A Telebrás foi privatizada em 1998. Mas não foi extinta. Embora nunca tenha 
	sido empresa operadora de telecomunicações, mas uma holding controladora de 
	27 subsidiárias, ela pode ser reativada. Com que objetivos? Na argumentação 
	dos defensores desse projeto, seriam quatro as razões para ressuscitar a 
	velha empresa: a) proporcionar maior economia ao governo e conferir maior 
	segurança aos serviços de telecomunicações governamentais: b) torná-la 
	“gestora de uma rede nacional de banda larga, com o objetivo de levar o 
	acesso à internet rápida a todo o País”; c) operar a rede de 16 mil 
	quilômetros de cabos de fibra óptica da falida Eletronet, estatal formada 
	pela Eletrobrás e a AES Bandeirante, cujo passivo já supera os R$ 600 
	milhões; d) operar um satélite estatal brasileiro, para atender ao governo e 
	às comunicações aeronáuticas.
	 
	Nenhum desses propósitos tem consistência, pois o Brasil dispõe de 
	infraestrutura e de oferta de serviços, inclusive de satélites, que poderiam 
	atender ao governo. No caso das comunicações militares, a segurança 
	essencial em todo o mundo é assegurada por meio de sistemas de criptografia 
	e codificação e não pela estrutura estatal da operadora.
	 
	Com a criação de uma operadora estatal de telecomunicações, no atual cenário 
	político brasileiro, seria quase certa a criação de, no mínimo, 500 vagas 
	para nomeações de profissionais, amigos e correligionários. Outra 
	consequência seria a oportunidade de grandes licitações para aquisição pelo 
	governo de equipamentos na área de telecomunicações. Tudo isso seduz alguns 
	defensores do velho projeto do governo.
	 
	A reativação da Telebrás volta a ser considerada pelo primeiro escalão 
	governamental – com apoio da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, e do 
	secretário de Logística e Informação do Ministério do Planejamento, Rogério 
	Santanna. A questão, no entanto, é tão polêmica que nem no governo existe 
	consenso sobre as eventuais vantagens da ressurreição da velha empresa.
	 
	De fato, recriar a Telebrás, depois de todas as mudanças institucionais que 
	levaram o País a privatizar suas telecomunicações – uma emenda 
	constitucional, uma lei geral, a criação de uma agência reguladora e a 
	própria privatização do sistema – é muito mais do que insensatez.
	 
	O PERIGO
	Se concretizada a reativação, o grande risco para o País é estar diante de 
	uma das maiores negociatas da história das telecomunicações, com o 
	envolvimento da Telebrás e da Eletronet, empresa falida formada pela estatal 
	Eletrobrás e a AES Bandeirante – a qual foi afastada da gestão da companhia 
	em 2002, por não pagar seus fornecedores. 
	 
	A participação da AES na Eletronet foi comprada por uma única pessoa – por 
	apenas US$ 1, na expectativa de que essa fatia do capital venha a render 
	milhões num possível saneamento, reativação ou reestruturação da empresa, 
	segundo fontes governamentais.
	 
	Primeiro grande argumento contrário à volta da empresa: a Telebrás nunca foi 
	operadora, mas apenas a holding de um conjunto de 27 concessionárias 
	estaduais de telecomunicações. Na verdade, o Brasil não precisa de uma 
	operadora estatal para servir ao governo e aos setores militares.
	 
	Não caberia nenhuma objeção se o governo federal quisesse proporcionar a 
	todo cidadão o acesso aos serviços e às suas informações, nas áreas de 
	previdência, justiça, tributos, saúde, educação e inclusão digital – num 
	projeto moderno de governo eletrônico. Bastaria para tanto contratar uma ou 
	mais operadoras, que fariam tudo isso por um preço final muito mais 
	econômico, além de serem imunes ao empreguismo, numa verdadeira parceria 
	público-privada, com regras claras e fiscalização rigorosa. Mas essa solução 
	não tem o charme dos sonhos hoje acalentados em Brasília nem abriria vagas 
	para a nomeação de amigos e companheiros.
	 
	O segundo argumento que desaconselha a recriação da Telebrás é a existência 
	de um marco regulatório inteiramente contrário à presença de empresas 
	estatais como operadoras de serviços, a não ser em casos excepcionais e 
	muito específicos.
	 
	Terceiro argumento: o Estado brasileiro não tem recursos de investimento nem 
	razões plausíveis para retornar ao setor de telecomunicações. Mais do que 
	isso: o País já dispõe de infraestrutura, e o setor privado provou que é 
	capaz de atender mais e melhor nessa área e que dá respostas muito mais 
	rápidas e com mais eficiência às demandas da sociedade. 
	 
	Recordemos apenas um dado significativo sobre o setor: em 10 anos e meio, o 
	Brasil passou de uma densidade de 17 para 101 telefones por 100 habitantes. 
	Por outras palavras, o País tem hoje mais telefones do que gente: 193,2 
	milhões de acessos fixos e móveis para 192 milhões de habitantes.
	 
	Quarto argumento contra a recriação da Telebrás: o governo Lula, além de não 
	ter nenhum plano sério de desenvolvimento das telecomunicações, vem impondo 
	visível retrocesso à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), com a 
	nomeação de dirigentes indicados predominantemente pelo interesse 
	político-partidário.
	 
Copyright 2009 – O Estado de S. Paulo – Todos os direitos reservados