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Leia na Fonte: Tele.Síntese
[04/05/12]  O problema da Telebras não é orçamento. É gente - por Lia Ribeiro Dias e Lucia Berbert (Entrevista com Caio Bonilha)

Uma das prioridades da direção da Telebras é aumentar significativamente, senão dobrar, seu quadro de 220 funcionários. De acordo com Caio Bonilha, presidente da estatal, ainda este ano será realizado um concurso para preencher as novas vagas. “Nosso maior problema, hoje, não é orçamento, são recursos humanos. Precisamos de técnicos qualificados para levar à frente nossos projetos estratégicos”, diz ele.


Para driblar uma das dificuldades enfrentadas por órgãos públicos e mesmo estatais instaladas em Brasília – a indústria do concurso, que estimula os recém admitidos a prestarem novos concursos em outras áreas com melhor remuneração --, a diretoria da Telebras aprovou a regionalização da empresa, que agora será submetida ao conselho. A ideia é criar uma regional no Nordeste, outra no Rio de Janeiro e uma terceira no Sul. “Queremos ficar mais perto de nossos clientes”, resume Bonilha.

Nesta entrevista ao Tele.Síntese, o presidente da Telebras diz que os atrasos na instalação da rede da operadora são decorrentes dos processos a que estão submetidos uma estatal, diz que terá 13 mil quilômetros de backbone iluminados até o final de maio e que vai entrar em 2013 com a rede básica concluída e os anéis de redundância praticamente fechados. Então, a empresa terá condições de disputar o mercado corporativos dos órgãos federais: “Não temos medo da competição. Estamos fora desse mercado porque ainda não temos rede”, resume.

Segundo ele, o papel da Telebras no PNBL é ir onde não há competição – “Não iremos onde já existem duas operadoras privadas disputando mercado e oferecendo banda larga em competição” – e oferecer capacidade de rede para que mais prestadoras possam atender ao usuário na ponta. “Temos poucos trechos ativados, mas já provocamos uma queda substancial no valor do Mbps no atacado”, contabiliza animado. Sua meta é chegar a dezembro com 250 pontos de presença no país, atendendo de 500 a 800 municípios.

Além do PNBL, outros projetos estratégicos da empresa são o satélite geoestacionário, em parceria com a Embratel, previsto para ser lançado em 2014; o cabo submarino que vai interligar o Brasil aos Estados Unidos e o Brasil à África (as parcerias para sua construção deverão ser definidas ainda neste mês de maio); a rede de alta velocidade para atendimento das cidades da Copa; e a interligação com os países da América Latina.

Tele.Síntese -- A Telebras foi reativada com a promessa de ter uma grande rede para regular a oferta de atacado, mas essa construção está em um ritmo mais lento do que o próprio governo tinha anunciado. Quais são os gargalos e como é possível superá-los?
Caio Bonilha – Os gargalos que nós enfrentamos são de diversas naturezas. Primeira natureza é a contratual com os nossos fornecedores. Por força de sermos uma empresa estatal e estamos sob a égide do TCU [Tribunal de Contas da União], determinados tipos de contratação, que facilitariam muito a aceleração do nosso processo, nós não podemos fazer. O que acontece às vezes é que temos quase todos os elementos para fazer uma obra, mas falta um. Ai fica tudo parado. Recentemente, em dois casos que nós tivemos de extensão de rede e torres, uma empresa assinou o contrato e, depois de cinco meses, simplesmente disse que não ia fazer a obra porque o preço era inexequível.

Tele.Síntese. Isso porque era na região Norte?
CB – Não, aqui no Centro-Oeste. Então, estamos providenciando um edital a toque de caixa para refazer a licitação. No Norte é outro problema. No Sul, também, nós compramos torres e a empresa desistiu. Isso tudo significa que um processo licitatório numa empresa estatal, se houver algum problema como uma reclamação, ele é suspenso.
A rede Norte está sendo um problema por causa da famosa tabela Sinapi, que é um gargalo. Inclusive estamos com nove licitações na rua, vamos receber as propostas por esses dias e vamos ver se dá certo. Estamos usando a tabela Sinapi para obras civis e o feedback que tivemos de alguns fornecedores é de que o preço é inexequível, não dá para fazer.

