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Junho 2011               Índice Geral


29/06/11

• Artigo de Michael Crichton traduzido por José Smolka: "A defesa do ceticismo quanto ao aquecimento global"

Fonte: e-Thesis
A defesa do ceticismo quanto ao aquecimento global
Responsabilidade - Meio Ambiente
por Michael Crichton
27-Jun-2011
Tradução de J. R. Smolka, Salvador - BA, 22 de junho de 2011

 Michael CrichtonEstar em Washington nesta noite me lembra que a única pessoa a me oferecer emprego nesta cidade foi Daniel Patrick Moynihan. Isto foi há trinta anos, e ele trabalhava para Nixon naquele tempo. Moynihan era um herói para mim, o perfeito exemplo do intelectual engajado na política. O que eu mais admirava nele é que ele confrontava cada problema de acordo com os dados disponíveis, e nunca conforme as suas crenças pessoais. Ele poderia trabalhar tanto para presidentes do Partido Democrata quanto para os do Partido Republicano.

Ele recebia um bocado de ataques por causa das suas análises imparciais, mas ele costumava acertar mais do que errar.

Moynihan era do Partido Democrata, e eu sou politicamente agnóstico. Além disso eu fui criado dentro de uma tradição científica que considerava a política como uma coisa inferior. Se você não fosse inteligente o suficiente para ser um cientista, você poderia sempre tentar uma carreira na política. E eu preservo este preconceito até hoje. Eu também venho de uma antiga e rígida tradição, que considera que considera a ciência como o empreendimento de testar a validade de teorias contra os dados obtidos do mundo real. Hipóteses não testáveis podem ser qualquer coisa, menos ciência.

Nós vamos falar de meio ambiente, portanto eu vou avisá-los que minha mãe, sessenta anos atrás, já insistia em coisas como comida orgânica, reciclagem e eficiência energética, muito antes que as pessoas tivessem dado estes nomes a estas coisas. Ela levava os vendedores de geladeiras à loucura. E, ao longo destes anos, eu tenho reciclado o meu lixo, instalado painéis solares e torneiras de baixo fluxo, dirigido carros movidos a diesel e usado fraldas de pano em meus filhos - Todas ideias conservacionistas aprovadas em minha época.

Eu acredito firmemente que a consciência ambiental é criticamente importante. O meio ambiente é o nosso sistema de suporte de vida compartilhado, é o que passamos às próximas gerações, e o que fazemos hoje tem consequências - potencialmente muito sérias - para as futuras gerações. Mas eu também descobri que a sabedoria popular sobre este assunto é errada, não científica, terrivelmente ultrapassada e danosa ao meio ambiente. Tem esgoto não tratado saindo do chão no parque nacional de Yellowstone. Nós devemos estar fazendo algo muito errado.

Em meu ponto de vista nossa abordagem do aquecimento global exemplifica tudo que está errado com o tratamento que damos às questões do meio ambiente. Nós estamos baseando nossas decisões em especulação, não em evidências. Os defensores desta tese estão forçando o seu ponto de vista usando técnicas de relações públicas, e não dados científicos. De fato nós deixamos que todo este assunto ficasse politizado - vermelhos versus azuis, republicanos versus democratas. Isto é absurdo. Dados não têm posição política. Dados são dados. A política te conduz em direção a uma crença. Os dados, quando seguidos, te levam à verdade.

Quando eu era um estudante, nos anos 50, assim como muitos jovens eu percebi que a costa da África parecia encaixar-se quase perfeitamente com a costa da América do Sul. Será que esses continentes estiveram ligados algum dia? Eu perguntei ao meu professor, que me disse que isto era puramente acidental, e que os continentes não se moviam. Eu não achei esta resposta satisfatória, sem saber que as pessoas vinham sentindo insatisfação com esta resposta desde que Francis Bacon observou este fato pela primeira vez, em 1620. Um cientista alemão chamado Wegener tinha proposto uma resposta alternativa para esta questão em 1912, mas ainda assim o meu professor disse que não.

Quando eu cheguei ao ensino médio, dez anos depois, foi reconhecido que, de fato, os continentes se movem, e sempre fizeram isso. Nasceram as teorias da deriva continental e das placas tectônicas. O meu professor estava errado.

