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Fonte: IstoÉ Dinheiro
[21/01/11]  A guerra da super banda larga - por Rodolfo Borges

(Prefira ler na fonte e ver fotos e alguns gráficos não registrados aqui)

A internet no Brasil ainda é lenta, cara e ineficiente. Mas isso vai mudar e todas as operadoras se preparam para o confronto da década, com conexões supervelozes que chegam a 100 megabits por segundo

Foi em uma manhã ensolarada de abril de 2010 que uma tropa de azul, formada por técnicos da Telefônica, invadiu o prédio de César Gomes Miguel, professor universitário residente no bairro do Butantã, em São Paulo.
Seus integrantes ficaram lá por uma semana, passando cirurgicamente algumas centenas de metros de fibra óptica pelas “artérias” do edifício. Quando os técnicos foram embora, deixaram aos moradores uma conexão de internet que pode chegar a até 100 megabits por segundo (Mbps).

Para ter ideia do que essa velocidade significa, um filme com duração de duas horas pode ser baixado para um computador em apenas três minutos. Em uma conexão de 2 Mbps, demoraria 4,5 horas.

“Se eu tivesse que mudar de bairro, iria verificar se naquele condomínio tem internet de alta velocidade”, afirma Miguel. “Não importa se o imóvel é bom, o importante é ter fibra óptica.”

Próximo do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, não muito distante de onde mora Miguel, está localizada a casa do engenheiro Fábio Watanabe. Ele também recebeu fibra óptica em casa. Sua conexão é o que se chama de ultrabanda larga – que vai de 30 Mbps até 100 Mbps. “Não vivo mais sem isso”, diz Watanabe.

Miguel e Watanabe são dois exemplos ainda raros em um país que se prepara para colocar a banda larga como prioridade nacional. O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que será gerido pela estatal Telebrás, promete velocidades inferiores a 1 Mbps (leia mais no quadro da página 40).

Parece pouco – muito pouco – para as companhias que prestam serviços de internet. Elas começam a investir em conexões de alta velocidade em grandes cidades brasileiras. “A fibra é o futuro”, diz Antônio Carlos Valente, presidente do grupo Telefônica. “No momento em que o usuário começa a assistir a mais vídeos, as necessidades de conexão rápida são maiores.”

A empresa de telefonia espanhola conquistou 13 mil clientes com conexões entre 30 Mbps e 100 Mbps nas cidades da Grande São Paulo, Campinas e Santos, em 2010. Mas já está com tudo preparado para crescer aceleradamente em 2011, quando deve investir R$ 1 bilhão na área. Suas fibras já passam na porta de 400 mil residências no Estado de São Paulo.

Os concorrentes da Telefônica também estão se armando para enfrentar a guerra da banda larga. A rival GVT, presente em 17 Estados e no Distrito Federal, já contabiliza mais de 60% do seu 1 milhão de clientes de internet com conexões de 10 Mbps ou mais.

A operadora de tevê a cabo NET acredita que a maioria dos seus consumidores vai usar conexões acima de 10 Mbps em 2011. E a Oi planeja levar fibra óptica para as 40 principais cidades de sua região de concessão. Em 2010, a infraestrutura da empresa estava preparada para atender 900 mil assinantes com velocidades acima de 10 Mbps. Em 2012, serão 4,3 milhões.

A ultrabanda larga é possível graças ao uso de fibras ópticas, filamento longo e fino feito de vidro muito puro, com o diâmetro de um fio de cabelo humano. Elas são usadas para transmitir sinais de luz ao longo de grandes distâncias.

Comparadas ao tradicional cabo de cobre, elas sofrem menor degradação do sinal e permitem atingir altas velocidades de transmissão de dados. As redes de comunicação mais modernas são construídas com essa tecnologia. Com vários projetos de banda larga ao redor do globo, a sua procura explodiu.

De acordo com a empresa britânica CRU Group, foram vendidos 180 milhões de quilômetros de cabos ópticos mundialmente em 2010, o equivalente a 4,5 mil voltas ao redor da Terra, o melhor resultado da história. A China e os Estados Unidos representaram 90% das encomendas. O Brasil também passa por um boom semelhante.

“Quem fizer uma encomenda de fibra óptica hoje vai demorar de dois a três meses para receber”, diz Foad Shaikhzadeh, presidente da Furukawa, um dos principais fabricantes desse produto no Brasil.

