a implantação do rádio digital envolve todos os atores do rádio, desde a 
indústria, que produz os transmissores, que produz os receptores, até os 
radialistas que precisam aprender a gerar novos conteúdos no rádio digital, 
porque o rádio digital tem condições de levar para o ouvinte bem mais do que um 
rádio analógico leva hoje.
Rosa: Você comentou anteriormente, antes da nossa entrevista, que uma rádio, 
hoje analógica, poderá automaticamente ter 3 canais a mais. Ela é obrigada a 
usar esses 4 canais ou ela pode usar gradativamente?
Marcelo: Não, ela não vai ser obrigada. Isso vai depender de regulamentação do 
Governo, quando implantar o sistema.
Os sistemas de rádio digital que hoje estão disponíveis para o Brasil permitem 
geração de 4 conteúdos na mesma frequência. Se vão gerar, ou não, é opção do 
Governo normatizar e autorizar isso e opção da emissora querer transmitir. Mas, 
eu digo 4 conteúdos porque a emissora pode transmitir através do sinal digital, 
dados, não música. Então digamos, numa situação em que uma emissora pode 
escolher até 3 canais de música e um canal de dados. O que é “dados”? Dados são 
informação, são dados. O aparelho receptor de rádio digital, seja no seu carro, 
seja onde você o tem, vai ter uma tela.
Rosa: Ah, entendi.
Marcelo: Então, por exemplo, um exemplo simples: a emissora pode estar tocando 
uma música e transmitir a foto do cantor. A emissora pode estar tocando uma 
música e transmitir a lista das próximas músicas ou dos próximos programas que 
vão entrar no ar. A emissora pode estar transmitindo um jogo de futebol e pelos 
dados, pela telinha, transmitir resultado dos outros jogos.
Rosa: E ela pode também, simultaneamente, colocar os 4 canais dela e a pessoa 
clicar, ou touch, e mudar para aquela programação que ela quer naquele momento?
Marcelo: Sim, sim. A emissora pode ter um canal A, B e C de música, e o canal D 
são dados. Então, o canal D está ali na tela, é o que ela está enviando para a 
tela da pessoa, que pode ser como eu falei: texto, pode ser foto, pode ser o que 
ele quiser. E os canais de música, a pessoa vai querer ouvir, vai ouvir a "rádio 
nacional A, B ou C", qual a programação que você quer ouvir? Então, a rádio pode 
trabalhar... Pode talvez exibir a mesma programação com algum tempo de atraso, 
como as televisões a cabo faziam em algum tempo atrás. Tinha uma emissora 1 e 2. 
A 2 transmitia a mesma programação com 6 horas de atraso. Então, ela pode fazer 
isso ou transmitir uma programação totalmente diferente. Então, na mesma 
frequência, a emissora pode ir até 4 conteúdos. Aí a emissora vai escolher o que 
vai transmitir, se vai transmitir, porque ela pode escolher não transmitir.
Rosa: O que é que você acredita? Que isso vai viabilizar mais economicamente as 
rádios, as emissoras? Como é que você vê esse mercado, a partir daí?
Marcelo: Olha, a digitalização, como eu falei anteriormente, é um passo muito 
importante porque ela eleva a mídia rádio, ela traz o rádio para o mundo 
digital. E aí pode haver a convergência com outras mídias. Então, assim, o rádio 
digital pode transmitir dados e se ele tiver conectado na internet, digamos que 
você vai ouvir no seu celular, se o seu celular tiver conectado na internet a 
emissora pode botar um botão na tela pra você votar em uma música ou pra você 
saber mais daquele conteúdo, você vai ter interatividade. A vinda pro seu 
receptor é via antena, via rádio. A volta é via internet, o seu receptor tem que 
estar conectado na internet. Então, essa interatividade acontece se você tiver 
em casa, ouvindo rádio, e você tem wi-fi na sua casa, você está com seu rádio 
conectado. O rádio digital, por exemplo, os aparelhos que já são fabricados no 
exterior, eles tem uma saída USB. Então, pense que uma rádio pode transmitir, 
através desses dados, um cupom em que você vai clicar na tela, nesse USB 
conectado na sua impressora, você vai imprimir um cupom, vai na loja e tem um 
desconto.