Agora vamos saltar à frente, para os anos 70. Gerald Ford era o presidente. Saigon caiu, Hoffa desapareceu, e, na ciência climática, as evidências apontavam para um resfriamento catastrófico, e uma nova Idade do Gelo.

Este temor já vinha crescendo por muitos anos. No primeiro Dia da Terra, em 1970, Kenneth Watt da Universidade da Califórnia em Davis disse que "se a tendência atual continuar, o mundo estará cerca de quatro graus mais frio do que hoje em 1990, e onze graus mais frio do que hoje no ano 2000". E completou: "isto é cerca do dobro do necessário para nos levar a uma Era do Gelo". A International Wildlife avisou que "uma nova Era do Gelo precisa ser considerada em pé de igualdade com a guerra nuclear" como um risco para a humanidade. A Science Digest disse que "nós temos que nos preparar para a próxima Era do Gelo". O Christian Science Monitor observou que os tatus estavam sumindo do estado de Nebraska, porque ele estava muito frio, que as geleiras estavam avançando e que as estações de plantio e colheita tinham ficado menores em todo o mundo. A Newsweek publicou reportagem dizendo que percebiam-se "sinais agourentos" de uma "mudança fundamental no clima mundial".

Mas a verdade é que cada uma destas afirmações estava errada. O temor de uma nova Era do Gelo desapareceu em cinco anos, apenas para ser substituído pelo temor de um aquecimento global. Estes temores foram acentuados por causa da explosão populacional. Em 1995 ela era de 5,7 bilhões de pessoas, um crescimento de 10% em cinco anos.

Voltando aos anos 90, se alguém lhe dissesse que "esse negócio de explosão populacional está sendo superestimado", e que "nos próximos cem anos a população mundial vai, na verdade, encolher", isso contraria tudo o que os grupos ambientalistas e as Nações Unidas estavam dizendo. Você acharia estas afirmações uma afronta.

E, da mesma forma, em 2005, você considera uma afronta a afirmação que o aquecimento global está sendo superestimado.

Mas nós agora sabemos que aquela pessoa hipotética em 1995 estava certa, E sabemos que existe farta evidência que isto já era verdade vinte anos antes. Nós apenas não fomos informados destas provas em contrário, porque o senso comum, com seu poder avassalador, as manteve afastadas de nós.

Este é um gráfico publicado na revista Wired, mostrando o declínio da taxa de fertilidade nos últimos cinquenta anos. Eu menciono estes exemplos porque a experiência me diz que todos nós colocamos nossa fé na ciência. E nós acreditamos no que os cientistas nos dizem. Meu pai suportou uma vida inteira consumindo margarina, para depois morrer de ataque cardíaco assim mesmo. Outras pessoas entupiram os seus cólons com fibras para evitar o câncer, apenas para descobrir mais tarde que foi tudo um desperdício de tempo e fibras.

Quando eu escrevi Jurassic Park eu me preocupei que as pessoas rejeitassem a ideia absurda de recriar um dinossauro. Ninguém fez isso, nem mesmo os cientistas. Me contaram que um geneticista de Harvard, quando terminou a leitura do livro, largou ele em cima da mesa e disse "dá para fazer!" O que é totalmente fora de propósito. Logo depois um congressista anunciou que estava apresentando um projeto de lei para banir a pesquisa genética que poderia resultar na recriação dos dinossauros. Eu fiquei em suspense, mas minhas esperanças foram frustradas. Alguém soprou para ele que era impossível fazer isso, e ele retirou o projeto de lei da pauta.

Ainda assim a crença persiste. Repórteres me perguntam se "durante as pesquisas para escrever Jurassic Park você visitou algum laboratório de biotecnologia?" Eu digo: não, porque eu faria isso? Eles não sabiam como fazer um dinossauro. E continuam sem saber. Nós todos tendemos a dar crédito à ciência, mesmo quando ele não é devido. Eu vou mostrar a vocês muitos exemplos de crédito indevido esta noite, mas existe um exemplo pelo qual eu quero começar: a famosa Equação Drake, dos anos 60, para estiar o número de civilizações avançadas na nossa galáxia.