“Antes, eram apenas 15 dias.” Em 2010, as estimativas do executivo indicam que foram vendidos dois milhões de quilômetros de fibras ópticas no mercado brasileiro, um aumento de 66% em relação a 2009. “O mercado de fibra óptica vai ter um crescimento médio de 15% por ano nos próximo dez anos”, afirma Shaikhzadeh.

Essa expansão é motivada pelo investimento das empresas de telefonia não apenas para levar fibra óptica para a casa do consumidor, como também para a construção de anéis metropolitanos, que interligam suas centrais com essa tecnologia. “É uma tendência com o crescimento de banda larga no mundo”, afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco.

“E o consenso é que a melhor forma de fazer isso é colocar a rede de fibras ópticas perto da casa do usuário.” As operadoras de telecomunicações estão trabalhando nessa substituição tecnológica.

Suas redes atuais são baseadas em fios de cobre. Evidentemente, elas não vão jogar fora esses investimentos da noite para o dia, mas já começaram a fazer o cabeamento com fibras ópticas em regiões de grande poder aquisitivo. As empresas de telefonia que não têm esse legado entram nesta disputa com uma ligeira vantagem sobre os oponentes.

É o caso da GVT, pertencente à francesa Vivendi, criada há dez anos, que queimou a etapa do cobre. “Nascemos na era da banda larga” afirma Alcides Troller Pinto, vice-presidente da companhia. “Por esse motivo, desenhamos uma infraestrutura tecnológica pronta para a internet de alta velocidade.”

Isso não significa que os outros concorrentes estejam fora de disputa. Observe o caso da operadora de tevê por assinatura NET. A rede da companhia é composta de fibra óptica e de cabos coaxiais (cobre).

Mesmo assim, a empresa oferece internet rápida com velocidades de até 100 Mbps aos seus consumidores. “A nossa rede nasceu para transmitir vídeo”, diz Márcio Carvalho, diretor de produtos e serviços da companhia. Segundo Carvalho, a tecnologia utilizada pela NET tem capacidade de chegar até 300 Mbps.

“Temos um grande caminho para aumentar a oferta, sem a necessidade de grandes investimentos”, afirma. A NET tem feito isso de forma agressiva. O grande trunfo é oferecer pacotes convergentes, que combinam tevê, telefone fixo e internet. A diferença para os seus rivais – que também trabalham com pacotes semelhantes – é que adota essa estratégia há muito tempo. “Essa foi a grande sacada”, diz Carvalho.

A Oi, que também tem um acumulado imenso de cabos de cobres, está apostando na internet de alta velocidade. A empresa tem atualmente o maior contingente de clientes de banda larga – 4,3 milhões de usuários, o equivalente a 33,6% do total – e está presente em todos os Estados brasileiros, com exceção de São Paulo.



Por esse motivo, a empresa atende desde municípios mais populosos, com renda alta, até pequenas vilas nos grotões do País. Atualmente, a infraestrutura de fibra óptica da Oi leva a banda larga de alta velocidade a 48 mil residências. O plano da companhia é focar nas 40 principais cidades de sua área de concessão, regiões com alto poder aquisitivo.

Nas demais, a estratégia será diferente. A Oi está interligando a retaguarda com fibras ópticas, chegando o mais próximo possível da moradia do consumidor. A partir daí, vai usar o cabo de cobre tradicional. Mesmo assim, será possível atingir altas velocidades. “De nada adianta levar fibra óptica para dentro da residência, se a retaguarda está congestionada”, afirma João Silveira, diretor comercial da Oi.

Essas movimentações são sinais de que a competição será acirrada em 2011. Neste ano, por exemplo, a GVT, chega à cidade de São Paulo, com um investimento de R$ 408 milhões para a construção de 240 mil acessos de voz e de banda larga. Nos mercados onde está presente, a operadora é responsável por iniciar uma guerra de preços com os concorrentes locais.

Atualmente, é possível contratar uma conexão de 15 Mbps por R$ 79,90. Os preços da GVT, como de qualquer outra empresa, baixam à medida que novos serviços são agregados, como telefonia fixa ou tevê por assinatura. A questão de custo é fundamental para a expansão da ultrabanda larga.

O valor médio para uma conexão de 100 Mbps é de R$ 499 e para a de 50 Mbps, R$ 399, de acordo com estudo da fabricante de comunicação de dados Cisco e da consultoria de tecnologia IDC. Trata-se de valores ainda muito salgados para o padrão brasileiro.
Para se tornar popular, de acordo com especialistas ouvidos por DINHEIRO, independentemente da velocidade, os preços deveriam girar ao redor de R$ 100. Quando? Ainda é uma resposta difícil.