Tele.Síntese. A tabela é fora da realidade?
CB – A tabela é fora da realidade porque traz preços de referência para as capitais. Agora, você imagina na Amazônia, por exemplo, o preço entre Manaus e Belém com as cidades do interior do Pará e da Amazônia, há uma diferença muito grande dos preços, porque muitas vezes é preciso levar os equipamentos por barco.

Tele.Síntese. Mas a Telebras tinha anunciado que estava negociando isso com o TCU.
Bonilha -- Nós temos nos reunidos toda semana com o TCU e os técnicos de lá têm sido muito cooperativos conosco, no sentido de avaliar como é que podemos resolver esse problema. Mas ainda não tem uma solução.
Nessa licitação da rede Norte, se aparecer alguém que faça essas obras, ótimo. Se não aparecer ninguém que faça, nós vamos nos sentar com eles e buscar outra alternativa. O governo tem o compromisso de atender a rede Norte, porque é onde está a pior situação do ponto de vista de atendimento.
O que nós temos feito para mitigar o problema é fazer um acordo com a Eletronorte para usar a rede dela, nós estamos negociando para usar a capacidade dela e isso já adianta o nosso plano. Nós estamos ativando atendimento em Macapá, que tem rede própria de um provedor que vai de Macapá a Belém. Nós estamos chegando a Rio Branco, no Acre, até o final deste mês, também com a rede da Eletronorte. Depois, chegaremos a Belém e ao interior do Pará. É uma maneira que nós achamos de driblar, em curto prazo, essas dificuldades. Como estamos recebendo capacidade, a gente ganhou tempo para trabalhar outras soluções.

Tele.Síntese. O princípio da Telebras não era usar as fibras ópticas apagadas das elétricas?
Bomilha -- As fibras para nós foram de grande ajuda. Mas as fibras apagadas sozinhas não fazem nada. Então, nós temos que negociar com todas as empresas de energia como vamos acender as fibras. E aí entram as negociações com essas empresas para tomada dessas fibras porque, como elas fazem parte do sistema elétrico, nós só podemos fazer uma manobra com autorização da ONS [Operador Nacional do Serviço elétrico]. Vou lhe dar um exemplo. Temos, desde dezembro de 2011, toda pronta a infraestrutura de Salvador até Imperatriz no Maranhão, passando pelo o Nordeste inteiro. Eu consegui ativar o trecho entre Natal e Fortaleza. Agora fizemos um esforço junto a Chesf, Eletronorte e ONS, de fazer uma programação de desligamentos para poder ativar os demais trechos. A ONS tem que autorizar as empresas de energia elétrica, no caso a Chesf e Eletronorte, para fazer um desligamento programado.

Tele.Síntese -- Desligar o quê?
Bonilha -- O desligamento das fibras apagadas. Tem que entrar no site e desligar, mas isso tem que ser monitorado pela ONS, porque depende de uma intervenção em um sistema que está em funcionamento.

Tele.Síntese -- Você estima que esse backbone entre Salvador e Imperatriz será ativado quando?
CB -- Até o final de maio. O trecho de Belém até Porto Alegre, passando pelo Centro–Oeste, já está ativado. Até setembro – nós estamos concluindo o projeto com a Petrobras -- nós fechamos o anel São Paulo. Esse anel sai de Salvador, passa por Vitória, Rio e São Paulo até Campinas. E temos outro trecho, entre Rio e São Paulo, passado por Belo Horizonte e pelo interior de Minas Gerais, que é o anel Sudeste. E completaremos o anel Sul, que sai de Campinas e, pelo interior, vai a Gravataí, Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba, voltando para São Paulo.
Nós temos tudo isso mapeado mas é preciso aprovar os projetos com as elétricas, que é diferente de tratar com agentes privados.