N = Ns x Fp x Ne x Fl  x Fi x Fc x Fv

Onde Ns é o número de estrelas na Via Láctea, Fp é a fração do número de estrelas com planetas, Ne é o número médio de planetas por estrela capazes de suportar vida, Fl é a fração do número de planetas onde a vida evoluiu, Fi é a fração do número de planetas onde vida inteligente se desenvolveu, Fc é a fração destas inteligências que desenvolveu meios de comunicação, e Fv é a fração do período de vida do planeta durante o qual vive a civilização que se comunica.

O problema com esta equação é que nenhum dos seus termos pode ser determinado. Assim, a Equação Drake pode assumir qualquer valor, desde "bilhões e bilhões" até zero. Uma expressão que pode significar qualquer coisa não tem significado nenhum. A aparência matemática é ilusória. Em termos científicos - o que significa, para mim, hipóteses testáveis - a Equação Drake realmente não tem nenhum significado.

E aqui está outro exemplo. A maioria das pessoas lê isto e apenas balança a cabeça concordando.

"Quantas espécies existem? Esta questão tem importância crescente à medida que plantas e animais desaparecem mesmo antes que os cientistas consigam identificá-los".

Espere um minuto só... Como você pode saber que algo desapareceu antes que você o identificasse? Se você não sabe que existiu você não tem nenhuma maneira de saber que desapareceu, não é? Esta afirmação é sem sentido. Se você nunca se casou então você não tem como dizer que a sua esposa lhe abandonou.

Muito bem. Após esta preparação, vamos às evidências, gráficas e verbais, para o aquecimento global. Como a maioria de vocês deve saber, o consenso dos cientistas do clima acredita no aquecimento global. Historicamente o recurso ao consenso tem sido o primeiro refúgio dos farsantes; é uma maneira de evitar o debate pela alegação que o assunto já está decidido. Toda vez que você ouvir que o consenso dos cientistas concorda com isto ou aquilo é melhor tomar cuidado com sua carteira, porque estão lhe aplicando um golpe.

Vamos ser claros: o trabalho da ciência não tem nada a ver com consensos. Consenso é o negócio da política. A ciência, ao contrário, precisa de apenas um investigador que esteja certo, o que significa que ele/ela possui resultados experimentais verificáveis. Na ciência o consenso é irrelevante, o que é relevante são resultados reproduzíveis. Os maiores cientistas da história são grandes justamente porque eles divergiram do consenso.

Além do mais, o consenso dos cientistas frequentemente está errado. Como estavam errados ao afirmar, anteriormente, que os continentes não se moviam. Devemos sempre lembrar das palavras imortais de Mark Twain: "sempre que você descobrir que está do lado da maioria então é hora de parar e refletir",

Então vamos ao aquecimento global. Vamos começar pelo sumário executivo, que é a única coisa que a maioria lê. Vamos entrar em maiores detalhes logo mais, mas por enquanto vamos assumir que o sumário executivo contenha toda a informação relevante. Na página três, encontramos aqueles que são, possivelmente, os dois gráficos mais importantes da ciência climática em 2001.

O gráfico superior foi produzido pelo Hadley Center na Inglaterra, e mostra o aquecimento global na superfície da terra. O gráfico inferior foi produzido por uma equipe de pesquisas americana liderada por Mann [1], e mostra a temperatura dos últimos mil anos.

Destes dois gráficos, um está totalmente desacreditado, e o outro é objeto de sérias controvérsias. Vamos começar pelo de cima.

Eu redesenhei o gráfico no Excel, e ele ficou assim.

A primeira coisa a dizer é que existe muita incerteza quanto ao tamanho real do aquecimento ocorrido. O IPCC [2] diz que no século XX as temperaturas sofreram um aumento entre 0,4 e 0,8 graus. O Instituto Goddard diz que é entre 0,5 e 0,75 graus. Isto é bastante incerteza sobre quanto aquecimento realmente ocorreu.