Então, você vê que o rádio digital ele leva o rádio a um patamar de poder 
convergir, com as novas mídias digitais, pode conversar agora com as novas 
mídias digitais, trocar informação. Você pode passar de uma mídia para outra, e 
transferir conteúdo, o que o rádio analógico hoje em dia não permite. O rádio 
analógico hoje só transmite o sinal musical e ele não “conversa” com mais 
ninguém.
Então, isso gera uma possibilidade de negócios muito grande, para as rádios 
comerciais. Imagina no spot de rádio, o cliente não precisa mais botar o 
telefone, ele vai botar o telefone na tela. Ou outros dados... Você pode 
anunciar um evento e dizer: "Olha, na tela tem um botão. Se você quer comprar 
seu ingresso agora, clique no botão..." há a hipótese de eu estar conectado na 
internet, você já vai lá, compra o ingresso e na compra do ingresso a empresa do 
evento já sabe que aquele ouvinte comprou seu ingresso porque ouviu na emissora 
"X". Então pode haver uma remuneração. Então a radio digital abre vários novos 
modelos de negócios.
Rosa: É um negócio interessante. Porque você sabe que no Brasil há 3 rádios para 
cada cidadão brasileiro. Então, é um número extraordinário. Agora, ele é muito 
difundido hoje no interior do país. De repente, a única comunicação que as 
pessoas recebem é através do rádio. Você está há 25 anos nesse ramo de rádio, 
como que você acha que vai ser essa interiorização? Ou isso aí vai levar mais de 
10, 15 anos?
Marcelo: Não, eu só queria voltar um pouco no que eu falei do lado comercial que 
o rádio digital vai ganhar, mas tem o lado social também. Porque toda essa 
informação que virá via dados e que vai chegar também através de outros canais 
de conteúdo, vão chegar até o interior. Então, uma rádio educativa pode estar 
transmitindo música num canal, cursos no outro canal e tudo acessível, com 
imagem, com tela. Você pode ensinar uma pessoa a escrever aparecendo a palavra 
na tela. Então, assim, a digital abre novas possibilidades sociais, de educação, 
de todo esse lado social, enfim, formação, transmissão e formação de conteúdo 
etc. Então, a rádio digital pode ajudar.
Como vai ser essa transição no interior vai depender muito do modelo que o 
Governo adotar. Vai depender muito de como o Governo vai conduzir esse processo 
de digitalização. O sistema do qual sou representante, DRM, tem planejamentos de 
receptores daqui a 3 anos, que vão custar, no máximo 20 dólares, que hoje são 40 
reais, um receptor de rádio, com tela. Isso é uma projeção. A gente pode até 
chegar a um valor menor, dependendo da quantidade. Então isso vai permitir que o 
interior do país possa acessar.
E tem outra questão, o nosso sistema é o único que digitaliza as ondas curtas. É 
um sistema que foi criado para ser um sistema mundial, para ser um sistema que 
atenda todas as bandas do rádio. Todas as frequências, não só o lado comercial, 
que hoje está centralizado na FM, mas as ondas curtas, as ondas tropicais, que 
são ondas de segurança, ondas educativas. As ondas curtas e a AM é o que chega 
na beira do rio, como você está falando, é o que chega lá no interior do Mato 
Grosso, são as ondas curtas e a AM. Então, por exemplo, ele digitaliza muito bem 
essas ondas curtas e a gente tem condições de chegar a essas populações 
rapidamente. 
Rosa: Marcelo, são dois sistemas que estão aí disponíveis e um deles será 
escolhido e quando vai acontecer essa definição?
Marcelo: Olha, a promessa do Ministério das Comunicações é que até o final deste 
ano seja definido o sistema brasileiro de rádio digital.
Rosa: A partir daí, a escolhida terá, para iniciar esse 
sinal, vamos supor, tem que ter uma estrutura interna. Essa estrutura interna do 
Brasil já existe ou ela ainda vai ser feita?
