José Ribamar Smolka Ramos
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20/05/03

Sobre NGNs e TCP/IP

Nota de José  Smolka sobre esta mensagem e a anterior:
Mudando de tópico, chegamos às NGNs (Next Generation Networks), e os modelos para VoIP em "escala industrial", por assim dizer. Curioso é que, apesar de ter chutado algumas canelas na primeira mensagem, ninguém fez nenhum questionamento sério sobre as posições que defendi. A segunda mensagem apenas esclarece alguns detalhes técnicos abordados na primeira mensagem. Mas tenho certeza que o tema ainda vai render muito bate-boca :)
 

----- Original Message -----

Sent: Tuesday, May 20, 2003 11:01 AM
Subject: [Celld-group] Sobre NGNs e TCP/IP

Tenho acompanhado o assunto convergência de serviços há muito tempo, e desde 1996 (nesta época trabalhava em uma operadora de telefonia fixa) eu dizia ao pessoal de projeto de serviços de comunicação de dados: vocês estão implantando redes estatísticas (baseadas na então "novidade" do frame-relay) e redes determinísticas, achando que isso vai solucionar o problema do cliente? Seria melhor vocês pensarem na oferta de uma rede pública TCP/IP.

Bom, eu era (e sou, apesar da formação acadêmica em engenharia) da área de TI, portanto minhas opiniões esbarraram na mentalidade "not invented here", que ainda é uma praga que nos atormenta (se tiver aí alguém que conheça uma operadora de telecom onde a área de engenharia de redes e a área de TI convivam em pacífica harmonia, eu quero conhecer o case).

Como falado na notícia, por causa da pressão por redução de custos operacionais, e também pela necessidade de se "diferenciar" perante a concorrência, e poder criar a percepção de "valor" no cliente (as aspas são por ironia sobre como isso vem sendo feito, não porque eu acredite que isso não é importante) as operadoras wireline estão começando a investir a sério na convergência.

Em minha opinião, a proposta NGN é apenas mais uma tentativa de "ensinar truque novo a cachorro velho", e, apesar do discurso sobre preservação do investimento ser válido (com o perdão aos puristas e fundamentalistas sobre religião, "Deus só criou o mundo em sete dias porque Ele não tinha que se preocupar com a base instalada"), os principais interessados nesta via "evolutiva" das redes de telecomunicações são os grandes fabricantes de equipamentos de telecomunicações, especialmente na área de comutação.

Eu vejo o seguinte cenário: as operadoras wireline já montaram, via um "recorte" virtual da infra-estrutura de transmissão SDH (alguns também colocaram switches ATM, mas acho isso completamente desnecessário), um backbone de tráfego puramente TCP/IP. Com as técnicas modernas de engenharia de tráfego na camada 3 da arquitetura TCP/IP (MPLS, DiffServ, etc.) elas estão em posição para fazer ofertas muito agressivas de serviços com QoS diferenciado para o mercado corporativo, por exemplo: 
_ VPN - formação de grupo fechado de comunicação entre os sites do cliente (com ou sem a possibilidade de acesso remoto viadial-up  - wireline ou wireless - ou, o que deveria colocar as operadoras de telefonia celular com as barbas de molho, via WLAN); 
- VoIP - possibilidade de interconexão (ou melhor ainda, substituição) da estrutura de PABX do cliente, cortando os custos de ligação de voz entre sites da mesma empresa (especialmente os interurbanos e internacionais); 
- Outsourcing - ofertar ao cliente a possibilidade de terceirizar, total ou parcialmente, a sua infra-estrutura de comunicação de voz/dados interna, inclusive com a oferta de "data centers" para co-locação da infra-estrutura de TI.

Tudo isso já vem sendo feito, e está ficando cada dia mais agressivo. E os custos de expansão desta nova estrutura, tanto em termos geográficos, como em termos de capacidade ou implementação de novos serviços, é feito por uma fração do custo associado à evolução das redes telefônicas tradicionais.
Então eu pergunto: porquê gastar mundos e fundos para preservar a evolução de uma tecnologia que, em minha opinião, sofre do mesmo mal que os Mainframes da década de 80? 
A quem realmente interessa isso? Um modelo evolutivo calcado na oferta de serviços para o mercado corporativo com a gradual expansão para o mercado SOHO e doméstico/pessoal me parece muito mais sensato. 
Minha proposição é: 
- fazer o deployment da estrutura pública TCP/IP em paralelo com a rede tradicional; 
- migração acelerada de serviços para a nova rede; 
- descontinuação gradual da estrutura antiga.

Vou um pouco além nessa visão. 
Considerando a realidade do mercado brasileiro, o mercado corporativo é onde as operadoras podem esperar um faturamento estável e crescente, porque (a menos que o perfil sÓcio-econômico da sociedade mude) o mercado doméstico/pessoal que pode pagar pelos serviços já está mais que 100% atendido. 
O mercado corporativo vai demandar cada vez mais ofertas completas de serviços, envolvendo acessos de voz, dados, acesso remoto fixo e móvel, etc. 
Portanto acho que o movimento de concentração das operadoras está apenas começando. Dentro de uns 5 anos, vejo um modelo com (idealmente) quatro ou (realisticamente) três grandes operadoras telecom, todas com footprint nacional, e todas ofertando todo o portfolio de serviços: voz e dados, wireline e wireless (celular e/ou WLAN).
J. R. Smolka 

 

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