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Fonte: Caderno Link do Estadão
[02/10/06]  A urna eletrônica é segura? (Parte 1) - por Pedro Doria

"A falta de segurança da urna eletrônica não é apenas hipotética. É só que o TSE e a maioria dos políticos, como os banqueiros, preferem não divulgar as falhas aos gritos"

Ontem, todos nós em idade de votar fomos às urnas escolher entre os menos piores. Votar deveria ser direito, não dever – mas esta é outra discussão. Fomos votar em candidatos difíceis de pinçar, a maioria de nós um quê desanimados, mas ao menos convictos de que fraude, daquelas homéricas como aconteciam no tempo do Ademar, já não existem mais. Estamos protegidos pela tecnologia.

Mas será? A urna eletrônica nos protege realmente da corrupção eleitoral? A trupe sábia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quando perguntada e implorando para que não ter o nome revelado, diz que segura a urna é. Só não evita é o voto comprado direto do eleitor, como acontece em muitos rincões do País, principalmente no interior. Quer dizer: corrupto, só o pobre que vende o voto. Internamente não há risco. Certo: o Estado brasileiro é incorruptível.

A urna eletrônica não tem nada de segura. Nada digital é seguro – ponto. Porque segurança absoluta não existe. Bancos são invadidos e roubados a toda hora. Não divulgam porque os sistemas digitais ajudam a economizar tanto dinheiro que preferem arcar com o prejuízo sem confessar aos clientes que seguro, mesmo, não é.

A falta de segurança da urna eletrônica não é apenas hipotética. É só que o TSE e a maioria dos políticos, como os banqueiros, preferem não divulgar as falhas aos gritos. Veja-se o caso da eleição para governador do Distrito Federal, há quatro anos. Naquele pleito, Joaquim Roriz (PMDB) foi reeleito governador levando pouco mais que 12 mil votos além dos de seu adversário, Geraldo Magela, do PT. No percentual, a diferença entre um e outro não chegou a 1,5% dos votos de Brasília e cidades satélites.

Na época, pipocaram acusações de irregularidades no processo eleitoral pela imprensa local. O PT-DF contratou uma equipe que conhecia profundamente a tecnologia das urnas – tinha participado de seu projeto, afinal – e, para investigar, eles não precisaram ir muito além dos dados oficiais do TSE. Foram distribuídas 1.153 urnas, mas apenas 600 emitiram a zerésima. A zerésima é um documento muito simples: a urna cospe antes de ser aberta um papelucho que afirma não haver qualquer voto previamente registrado.

Ou seja, não é possível afirmar que metade das urnas no Distrito Federal estavam zeradas quando veio o segundo turno das eleições.

Aquela eleição foi apavorante. Dentre todas as quase 1.200 urnas, apenas 121 produziram autotestes com sucesso; apenas 145 produziram boletins de urna considerados pelo próprio sistema das urnas correto e livre de erros. Evidentemente, gente do PT-DF se mobilizou para sair divulgando para quem quer que fosse.

Encontraram dois problemas. O primeiro, na imprensa. Jornalista não gosta de ouvir que o sistema eleitoral eletrônico é tão fraudável quanto o antigo. Não gosta porque precisa entender o porquê de ele ser fraudável e isso parece complicado demais. Jornalista de política tem medo de tecnologia. Também não gosta porque prefere acreditar no grande feito tecnológico brasileiro de ter espalhado urnas com botões por todo o país. Nunca ninguém se pergunta por que urnas eletrônicas são vistas com tanta desconfiança nos EUA e na Europa.

O segundo problema foi no próprio PT. Ao chegar ao poder no Planalto, o núcleo duro do governo queria seduzir o PMDB. Uma das condições impostas pelo partido para iniciar as conversas era que Magela parasse de reclamar. Calaram-lhe a boca de presto.

As urnas eletrônicas são olhadas com desconfiança lá fora porque a fraude eletrônica não deixa rastros. Muda-se o número no banco de dados e pronto – não há como fazer uma recontagem. Em Brasília, se o problema não tivesse sido apenas ignorado, a solução seria produzir uma nova eleição.

Não quer dizer que houve fraude ou mesmo que houve erro. Quer dizer que os sistemas de segurança das urnas falharam todos, que elas não se responsabilizam pelos resultados. E isto se sabe porque foi investigado naquele caso. Noutros casos, sabe-se lá.