Tele.Síntese -- Ouve-se falar que, apesar dos acordos entre os ministérios, a Telebras está tendo dificuldades de aprovar os projetos com as elétricas. É verdade?
Bonilha -- Não. Não temos dificuldades. Acontece o seguinte, não há uma padronização, mesmo dentro de uma mesma empresa. Às vezes, um projeto é aceito em uma região e em outra não. Nós temos que nos adequar. Quando a gente faz uma programação e não avalia claramente todos os riscos, sai um cronograma irreal. Quando a gente começa a ir para o mundo real, a ter a correta avaliação dos riscos que a gente corre é diferente.
Um exemplo disso, um dos graves problemas que temos hoje é a extensão de energia, porque estamos colocando nossos pontos de presença no meio do mato, nós puxamos uma linha de alta tensão, alugamos um terreno no meio do nada, e precisamos de energia comercial. No melhor caso, na zona urbana ou suburbana, a energia só é entregue em 90 dias. Se é uma zona rural, é 120 dias, no mínimo. E ai você tem que entrar em contato com a empresa, explicar o que é o PNBL, pedir uma cooperação para que a elétrica faça uma deferência pessoal, porque é um projeto de governo, para tentar diminuir o prazo de atendimento. Porque normalmente é preciso colocar um transformador especificamente para nos atender. Esse é um problema de um país que tem dimensão continental.
Quando a gente faz um cronograma inicial não prevê esses atrasos. Agora, eu impus uma regra: nenhum cronograma é divulgado se não passar por uma análise de risco. Justamente para evitar que as expectativas sejam frustradas. E foi isso que aconteceu.

Tele.Síntese – Hoje, a Telebrs tem quantos quilômetros de rede ativados?
Bonilha -- Em torno de 13 mil km, até o final de maio. Eu creio que chega a 60% do backbone projetado.

Tele.Síntese -- E esse backbone que deve estar pronto até o meio do ano, ele já terá conectado todos os pontos de presença?
Bonilha -- Nos pontos de presença da Telebras já estão sendo colocados os equipamentos comprados. Desses pontos nós partimos para a construção do backhaul, que na Telebras chamamos de Estação de Telecomunicações Remota (ETR).

Tele.Síntese -- A Telebras já tem clientes nos POPs?
Bonilha -- Hoje nós temos já ativados mais de 50 clientes. Muitos deles diretamente nos POPs. E temos quase cem contratos assinados. Mas paramos de assinar contratos, porque nós começamos a nos deparar com a dificuldade que todas as operadoras enfrentam, principalmente para a instalação de torres. O licenciamento é outra cruzada. Temos que ir cidade por cidade, falar com os prefeitos, explicar a importância do plano, para eles liberarem o licenciamento mais rapidamente.

Tele.Síntese – Quem são seus clientes?
Bonilha -- Basicamente meus clientes hoje são provedores de internet. Muitos deles, até por causa de nossas dificuldades, estão indo para os POPs. Eles são provedores, mas não são muito pequenos, têm certa musculatura. No entorno de Brasília, já temos mais de dez atendimentos, porque aqui é muito mais fácil. E esses são pequenos provedores. Mas no interior, só aqueles que têm mais condições vão diretamente aos nossos POPs.

Tele.Síntes -- E grandes operadoras?
Bonilha -- Nós, como regra, estamos fazendo acordo de compartilhamento de infraestrutura com as grandes operadoras, seguindo as regras da Anatel. Esse é o caso do acordo firmado com a TIM, por exemplo. Mas temos a Sky, que é um grande cliente, que nós atendemos em Brasília e vamos expandir o atendimento.
Hoje, grandes clientes são aqueles que precisam de mais de um ponto, porque normalmente têm redes corporativas. Temos vários clientes prospectados, e agora, com vários POPs ativados, estamos começando a fazer esse contato virar realidade.