Mas há perspectivas no horizonte que podem acelerar a redução dos preços de banda larga e fazer com que um contingente maior de pessoas navegue na internet com velocidades acima de 30 Mbps. Para isso, é preciso ser aprovado o PLC 116 (antigo PL 29), que está no Senado.

Este projeto abre o mercado de cabo às empresas de telefonia. A expectativa do setor de telecomunicações é de que ele seja votado em 2011. Com isso, as empresas de telefonia poderão ofertar aos consumidores conteúdos convergentes pela rede de fibra óptica. Por ela, chegará o sinal de internet, de telefone fixo e de tevê, reduzindo o custo total tanto para as empresas como para o consumidor.

O que aconteceu em Portugal é um bom indício do que deverá se tornar realidade no Brasil neste ano. Lá, a empresa de telefonia Portugal Telecom – que hoje é sócia da Oi no Brasil – investiu em uma grande rede de fibra óptica capaz de atender um milhão de residências.

Em 2011, será 1,6 milhão. Com essa infraestrutura, a Portugal Telecom criou um serviço de tevê por assinatura, batizado de Meo, que mudou a forma como os portugueses assistem à televisão. Os assinantes podem gravar, pausar, avançar ou retroceder qualquer programa.

Um catálogo de 2,5 mil filmes pode ser visto sob demanda, sem necessidade de seguir uma grade fixa de programação. Pelo próprio aparelho, os clientes podem acessar a internet por meio de aplicativos. Como o sinal chega pela web, é possível ver tevê com um notebook ou celular.

Mais: com a oferta de vários serviços pela mesma rede, a Portugal Telecom passou a não cobrar por ligações entre os seus assinantes. O telefone fixo – que caminhava para a extinção – voltou a crescer em Portugal com esta medida. “A televisão está salvando o negócio fixo”, afirmou à DINHEIRO Zeinal Bava, presidente-executivo da Portugal Telecom.

O que os portugueses já fazem há pelo menos dois anos, só agora começa a chegar ao Brasil. As operadoras estão pavimentando suas estradas digitais com conteúdo para a oferta de internet ultrarrápida.

A GVT já anunciou um serviço de música online que pode ser ouvido por todos os seus assinantes de banda larga direto no computador. São mais de 300 mil canções do catálogo da Universal Music, que pertence ao mesmo grupo da operadora de telecomunicações.

A Telefônica também criou um serviço de aluguel de filmes, séries, shows e programas infantis pela internet, com um portfólio de dois mil títulos. A companhia lançou recentemente um gravador digital, que disponibiliza o conteúdo gravado em todos os cômodos da residência em que há pontos de tevê.

“Estamos fazendo um esforço para massificar a ultrabanda larga em São Paulo”, afirma Mariano de Beer, diretor-geral da Telefônica. Quem já testou conexões de altas velocidades, como César Gomes Miguel e Fábio Watanabe, os dois personagens do início dessa reportagem, vicia-se na experiência.

Se depender do apetite e da disposição de investimento dos grandalhões do mercado, muito mais brasileiros vão virar “dependentes tecnológicos” da internet de alta velocidade daqui para frente.

A aposta do governo

O polêmico Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que resultou na recriação da estatal Telebrás, não decolou no fim do governo Lula, mas tem boas chances de sair do papel na gestão Dilma Rousseff.

A presidente transferiu o projeto, escolhido como prioritário por ela, para o Ministério das Comunicações. Agora, com o aval do titular da pasta, Paulo Bernardo, considerado um ministro forte, o presidente da Telebrás, Rogério Santanna, espera iniciar a oferta de internet rápida a preços populares em 100 cidades, ainda no primeiro semestre de 2011. O prazo inicial era o final do ano passado.

O objetivo do ministro Bernardo era finalizar as negociações com os setores privados envolvidos em maio. Mas o ministro já avisou que trabalha com “o horizonte do governo Dilma”: ou seja, o plano tem quatro anos para se consolidar.

Longe das eleições, a urgência diminuiu, assim como o orçamento da Telebrás. Inicialmente, a previsão era de R$ 1 bilhão em 2011. Com os cortes, ficou em R$ 589 milhões. Neste ano, a meta é levar a internet rápida para 1,1 mil cidades.

Lançado em maio do ano passado, o PNBL tem como meta universalizar os serviços de internet rápida no País. O custo da tarifa deve ser de R$ 15, para o plano com incentivos, com velocidade de até 512 kbps (quilobits por segundo) e de R$ 35 para o plano comum, com velocidade entre 512 e 784 kbps.