Wireless |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Segurança do Processo Eleitoral --> Índice de artigos e notícias --> 2013
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na
Fonte: TecMundo
[20/09/13]
O sistema de votação com urnas eletrônicas do Brasil é seguro? - por Felipe
Arruda
Obs: Acesse a Fonte para ver as fotos não reproduzidas
nesta transcrição
Profissionais de diversas questionam a segurança do sistema eleitoral
brasileiro, exigindo mudanças que, por enquanto, não parecem tão perto de serem
implementadas.
O sistema de votação com urnas eletrônicas do Brasil é seguro? Ao contrário de
muitos países, urna brasileira não optou pela impressão do voto
As eleições norte-americanas de 2000 foram marcadas por muitas controvérsias,
incluindo a recontagem manual de votos exigida pelo candidato Al Gore em quatro
condados da Flórida. Enquanto isso, no Brasil, a urna eletrônica garantia uma
apuração rápida e sem maiores contratempos.
Na época, as urnas eletrônicas brasileiras ganharam tanto destaque na imprensa
que acabaram se tornando um exemplo a ser seguido por diversas outras nações.
Porém, isso não isentou o sistema de receber muitas críticas de pessoas
preocupadas com o anonimato e a segurança dos votos cadastrados nesses
dispositivos.
Ainda hoje, 17 anos depois da primeira experiência brasileira com as urnas
eletrônicas, há quem acredite que esses aparelhos são falhos e que precisam
passar, urgentemente, por uma reformulação.
Prova disso é que, em abril deste ano, o Instituto de Ciências Matemáticas e
Computação da Universidade de São Paulo, no campus em São Carlos, abrigou o 1º
Fórum Nacional de Segurança em Urnas Eletrônicas, que contou com a presença de
engenheiros e outros profissionais que abordaram pontos fundamentais do processo
eleitoral, questionando a contemplação desses itens pelas urnas.
Princípios básicos das eleições
O vídeo abaixo possui 4 horas de duração, com todas as palestras apresentadas no
Fórum. Já na fala do engenheiro Amílcar Brunazo Filho, foram destacados alguns
princípios básicos que garantem uma eleição mais confiável, independente e
democrática, listados por nações como Alemanha e Estados Unidos, além do próprio
Brasil. (Clique para acessar o vídeo no texto original)
Para começar, o voto precisa ser totalmente anônimo, a ponto de que nem mesmo um
juiz pode requisitar a quebra do voto de alguém, como acontece frequentemente
com telefones e contas bancárias.
Esse Princípio da Inviolabilidade é muito importante e, por isso, torna muito
complicado o desenvolvimento da urna eletrônica. Amílcar diz em sua palestra que
hoje é mais fácil transferir 1 milhão de dólares pela internet do que processar
o voto digital de um eleitor. A razão para isso é o fato de que o registro do
voto não pode conter qualquer dado que possibilite rastrear o seu autor. Data,
hora, número da máquina utilizada pelo eleitor e outros dados precisam ser
eliminados. Esse processo não pode deixar “rastros”.
Além disso, Amílcar esclarece que, apesar de o autor do voto ser absolutamente
secreto, o conteúdo do voto precisa ser completamente público. Esse é conhecido
como Princípio da Publicidade, ou seja, o governo precisa garantir que dados
públicos continuem públicos.
Disponibilidade e independência
Mais dois princípios indispensáveis deveriam nortear as eleições com votos
eletrônicos: o da Disponibilidade Absoluta e da Independência de Software. O
primeiro garante que as eleições não podem ser adiadas ou temporariamente
interrompidas por indisponibilidade das urnas, ou seja, elas precisam ser
estáveis e seguras o suficiente para que todo o processo de votação aconteça
durante a data e horário previstos pelo governo.
Já a Independência de Software foi proposta pelos engenheiros do MIT ao
analisarem o uso de urnas eletrônicas nos Estados Unidos: é preciso ter mais de
uma forma de conferência dos votos, porque as eleições não podem ser
prejudicadas por falhas de programação do software usado nas urnas.
Como se não bastassem essas questões, o vídeo também cita outros requisitos ou
princípios que seriam desejáveis para uma eleição eletrônica, levantados por
outras nações, como a possibilidade de conferir o próprio voto e de realizar
tudo isso sem complicações, com dispositivos que possuem facilidade de uso,
inclusive, refazendo-o caso não concorde com o que foi registrado.
O sistema de votação com urnas eletrônicas do Brasil é seguro?Participantes do
1º Fórum Nacional De Segurança Em Urnas Eletrônicas (Fonte da imagem:
Reprodução/ICMC/USP)
Críticas às urnas brasileiras
De acordo com a palestra de Amílcar, as urnas eletrônicas brasileiras fazem
parte da primeira geração desse tipo de equipamento. Conhecido como Direct
Recording Electronic (DRE), esse modelo foi desenvolvido pela empresa OMNITECH e
tem recebido atualizações desde 1996, quando começou a ser utilizada pelo
Brasil.