Tele.Síntese -- Então, isso só vai acontecer no segundo semestre?
Bonilha -- Com o pequeno provedor, à medida que a gente chega à cidade, fazemos sua interconexão. Hoje mesmo fizemos aqui uma reunião comercial com uma empresa que pode atender mais de cem cidades num prazo de até 90 dias.
Ai tem outro componente interessantíssimo que está acontecendo que é o preço, e por isso o papel da Telebras é importante. Vocês devem muito bem lembrar que as operadoras diziam que o preço de R$ 230 mensais por 1 Megabit era subsidiado, era um preço irreal. Hoje, a gente vê que esse preço virou pó. Aqui no Centro-Oeste, os concorrentes já estão oferecendo a R$ 80 ou R$ 90 o megabit. E não é nas capitais, mas nas cidades pequenas.
Na verdade, o fato da Telebras entrar em um mercado tem um efeito duplo, de atender diretamente o cliente e de forçar as operadoras a baixar os preços. E é o que está acontecendo. Elas sabem que se não se moverem vão perder os clientes. Então isso está sendo salutar. Os preços estão caindo e a velocidade está subindo.

Tele.Síntese -- E qual o preço que a Telebras está praticando?
Bonilha -- Os R$ 230 de referência, mas depende da capacidade.

Tele.Síntese -- Além da Sky, que é um cliente grande, qual outro você tem de grande porte?
Bonilha -- O grupo Ascenty, que era a antiga Metro Fiber, que tem rede em Campinas e no grande ABC, já anunciou que fechará com a gente e vai construir rede para chegar ao nosso ponto de presença. Estamos negociando com ele uma capacidade grande. E nós temos outros clientes, como o projeto de super banda larga nas universidades, com a RNP.

Tele.Síntese. E a troca de capacidade?
Bonilha -- Nós temos contrato com a TIM, e agora com a GVT.
Para execução do PNBL, nós temos que trabalhar de maneira cooperativa. Porque eu recebi vários questionamentos de que a Telebras ia fazer o PNBL. A Telebras não tem capacidade de execução, mesmo que tivesse todo o dinheiro do mundo, de sozinha fazer chegar a 40 milhões o acesso de banda larga fixa. A Telebras participa do processo, onde é uma rede neutra que coopera com as outras operadoras no sentido de expandir a banda larga. Dentro desse papel, de uma maneira ou de outra, estamos trabalhando com todas as operadoras. Por exemplo, na região Norte, com a Embratel e com a Oi.

Tele.Síntese -- Então o guarda-chuva institucional com as elétricas está resolvido? Não há má vontade delas ou problema político?
Bonilha -- Está resolvido e não vejo má vontade das elétricas. Existe um guarda-chuva institucional, que são os contratos de uso oneroso das fibras, o que aconteceu é que por força de mudanças no planejamento da rede, visando a sua agilização, nós tivemos que renegociar esses contratos. Foi feito agora com eles um esforço concentrado e renegociamos todos os contratos. Então, do ponto de vista institucional, nós nunca tivemos problemas com as elétricas. O que acontece é que as empresas têm modus operandi distintos e nós temos que nos adaptar a cada uma delas. Mas isso é normal, é questão operacional e não institucional. Não há problema político.

Tele.Síntese -- Com o backbone ativado, quais são os próximos passos?
Bonilha -- Completar o backbone. Temos que fechar os aneis. Hoje, temos um sistema que é uma rota única e agora, por questão de segurança, nós estamos num trabalho de fechar todos os aneis. Neste ano, o esforço envolve também ligar as cidades. E para isso enfrentamos as dificuldades normais de todas as operadoras, acrescidas das questões licitatórias. E ai nós temos que ter mecanismos para mitigar esses riscos, como transferir, na própria licitação, parte deles aos fornecedores, que têm maiores facilidades para resolvê-los do que uma estatal.