O Brasil digitalizou as eleições às pressas sem explicar à plebe os riscos. Explicou-se que era seguro e ponto. Pergunte a um especialista e ele responderá com um sorriso sarcástico: segurança digital é uma contradição em termos.
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COMENTÁRIOS

"Antonio Brito destrata a leitora Andreia Noibe e afirma que a matéria não coloca em dúvida a segurança do sistema eleitoral digital. Entrei na página indicada pela leitora Andreia Noibe. A matéria se refere a uma entrevista publicada pelo "Washington Post" com o diretor geral do TSE: "De acordo com o jornal, o TSE tem sido pressionado a fazer esta mudança porque o código proprietário da Microsoft não permitiria uma auditoria independente para verificar a existência de 'códigos maliciosos' que poderiam fraudar o resultado das eleições". Antonio Brito pode discordar, mas negar que o texto diga o que diz é fruto do seu dogmatismo: ao tratar Andreia Noibe como se ela não tivesse sido capaz de entender minimamente o texto da matéria, ele coloca em dúvida apenas sua própria capacidade de compreensão e de argumentação; parece que, cego de desprezo por quem discorda dele, ele refuta o irrefutável. A matéria indica, sim, suspeição sobre a confiabilidade das urnas e afirma que, do modo como está, o sistema contém elementos "que poderiam fraudar o resultado das eleições". A matéria não afirma categoricamente que o sistema é fraudável, mas sustenta a possibilidade e, mais do que isso, assinala que as mudanças que o TSE estuda fazer é devido à possibilidade de falhas na segurança do sistema. Discordar é democrático; refutar cegamente o irrefutável - que a matéria diz o que de fato ela diz - é dogmatismo."
Pedro Eduardo Portilho de Nader

"claro que não e mesmo,e igual acreditar em pesquisa,não e seguro mesmo,eu ja sabia disso e agora tenho certeza!!!"
josue costa teixeira

"Prezada Andréia, obrigado pela indicação. A matéria não põe em dúvida a segurança das urnas eletrônicos, é uma opção do TSE de mudar do Win CE para o Linux, por um motivo simples: parte do núcleo do Win é um código fechado e um motivo mais complexo: devem ter alugado a licença do Win e pagam uma fortuna. O TSE não afirmou que existe insegurança no sistema atual. Ao contrário, em uma matéria do próprio PC World, você encontrará lá um elogio ao sistema adotado no Brasil. Felizmente temos uma coisa de nos orgulhar na área de tecnologia, não precisamos de tolices como esta "a urna é insegura". Pegar uma manchete escandalosa e falar meia dúzia de abobrinhas, é um desrespeito ao leitor atento e coisa de redator preguiçoso, por estas,e outros ão, cancelei minha assinatura no Estadão e só leio o que está livre. Retorne ao PC World e você encontrará a matéria abaixo, um elogio ao sistema de urna eletrônica brasileira e uma crítica ao protótipo em desenvolvimento nos estados unidos : "No Brasil, a votação eletrônica completará 10 anos nas eleições presidenciais do próximo dia 1º de outubro, em que 100% de todo o eleitorado, estimado em 126 milhões de brasileiros, votará em urnas eletrônicas.""
antonio brito


"Bem, eu gostaria que o Antonio Brito lesse esta notícia, que saiu hoje no PC World.

http://pcworld.uol.com.br/noticias/2006/10/03/idgnoticia.2006-10-03.9888074037/IDGNoticia_view

Se o próprio diretor geral do TSE, Athayde Fontoura, admitiu a possibilidade de haver o risco de "códigos maliciosos" podem alterar informações de votos armazenados na máquina, quem pode garantir que a urna eletrônica é 100% segura?"
andreia noibe

"Creio que a dúvida nesta questão é mais saudável que uma verdade cristalina..."
Marcelo Melo

""A urna eletrônica não tem nada de segura" - Depois que 120 milhões de eleitores votaram e em menos de 8 horas depois já se sabia todos os resultados, eis que aparece uma tolice destas. Que um leigo diga isto, bebendo em boteco, releva-se. Porém que um profissional da área escreva um artigo sem fundamento, desconhecendo o trabalho de milhares de profissionais que criaram o sistema eletrônico de votação no Brasil é uma calamidade, um desrespeito à inteligência do eleitor e um desserviço aos profissionais de informática. Vejam que beleza o site do Uol e do Estadao sobre eleições 2006, permitindo que qualquer internauta saiba tanto quanto os comentaristas da televisão. Caso existisse alguma desconfiança quanto a segurança os políticos, principais interessados, seriam os primeiros a se rebelarem. Ao contrário aplaudem a lisura e a rapidez da apuração. Escrevendo tolices deste jaez o Doria irá navegar sozinho. Não precisa ser tanto impreciso, basta um pouco de bom senso e respeitar a inteligência do leitor."
antonio brito