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Fonte: Gizmodo
[06/10/12]
A história e os mistérios de segurança que rondam a urna eletrônica brasileira
- por Ana Mões
A Constituição nos garante democracia, e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
garante o voto secreto. Para que ambos sejam possíveis, temos a famosa urna
eletrônica. Esta máquina de votar é usada em muitos outros países, mas muitos
outros a evitam. Será que seu voto é realmente secreto e seguro? Especialistas
questionam, enquanto o TSE bate recordes de velocidade de apuração.
Com a proximidade das eleições municipais para escolha de prefeitos e
vereadores, que ocorrerá no próximo domingo (7), naturalmente voltamos a prestar
atenção na política. Alguns de nós, especialmente aqueles que já tiveram o
computador ou o celular infectado por malware, pode se questionar: a urna
eletrônica é como um computador ou um celular — se estes podem ser hackeados e
manipulados, por que a urna não seria? Será que existe mesmo um método infalível
para evitar fraudes? Uma criptografia realmente capaz de manter o sigilo do seu
voto?
Muita polêmica cerca o uso da máquina, mas, de uma maneira ou de outra, ela está
evoluindo. A tecnologia chegou às eleições em 1986. À época, um recadastramento
nacional para unificou e informatizou as informações dos eleitores de todo o
Brasil. Após a modernização do banco de dados do TSE, era a vez de os votos
serem atualizados. Na época, os votos eram apurados manualmente e digitalizados
em seguida. Já em 1995, a Justiça Eleitoral tinha uma ótima rede de dados e um
banco de dados informatizado pronto para ser utilizado. Isto permitiu a
informatização real do voto, e, com isso, veio nossa urna eletrônica. Ela foi
planejada com carinho e cuidado para diminuir a quantidade de votos nulos e
facilitar a votação para analfabetos e idosos. Para tal, um código numérico foi
adotado.
O primeiro modelo de urna, UE96, rodava o sistema operacional VirtuOS e contava
com um teclado numérico igual ao de um telefone — o objetivo era facilitar o
voto do cidadão brasileiro. Com ela, no ano de 1996, milhares de cidadãos do
Estado de São Paulo puderam votar de maneira mais “tecnológica”. A urna seguiu
evoluindo e ampliando os municípios onde era utilizada, até chegar a 100% dos
municípios em 2000. Neste período, as urnas foram se atualizando. Surgiram os
modelos UE98 e UE2000, que também utilizavam o mesmo sistema operacional. Mas a
evolução das “máquinas da cidadania” requeria algo novo e, aos poucos, as já
obsoletas urnas foram substituídas para os modelos com Windows CE (sim, o mesmo
do seu Dreamcast!) nas eleições de 2002, 2004 e 2006. De 2008 em diante as urnas
passaram a utilizar o sistema operacional aberto Linux, considerado ideal para
ambientes que requerem altíssima segurança. Apesar da evolução das urnas ser
constante, ela é rodeada por uma imensa indecisão: como os votos devem ser
transportados? Por pendrive ou impressos em papel? Ambos têm suas desvantagens.
Lei após lei, a impressão de voto foi permitida (lei 10.408) e depois proibida
(10.740). Em 2009 houve uma nova tentativa de permitir a impressão de votos
(12.034), mas esta foi negada, pois a Procuradoria Geral da República sugeriu
que a impressão acabaria por expor a escolha de cada eleitor.
As urnas atuais possuem um terminal do mesário, que garante quem votou ou não
independente do voto; um terminal do eleitor, onde os votos são contados
digitalmente; um módulo impressor que garante que a urna não foi adulterada nem
antes nem depois das votações: A “zerésima”, impressão que garante que a urna
está “zerada” antes da eleição, e o “boletim de urna”. As máquinas também contam
com um pendrive, capaz de guardar o resultado da votação e dois cartões de
memórias flash – um interno e outro externo. Com dados idênticos, estes cartões
armazenam o sistema operacional, os programas aplicativos e os votos dos
candidatos, que são guardados através de mecanismos de segurança e redundância.
Digitalizado ou não, muitos especialistas não gostam do nosso atual meio de
votação por considerá-lo passível de fraude. Nossas urnas são consideradas de
primeira geração, por terem como característica a desmaterialização do voto e a
gravação do mesmo em meio digital eletrônico, sendo posteriormente apurado.
Alguns países, como a Venezuela, utilizam equipamentos de segunda geração. Estes
são baseados no Princípio da Independência do Software em Sistemas Eleitorais, e
imprimem o voto e permitem uma recontagem, caso seja necessário. Enquanto isso,
algumas cidades dos Estados Unidos e da Argentina utilizam modelos de terceira
geração. Estas máquinas rodam o sistema Scantegrity, que escaneia e criptografa
os votos, permitindo que o eleitor acompanhe a correta apuração de seu voto,
garantindo sigilo independentemente de confiar no software.
Alguns países, como Índia e Holanda, deixaram de utilizar o sistema de primeira
geração. Eles acreditam que o sistema seria fácil de burlar. Esta crença de que
as urnas seriam manipuláveis não veio sem razão: Estados Unidos, Holanda,
Paraguai e Índia propuseram testes livres – qualquer pessoa poderia utilizar
qualquer tipo de software para tentar penetrar na segurança das urnas
eletrônicas, descobrir quem votou em quem e até modificar os resultados. Nestes
testes, os hackers obtiveram assustadores 100% de sucesso. Você pode ler mais
sobre como isto foi conseguido aqui, aqui e aqui. O Brasil foi o primeiro a
informatizar o sistema de eleição e, para provar que as urnas eram seguras, o
TSE propôs um teste com especialistas, para verificar e demonstrar a segurança
do voto eletrônico. Só que os Testes de Penetração, feitos em junho de 2009,
restringiram o uso de software dos especialistas — somente alguns programas
específicos puderam ser utilizados. Assim, em ambiente restrito, o TSE bateu o
martelo e afirmou que as urnas atuais são seguras.
Há uma imensa preocupação em evitar a adulteração de informação das eleições no
Brasil. Testes de penetração no Brasil acontecem com frequência, e seus
resultados são mistos: alguns confirmam a segurança, enquanto outros questionam
possíveis falhas e brechas. As autoridades se esforçam para que todos exerçam o
direito ao voto de maneira sigilosa. As urnas biométricas tentam deixar ainda
mais difícil a manipulação de dados. Mas ainda utilizamos um meio inteiramente
baseado em software para votar, já considerado obsoleto em muitos países.
Atualmente, a mistura considerada ideal é de confiança em software, mas também
em transparência em sua apuração, seja com votos impressos ou escaneados, seja
com a confirmação pessoal de um registro digital — a garantia de que seu voto
realmente foi computado. Bater recordes atrás de recordes em velocidade de
apuração é louvável, mas pode não bastar para a democracia. [Via Olhar Digital e
Wikipedia; crédito das imagens: 1) montagem do Site dos Menes intitulada "A Urna
Desconfiada"; 2) Rodolfo Buhrer/AE; 3) Redetec]