Tele.Síntese -- Como licenciamento de antenas, por exemplo?
Bonilha -- Eles já fazem isso. Estamos falando da solicitação da energia que, para nós, que temos uma máquina muito pequena com 210 funcionários, é complicadíssima. Então são transferidas para eles determinadas atividades, que podem ser resolvidas muito mais facilmente e a um custo menor.

Tele.Síntese – Quais são as metas para 2012
Bonilha -- Meu compromisso é de construir 250 ETRs. Essas estações vão possibilitar o atendimento de 500 cidades, mas pode ser muito mais. No dia 15 de maio, nós vamos ativar, no Rio Grande do Sul, um cliente, a Copel, cooperativa de produtores rurais, que atenderá 18 cidades com a rede deles no Noroeste do estado, região de Passo Fundo.
Em Brasília, por exemplo, com a infraestrutura que tenho aqui, temos o potencial para atender praticamente todas as cidades da cercania. Por incrível que pareça, Brasília é uma das cidades que tem menor número de provedores legalizados. E nós só atendemos quem tem licença de SCM [Serviço de Comunicação Multimídia]. E nós ajudamos quem quer se legalizar, a gente mostra pra eles que a burocracia não é tão grande.
A nossa premissa é sempre a seguinte: a Telebras vai aonde ninguém vai. Nós estamos atendendo agora, por exemplo, Gurupi e Niquelândia, na Serra da Mesa, onde não tem ninguém. Lá tem a incumbent e um provedor, e nós estamos atendendo ao provedor. Não vamos privilegiar onde já tem o serviço com uma política pública. Não tem sentido.

Tele.Síntese -- Mas a região Norte será priorizada...
Bonilha – Justamente por isso. Nós consideramos a região Norte uma questão estratégica. Lá, já estamos atendendo Belém, Macapá, Tucurui e agora estamos no esforço para ativar até Cuiabá, Porto Velho, e Rio Branco, no Acre. E futuramente Manaus e Boa Vista ainda este ano, com apoio da Embratel e Oi. É um compromisso do ministro das Comunicações.

Tele.Síntese -- O ministro Paulo Bernardo, referindo-se ao que lhe disse a presidente Dilma, anunciou que a Telebras teria R$ 1 bilhão de recursos orçamentários por ano, mas ele não tem passado dos R$ 350 milhões. Quais as consequências da limitação orçamentária? Se tivesse os recursos prometidos a Telebras teria capacidade de execução?
Bonilha – Neste ano meu problema não é orçamento, meu problema é gente e as dificuldades naturais de uma estatal. Passa despercebido para todo mundo o fato desta Telebras não ter nada a ver com a Telebras do passado. Esta Telebras é uma SCM estatal. Então, além de criar uma rede, nós estamos criando a institucionalização da empresa, o que leva um tempo enorme. Vai desde a elaboração de contratos, forma como nos relacionamos com provedores e operadoras privadas, com as empresas elétricas. Nós temos que criar toda uma estruturação jurídica para fazer isso sem ter problemas. Isso é um trabalho que não aparece, mas eu não posso fazer nada sem ter esse trabalho pronto. E como tudo que nós fazemos é novo, nós temos que, do ponto de vista legal, criar uma jurisprudência. Cada acordo que eu faço, tenho que ter toda uma normativa para justificar primeiro que o acordo é legal e, segundo, ele não lesa o patrimônio da Telebras. Isso não é uma questão simples. Nós temos que criar métodos, tomar uma série de cuidados.

Tele.Síntese -- Então, hoje o orçamento atual é suficiente?
Bonilha -- É suficiente. Ainda não chegamos a esse problema. Agora, estamos fazendo o nosso plano de cargos e remuneração para fazer um concurso até o final do ano. Nesse concurso, nós pretendemos dobrar o nosso quadro. Até por conta dos projetos estratégicos. Isso precisa de gente, mas gente treinada. Não adianta entrar aqui uma garotada que a gente vai ter que treinar. Vai mais nos atrapalhar do que ajudar. Então estamos num processo de transferência de conhecimento.
Vai chegar um dia que vamos ter um problema orçamentário, mas ainda não chegamos lá.
Nós já temos outro projeto que é descentralizar a Telebras.