Mas vamos aceitar o gráfico como está. Ele mostra um aquecimento de 0,4 graus até 1940, o que precede a principal onda de industrialização, e, portanto, pode ser ou não um processo natural. Então, de 1940 a 1970, as temperaturas caem. Esta foi a razão para o medo do resfriamento global, e do receio de que nunca fosse esquentar novamente. Desde então as temperaturas subiram, como se pode ver. Elas subiram associadas ao crescimento dos níveis de dióxido de carbono. O principal argumento do aquecimento associado ao CO2 vem deste registro de trinta e cinco anos.

Mas o que temos que lembrar é que este gráfico mostra, na verdade, variações anuais da temperatura média da superfície da terra em função do tempo. A temperatura média geral para todo o período é de, mais ou menos, dezesseis graus. Então, se representarmos no gráfico toda esta variação sobre a média teremos o seguinte.

Toda a discussão é sobre esta pequena ondulação do gráfico. Vamos deixar claro que eu estou desenhando o gráfico de uma forma que minimiza a ondulação. Mas o gráfico anterior está desenhado de forma a maximizá-la. Se você observar uma esfera de aço no microscópio ela vai parecer com a superfície da Lua, mas parece lisa ao toque. As duas coisas são verdade, a questão é: qual delas é importante.

Como eu acho que a evidência é fraca, peço que vocês levem em conta o segundo gráfico.

Agora a questão é: este aquecimento ocorrido durante o século XX é fora do normal? Para isto temos que ir para o gráfico feito por Michael Mann, que ficou conhecido como o "taco de hockey".

Este gráfico mostra o resultado do estudo de 112 indicadores indiretos: anéis de crescimento no tronco das árvores, isótopos coletados no gelo e outros marcadores da temperatura ambiente. Obviamente não existiam termômetros no ano 1000, portanto indicadores indiretos são a forma de saber qual a temperatura naquela época. Os resultados de Mann foram a peça central do último relatório das Nações Unidas, e foram a base para a alegação que o sáculo XX apresentou o crescimento mais abrupto da temperatura dos últimos mil anos. Isto foi em 2001, mas ninguém diria isto hoje. O trabalho de Mann recebeu críticas de diversos laboratórios ao redor do mundo. Dois pesquisadores Canadenses, McKitrick e McIntyre, refizeram o estudo usando os mesmos dados e métodos que Mann, e encontraram dúzias de erros, incluindo duas séries de dados com exatamente os mesmos valores para vários anos. Sem nenhuma surpresa, após a correção destes erros eles obtiveram resultados marcadamente diferentes.

Mas este crescimento no século XX ainda é brusco e incomum, certo? Bem... Não, porque na verdade você não pode confiar nele. Acontece que Mann e seus colaboradores usaram uma fórmula não padronizada para analisar os dados, e esta fórmula em particular transforma qualquer coisa em um taco de hockey - inclusive dados aleatórios gerados por computador.

O físico Richard Muller chamou esse resultado de "chocante...", e ele está certo. Hans von Storch Chama o estudo de Mann de "lixo". E ambos são ferrenhos defensores do aquecimento global. Os erros de Mann são consideráveis, mas ele vai conseguir o título de catedrático assim mesmo.

Mas o descrédito no qual o seu estudo caiu nos leva a imaginar quanta variação climática pode ser considerada normal. Vamos ver os dados de algumas estações meteorológicas.

Dá para ver que o aumento na temperatura que ocorre atualmente, embora marcante, não é incomum. Paris era mais quente nas décadas de 1750 e 1830 do que hoje.

Da mesma forma, se olhamos para Stuttgart de 1950 até o presente, parece ocorrer um aquecimento dramático, mas se você olha o gráfico inteiro você tem uma perspectiva diferente. De novo: era mais quente na década de 1800 do que hoje.

Estes gráficos foram obtidos no website do GISS [3] na época em que eu fazia pesquisas para meu livro [4]. Se algum de vocês acha que a ciência está acima da manipulação, é melhor olhar isso. Os dados foram alterados!

Não tenho ideia dos motivos pelos quais o Instituto Goddard mudou os dados no seu website. Mas isso claramente faz os dados de temperatura parecer mais consistentes com uma atemorizante tendência de alta do que alguns meses atrás.

