José Ribamar Smolka Ramos
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Dezembro 2009               Índice Geral


07/12/09

• Smolka comenta msg de Rogério Gonçalves inserida no tema "Telebrás, Eletronet e Plano de Banda Larga"

de J. R. Smolka <smolka@terra.com.br>
para wirelessbr@yahoogrupos.com.br, Celld-group <Celld-group@yahoogrupos.com.br>
data 7 de dezembro de 2009 18:20
assunto Re: RES: [wireless.br] Re: Telebrás, Eletronet e "Plano de Banda Larga"

[Msg de Rogério em marrom itálico]

Por partes...

Desde o início desta discussão o foco do nosso papo gira em torno da minha afirmação que a universalização das telecomunicações se tornou mamão-com-açúcar após a introdução da tecnologia SDH nas redes de trânsito/troncos.

Muito bem, fiquemos neste ponto.

Assim, como a implementação da primeira rede SDH só rolou em 1994, na Telebrasília, certamente os fatos ocorridos antes daquele ano estão fora do foco do nosso papo, pois naquela época as redes PDH (e suas caras e complicadas técnicas para extração de links E1) e as centrais decádicas ainda reinavam absolutas. Certo?

Não posso garantir, mas tenho quase certeza que enlaces SDH e centrais CPA (estas antes daqueles) foram usados por outras empresas do sistema Telebrás (ex.: Telebahia, Telepar e, muito provavelmente, Embratel) antes de 1994. Se houver por aí alguém que trabalhasse com transmissão e/ou comutação em alguma destas empresas naquela época, um pouco de ajuda à memória cairia bem :-)

A título de ilustração, uma coisa era pagar 5k dólares a um particular por uma linha em 1993, quando a planta nacional instalada do STFC, decádica e PDH, era de cerca de 11 milhões de terminais. Outra coisa, completamente diferente, seria pagar esses mesmos 5k dólares ao particular por uma linha em 1997, quando a planta nacional, decádica, PDH e SDH, era de cerca de 17 milhões de terminais e o Minicom havia zerado a demanda reprimida por novos terminais, através da comercialização de milhões de novos contratos de planos de expansão, cujos terminais eram instalados em um prazo médio de 6 meses nos grandes centros, como ocorreu comigo, aqui no RJ.

Perdão, mas acredito que a grande guinada de preparação das empresas do sistema Telebrás para a privatização não foi no SDH, que é uma tecnologia de transmissão, mas justamente em zerar o passivo de planos de expansão (PEX) vencidos - com o prazo de 48 meses para instalação já estourado, muitas vezes há muuuuiiiiito tempo. Esta ação sobre os PEX vencidos foi, a meu ver, a grande destinatária daqueles famosos milhões de investimento pré privatização.

Explico melhor: em várias empresas do sistema Telebrás, especialmente no "circuito Elizabeth Arden" Telesp-Telerj-Telebrasília, virou moda a apropriação indébita do dinheiro obtido via contratos de PEX. O assinante cumpria a sua parte do contrato, pagando as 48 parcelas mensais do financiamento para expansão de capacidade da rede de acesso (fiação na rua, armários, cabos tronco, DG e placas de assinante), mas a operadora embolsava a grana e não construia a rede. Resultado: muita gente reclamando, com razão, que pagaram e não receberam. E as operadoras dizendo que dariam um jeito... Até que o Serjão viu qu não dava pra privatizar deste jeito, porque nenhum comprador quereria herdar este passivo. Fiel ao seu estilo delicado e sutil :-) , ele arranjou o dinheiro e determinou às operadoras que zerassem o passivo de PEX vencidos.

Final da história: os PEX vencidos foram eliminados e o modelo de financiamento de expansão da rede de acesso foi mudado. Os terminais deixaram de ser comercializados como um bem (davam direito a ações preferenciais da Telebrás, e houve um trempo onde a posse de uma linha telefônica tinha que ser declarada na relação de bens da declaração anual do imposto de renda) mas como um serviço, e muita gente que ganhava doinheiro com a compra e venda de linhas telefônicas "micou" com o produto na mão.

E isto não tem nada a ver com a introdução de SDH na planta de transmissão. A única forma para estabelecer relação de causa e efeito entre o fim da demanda reprimida por terminais STFC e o SDH é se alguma operadora tivesse, com base nos seus estudos de planejamento de capacidade, tomado a decisão de não ativar novos terminais enquanto a capacidade de interconexão entre as centrais não aumentasse. Não sei porque, mas não acho isto muito provável.

Seria bacana se você tivesse algo para contar sobre as tuas experiências (boas ou más) com a Telesp após 1996, quando a empresa passou a utilizar a tecnologia SDH. Por exemplo: Você conhece alguém aí de Campinas que não tenha conseguido celebrar contrato de plano de expansão até 1997, quando o Minicom acabou com esse tipo de contrato?

Seria, sim! Eu também gostaria de ouvir.

E os data-cables? Mesmo caros, quantos dias a Telesp levava para instalá-los, depois de 1996?

Este é um exemplo perfeito do raciocínio que afeta o Brasil até hoje. E não é só na área de telecom. São Paulo é o estado mais rico do país, logo se lá não está bom, então no resto do país só pode ser pior, certo? ERRADO!!! E a mídia, não sei se por conveniência ou por preguiça, é uma das principais propagadoras desta visão.

Tu quoque, Rogério, fili mi? :-) (Segundo Suetônio... se preferir a forma shakesperiana, então fica et tu, Rogério? Fonte: wikipedia)

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J. R. Smolka
 


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