Tele.Síntese -- E isso quer dizer o quê?
Bonilha -- Quer dizer que vamos começar a recriar as regionais da Telebras. O projeto já foi aprovado pela diretoria e agora vai ser submetido ao Conselho. Vamos reabrir uma provavelmente no Nordeste – têm dois candidatos Fortaleza e Recife -, no Rio de Janeiro, pela razão óbvia dos grandes eventos e por ser um ponto importante da nossa rede, e Porto Alegre, onde devemos inaugurar agora em maio o primeiro laboratório da Telebras. Lá vão ficar todos os nossos equipamentos de testes. Teremos outro no Rio de Janeiro. Ao invés de ter um único laboratório, como era a CPqD, minha estratégia é criar laboratórios junto aos centros de pesquisas das universidades, cada um com a sua expertise.

Tele.Síntese -- O primeiro será no Rio Grande do Sul. Qual a razão da escolha?
Bonilha -- Por duas razões. Uma delas foi porque a Puc foi a primeira a nos procurar e colocara infraestrutura à disposição da Telebras. Nós fizemos um projeto juntamente com o Funttel e estamos investindo nesse laboratório. A segunda razão é que boa parte dos nossos fornecedores de tecnologia nacional está no Rio Grande do Sul. Então nós vamos montar um laboratório com equipamentos de todos os fornecedores, para certificar os nossos produtos que nós estamos vendendo e certificar os equipamentos deles. Pelo fato de nós estarmos praticamente só comprando produto de tecnologia nacional, queremos ajudar os nossos fornecedores a sempre fazer melhorias nos produtos a partir do seu comportamento em campo. Olhamos um equipamento e observamos se falta alguma funcionalidade, que é importante para o funcionamento da rede. Então, nós sempre estamos tendo esse contato com nossos fornecedores. A beleza de você fazer um trabalho com empresas nacionais e que elas sempre estão disponíveis, são muito mais ágeis.

Tele.Síntese -- Então você não tem problema de dinheiro. Quando a Telebras vai começar a crescer?
Bonilha -- Olha, eu acho que este ano nós vamos cumprir o orçamento e, a partir do ano que vem, nós vamos ter que brigar por mais recursos. Nessa questão orçamentária, e esta é uma posição pessoal, eu acho que uma empresa como a Telebras não pode viver pendurada no Tesouro. Nós temos que criar receitas próprias. Como somos uma start up, com dez meses de operação – e não nenhuma de telecom que começou a ter lucro operacional antes do terceiro ano de funcionamento, temos ainda dois anos pela frente para crescer.

Tele.Síntese -- Então este ano a rede terá 250 ETRs, que podem chegar a 500 cidades. E qual a meta do PNBL?
Bonilha -- A meta do PNBL é chegar a quatro mil cidades. Essa meta está mantida. A diferença é que quando foi feito o orçamento, as quatro mil localidades seriam feitas com recursos próprios. E a gente está vendo que não é necessário. Porque aonde as operadoras vão, não tem sentido eu ir, a não ser que a gente tenha que atender alguma coisa do governo. Então, por exemplo, hoje nós estávamos discutindo Franca (SP), que é território da Algar, agora conta com a Telefônica também. O que aconteceu com a chegada da Telefônica em Franca? Os preços da internet desabaram. Então, eu, Telebras, não tenho nenhuma motivação para ir pra Franca, que já tem dois operadores em competição, o que vou fazer lá? Nosso papel é ser uma rede neutra e provocar a competição.

Tele.Síntese -- Então a Telebras não vai cobrir essas quatro mil cidades?
Bonilha -- O PNBL vai, eu não. Mas podem ter certeza de uma coisa, em todas elas vai ter sempre dois competidores pelo menos. A gente está mapeando isso.