Entre as características das urnas de primeira geração estão o fato de que a
confiabilidade dos resultados das eleições depende exclusivamente da
confiabilidade do software usado pelo dispositivo. Além disso, a DRE grava o
voto diretamente em sua memória digital, mas não permite que o eleitor verifique
se o voto foi registrado corretamente.
De acordo com o Relatório Sobre o Sistema Brasileiro de Votação Eletrônica (PDF),
elaborado pelo Comitê Multidisciplinar Independente, em 2010, o fato de a
sociedade civil não poder conferir o destino de seus votos foi a principal causa
para que mais de 50 países que analisaram as urnas brasileiras acabassem
rejeitando-as como solução para suas próprias eleições.
As urnas de segunda e terceira geração resolvem esse problema com sistemas que
podem ser consultados de maneira restrita, mas esse tipo de ação parece longe de
ser implementada no Brasil.
A polêmica do voto impresso
Uma das maneiras de permitir a conferência do registro do voto de um eleitor é
por meio da impressão. Isso não significa voltar ao papel e inutilizar o voto
eletrônico, mas oferecer outra forma de conferência e, talvez, de contagem dos
votos, em caso de falhas na apuração das urnas.
Esse tipo de medida já foi adotado por países como México e Venezuela.
Importante notar também que o voto impresso é para conferência dentro da zona
eleitoral: o eleitor não pode levá-lo para casa e, em alguns casos, sequer chega
a pegá-lo na mão, apenas confere a impressão através de um display transparente.
No Brasil, medida semelhante seria implementada para as eleições de 2014,
prevista pela Lei 12.034, que foi sancionada em outubro de 2009.
Porém, a lei foi declarada inconstitucional em 2010, com um vídeo apresentado
pelo então presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, alegando que a impressão
causaria falhas e quebra de anonimato no sistema eleitoral brasileiro, além da
possibilidade de que o eleitor votasse mais de uma vez, caso a urna estivesse
separada da máquina de identificação do cidadão.
Amílcar, em sua palestra, atesta que essa foi uma má interpretação da lei, visto
que a informação sequer precisa ser legível: assinaturas digitais da urna, por
exemplo, poderiam ser apresentadas em forma de código de barras,
impossibilitando que alguém anotasse o código para comprovar um voto vendido,
por exemplo. Cerca de 300 mil urnas de segunda geração compradas para a nova
fase foram consideradas ilegais com a suspensão da lei.
Ainda existe a possibilidade de que a decisão seja discutida judicialmente, mas
não há previsão de que isso aconteça em um futuro próximo.
Argentina: exemplo de urna de terceira geração
A urna eletrônica apresentada na Argentina é exibida por Amílcar, no vídeo de
sua palestra, como um dos exemplos mais modernos desse tipo de equipamento. Para
começar, o dispositivo não possui disco rígido, memória flash ou qualquer outro
tipo de armazenamento interno das informações sobre o voto.
Todo o processo é realizado por meio de uma cédula que possui um chip RFID. Para
votar, o eleitor precisa inserir a cédula na urna e, assim, o equipamento
registra a escolha do cidadão tanto no chip quanto via impressão, na mesma
cédula. Se o candidato quiser conferir o voto registrado eletronicamente, basta
aproximar a cédula em outra urna e conferir se tudo foi gravado corretamente. Em
caso de discrepância, rasga-se a cédula e repete-se a operação.
Com display touchscreen, a urna argentina funciona por meio de um CD-ROM com
sistema operacional Linux, sem gravar qualquer dado em memória não volátil.
Assim, em caso de problema, basta substituir o equipamento por outro, sem
qualquer burocracia.
A apuração também é simples, já que os fiscais simplesmente precisam conferir as
cédulas e o voto eletrônico com a ajuda das urnas, contabilizando todos
rapidamente. No final, o boletim das urnas é armazenado também em uma cédula,
com chip, e os ficais ganham uma cópia desse documento.
Pelo visto, em questão de urna eletrônica, nossos hermanos levam a melhor.
Não perca: entrevista com o TSE
O Tecmundo entrou em contato com o Secretário de Tecnologia da Informação do
Tribunal Superior Eleitoral, Giuseppe Dutra Janino, para conversar sobre esses e
outros assuntos. Portanto, não deixe de conferir a posição oficial do TSE, na
entrevista recém-publicada.
Leia mais em:
http://www.tecmundo.com.br/seguranca/44769-o-sistema-de-votacao-com-urnas-eletronicas-do-brasil-e-seguro-.htm#ixzz2lkin9MCa