Marcelo: Não, já existe estrutura interna. Eu posso falar pelo meu sistema. Nós 
já temos uma estrutura interna, porque, como é que funciona o DRM? O consórcio 
DRM ele é uma entidade sem fins lucrativos, com objetivo de divulgar e organizar 
a norma. O consórcio é composto por mais de 100 associados, que são: 8 
universidades, institutos de pesquisa da Europa e do mundo inteiro; fabricantes 
de transmissores, de receptores; a BBC de Londres. Atualmente, a nossa 
presidente é da BBC de Londres, é membro do consórcio.
Então, é um grupo de entidades que se reuniu, que criou o sistema e que hoje 
divulga o sistema. Essa divulgação é através do consórcio. Então, o consórcio 
não faz negócio. Seus membros fazem.
Então, assim, nós já criamos a plataforma Brasil do consórcio DRM. Ou seja, de 
semelhantes sem fins lucrativos no Brasil, que nós já temos associados da 
indústria brasileira, tanto de transmissores quanto de receptores. Já temos 
universidades, já temos vários sócios que estão prontos para que no momento, se 
o nosso sistema for o sistema escolhido, a plataforma DRM Brasil, como é 
chamada, está pronta para começar a organizar esse processo de digitalização.
E ai, qual é o primeiro passo? O primeiro passo é marcar uma data para o início 
da operação do rádio digital no Brasil. E por que é importante marcar uma data? 
Assim, na Europa e em outros países que já adotaram nosso sistema, porque aí 
tudo converge para aquela data. Aí a indústria de transmissores vai começar a 
produzir transmissores, a indústria de receptores vai começar a produzir, as 
rádios vão começar a aprender a fazer rádio digital, vão começar a ver quanto 
custa, quanto precisa.
Vai todo mundo trabalhar para chegar naquele dia. Seja daqui a 6 meses, 1 ano. O 
Governo é que vai decidir. Chegar naquele dia, haja conteúdo, hajam emissoras 
transmitindo digital, haja rádios nas prateleiras das lojas para quem quiser 
comprar. Os carros já estejam saindo da concessionária com a opção do rádio 
digital, os celulares já tenham chips adaptados, "olha se você quiser um chip 
para rádio digital você pode botar", tudo converge para aquele dia de 
lançamento. Diz "olha, a partir de hoje o Brasil está transmitindo".
Rosa: Marcelo, esse é um assunto que a gente poderia falar o dia inteiro, com 
certeza absoluta. Então, assim, para encerrar. Alguém que queira mais informação 
a respeito desse assunto, qual seria uma página na internet que pudesse acessar?
Marcelo: Olha, a página do DRM Brasil, www.drm-brasil.org, ou a página do DRM 
internacional, que é www.drm.org, lá tem em português também, tem uma versão 
toda em português, que é uma página internacional, mas tem uma versão toda em 
português. São as páginas que eu recomendo.
O Ministério das Comunicações também tem uma parte de rádio digital no site 
deles. Onde eles inclusive publicaram todos os testes que foram feitos, com os 
dois sistemas de 2010 para cá. Todos os testes, tanto em AM quanto em FM, o 
resultado lá com críticas e com avaliações dos testes, no site do Ministério das 
Comunicações. Então, lá também tem muita informação interessante.
Rosa: Ótimo, adorei a entrevista. Tenho certeza que os nossos internautas também 
gostaram bastante, porque é uma novidade. A tecnologia, não é, Marcelo, é uma 
coisa linda que a gente está passando agora. Essa história de você poder, 
através de um celular, através da televisão, através de nossas várias mídias, 
não é, essa convergência é muito interessante.
Marcelo: Pois é justamente para poder entrar nesse jogo da convergência que o 
rádio precisa digitalizar-se. E a gente vive uma situação no Brasil em que nós 
temos pouco mais de 30 emissoras de TV. E nós temos quase 10 mil emissoras de 
rádio. Veja a dimensão de uma coisa e de outra. É muito importante, é um 
processo grande, porque nós temos aí rádios comunitárias, rádios comerciais, 
rádios educativas, rádios públicas. quatro tipos de rádio, cada uma com a sua 
função, cada uma com seu objetivo. E o Brasil precisa digitalizar e precisa 
digitalizar com um sistema que atenda todo mundo. Isso que é muito importante.
Rosa: Ok, obrigada.
Marcelo: Foi um prazer, obrigado.
Obrigado Rosa.