Tele.Síntese -- E a rede sul-americana? A Telebras é a responsável pela ligação no Brasil.
Bonilha -- A interligação do anel sul-americano é um dos nossos projetos estratégicos e estamos fazendo todas as interconexões com as outras empresas, com a Internexa da Colômbia; com a Arsat, da Argentina; com a Imatel, do Uruguai; e com a Copaco, do Paraguai.

Tele.Síntese -- E os projetos estratégicos de satélite e de cabos?
Bonilha -- O de satélite nós estamos montando uma parceria com a Embraer, como é público, e dependemos agora das aprovações do governo para avançarmos. Por questão estratégica, o governo achou melhor ter uma empresa nacional para absorver tecnologia. Para retomar aquele projeto que começou na década de 80 com o Brasilsat, um projeto da Embratel com a CPqD e que acabou não indo pra frente. Então, a ideia é retomar aquele programa. Entram a Embraer, que é a empresa nacional de sucesso nessa área espacial, e a Telebras como sócia dela para garantir, até por questões de governança estratégica, que a empresa seja nacional e que a tecnologia seja realmente transferida de acordo com as necessidades do governo. Nosso papel é na gestão e na governança. O que interessa para a Telebras é comprarmos um satélite ao melhor preço e nas melhores condições possíveis, por meio de concorrência internacional.

Tele.Síntese -- Já tem um prazo para ocorrer essa concorrência?
Bonilha -- Olha, na verdade nós tínhamos um prazo inicial até 2014 e estamos lutando para que até lá o satélite esteja em órbita. Estamos com toda a documentação pronta para a licitação. Nossa especificação está pronta. O dever de casa que teríamos de fazer dentro da Telebras, do MCTI e do Ministério da Defesa, já está pronto. Na verdade foi feita uma atualização do cabedal de conhecimento que já existia. Provavelmente isso vai acontecer muito rapidamente.

Tele.Síntese -- E o cabo submarino?
Bonilha -- Ainda estamos estudando como vamos fazer. É uma questão estratégica, mas também é uma questão econômica porque pagamos uma internet no Brasil muita cara hoje. Então, além de ser estratégico do ponto de vista da independência do país, ele baixa consideravelmente o preço da internet para o PNBL. Nós estamos agora analisando qual o melhor modelo de negócio. Porque, de novo, para mitigar a questão orçamentária, esse projeto vai ser feito em parceria com empresas privadas. Evidentemente que vamos manter a independência da Telebras na gestão do cabo, naquilo que nos interessa, mas nos pontos da chamada aterragem tanto nos Estados Unidos, na África ou na Europa. Mas nós vamos operar o cabo. Nós vamos ter parceria na construção, na manutenção e nas fibras. Mas a capacidade é nossa e nós vamos comercializá-la.

Tele.Síntese – Mas qual é o cronograma
Bonilha -- Nós fizemos um acordo com a Angola, entre países, e a Angola Cable vai ser nossa parceira no cabo que vai para a África e no que vai para os Estados.

Tele.Síntese -- E o acordo assinado com a Odebrecht?
Bonilha -- Esse assunto ainda está sob sigilo. Mas estamos conversando com ela. Assinamos um memorando de entendimentos.

Tele.Síntese -- Quanto custa esse projeto?
Bonilha -- Nosso orçamento para este ano é de R$ 120 milhões. Mas um projeto dessa natureza é de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões.

Tele.Síntese . E você acha que define quando?
Bonilha -- Rapidamente. Nós temos até metade de maio para resolver o que vamos fazer. Nós já temos um pronto um pedido de cotação internacional para fornecedores.

Tele.Síntese -- Quando tempo leva para construção?
Bonilha -- Dezoito meses.

Tele.Síntese -- E a rede de alta capacidade para a Copa?
Bonilha -- Estamos trabalhando nela. Temos R$ 80 milhões no nosso orçamento para aplicar nela este ano. Até dezembro serão a rede vai ser implantada para atender as seis cidades da Copa das Confederações -- Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Rio, Brasília e Recife. Nós já temos projetos aprovados, a dificuldade que temos é de licenciamento para fazer obras nas cidades. Fazer obra em cidade grande é cada vez mais complicado.

Tele.Síntese -- Na LDO nova, essa obra foi priorizada.
Bonilha -- Sim e nós estamos sendo cobrados pela Casa Civil mensalmente, no mínimo.

Tele.Síntese -- Qual será a capacidade? 100 Gbps?
Bonilha -- Nós estamos fazendo com 40 Gigabits por segundo e, no futuro, chegaremos a 100 Gbps. É que nós estamos fazendo a rede não só para atender a Fifa, mas as outras operadoras também. Porque, seguindo a máxima de que não vamos passar vergonha, nós estamos fazendo a rede para as outras operadoras.

Tele.Síntese -- Quando vai chegar a 100 Gbps?
Bonilha -- A PadTec, que é nossa fornecedora, já está testando o link de 100 gigabits. O de 40 Gbps já está na nossa rede, que já está presente em todas essas cidades. É só uma questão de equipamento, que é a parte mais fácil.

Tele.Síntese -- A Telebras tem problemas com falta de equipamentos? Fibra por exemplo?
Bonilha -- Por ora não. Até porque, no ano passado, a gente comprou bastante fibra, esperando que tivesse algum problema. Estocamos mais de 50 quilômetros, justamente para usar nas áreas metropolitanas.

Tele.Síntese – Voltando a questão da receita. Uma das fontes de receita imaginada, quando a Telebras foi recriada, seria prestar serviço para o próprio governo. Como é que está isso?
Bonilha – Hoje, não estamos prestando,pois, para disputar uma licitação, preciso ter rede, já que os órgãos de governo estão espalhados pelo país. Assim que tiver com a rede pronta, chegando às cidades, vamos disputar. Não temos nenhum receio de participar de licitações de cobertura. Nós temos o que considero a melhor rede de telecomunicações do Brasil.

Tele.Síntese -- Por que é melhor?
Bonilha -- Ela não tem legado e foi toda preparada para o IPv6, por exemplo. Então, na hora em que tivermos os aneis fechados, tivermos redundância, poderemos participar das licitações do governo federal em igualdades de condições com as demais operadoras. Temos produtos testados.

Tele.Síntese -- Quais produtos?
Bonilha -- Temos o produto IP, que é o normal de prateleira. Temos o VPN, para redes corporativas. E temos também um produto para atender TV, desenvolvido até em função da Copa.

Tele.Síntese -- É IPTV?
Bonilha -- Não, de TV mesmo. Você coloca toda sua canalização de TV em cima de uma fibra, que a gente transmite e entrega em qualquer ponto do Brasil. É uma rede puramente óptica, sobre o DWDM, sem necessidade de protocolos de transporte. Foi um produto que desenvolvemos juntamente com a PadTec. Está vendo que trabalhar com tecnologia nacional tem vantagens?

Tele.Síntese – E para quem a Telebras vai fornecer
Bonilha -- Por exemplo, para as novas operadoras de TV por assinatura. A NeoTV (entidade que representa os pequenos fornecedores de TV paga) nos procurou, pois quer montar uma rede nacional para fornecer para todos os seus associados. A ideia é que eles entregam toda a programação em um determinado ponto e a gente distribui para todos os associados direto pela fibra, sem precisar ficar rodando. O produto já está pronto. Acredito que o grande impulsionador das vendas é a nova regulamentação do SeAC.

Tele.Síntese -- Essa solução não poder ser oferecida também para TV pública, com a Telebras como a rede de transporte?
Bonilha -- Pode também. A questão é que tenho cobertura limitada e a TV pública precisa de cobertura nacional.