Muito bem. Com o segundo gráfico demolido, é hora de retornar ao primeiro. Afora precisamos perguntar: se as temperaturas na superfície subiram em todo o século XX, o que causou esta subida? A maioria das pessoas aprendeu que o aumento na temperatura foi causado pelo dióxido de carbono, mas isto está longe de ser indiscutível.

Dois fatores que não eram considerados importantes passaram recentemente a merecer mais atenção dos cientistas. O primeiro é o sol. No passado imaginávamos que a influência do sol era razoavelmente constante, e, portanto, qualquer aumento de temperatura devia ser causado por outro fator. Mas agora está claro, por causa do trabalho dos cientistas do Instituto Max Planck, na Alemanha, Que o sol não é constante, e que ele atravessa, neste momento, um pico de atividade dos últimos mil anos. Os dados vêm do estudo das manchas solares.

De acordo com Solanki, e seus colaboradores, isto mostra que a radiação solar e a temperatura na superfície estão correlacionadas até épocas recentes. Solanki diz que o sol é insuficiente para explicar as temperaturas atuais, e, portanto, deve haver outro fator em atuação, presumivelmente os gases de efeito estufa. Mas a verdadeira questão é se o sol é responsável por uma parte significativa do aquecimento ocorrido no século XX, e ninguém tem certeza. Mas é provável que ele responda por uma parcela maior do que se pensava anteriormente.

Agora vamos ver o caso das cidades.

Outro fator que pode influencias os registros de aquecimento é o calor emanado pelas cidades. Isto é conhecido como o problema do viés de calor urbano, e, assim como os efeitos da radiação solar, os cientistas tendiam a achar que o seu efeito, embora real, era relativamente menor. Por isso o IPCC atribuiu apenas seis centésimos de grau ao efeito do aquecimento urbano. Mas as cidades são muito quentes, e seu efeito é, provavelmente, muito maior que isso. Nós agora sabemos que muitas cidades são sete ou oito graus mais quentes em seu centro do que na zona rural circundante.

Este gráfico mostra as temperaturas medidas em um carro transitando ao redor de Berlim. A diferença de temperatura entre a área urbana e rural é de sete graus.

Alguns estudos têm sugerido que a correção dos dados devido a este fator precisa ser entre quatro a cinco vezes maio que o considerado pelo IPCC.

E o que isto representa para os nossos dados? Lembrem-se: o aquecimento total do século XX é de seis décimos de grau. Se, parte disso é devido ao uso do solo e ao calor urbano (e um estudo sugere que o efeito disso no século XX é de 0,35 °C), e parte é devido ao aquecimento causado pelo sol (0,25 °C no século XX), então a fatia do aquecimento que poderia ser atribuída ao dióxido de carbono fica bem menor. E vou repetir: hoje em dia ninguém sabe ao certo quanto pode ser atribuído ao dióxido de carbono.

Mas, se o dióxido de carbono não é o fator principal do aquecimento global, então talvez não faça muito sentido tentar controlar as suas emissões. Existem muitos motivos para reduzir a nossa dependência dos combustíveis fósseis, e eu apoio essa redução. Mas o aquecimento global provavelmente não é a razão principal para isso.

Isto é muito sério. Temos um grau de incerteza muito alto.

E agora chegamos ao tópico mais importante: O QUE ACONTECERÁ NO FUTURO?

Para responder isso vamos recorrer ao órgão das Nações Unidas conhecido como Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, o padrão-ouro em ciência climática.

Nos últimos dez anos o IPCC publicou um relatório atrás do outro, e acredito que eu talvez seja a única pessoa a tê-los lido. Digo isso porque se qualquer jornalista tivesse lido aqueles documentos com algum cuidado ele terminaria a leitura com uma extrema sensação de desconforto - mas não no sentido pretendido pelo texto.

O volume mais recente deste trabalho é o Terceiro Relatório de Avaliação, publicado em 2001. Ele contém a opinião mais atualizada dos cientistas desta área. Vejamos o que diz o texto. Vou ler em voz alta.

Desculpem, mas estes textos estão escritos em academiquês. São difíceis de decifrar, mas vamos fazer isso. Começando com a primeira seção, O Sistema Climático: Uma Introdução. Vamos até a primeira página do texto e, no terceiro parágrafo, lemos o seguinte:

As variações e mudanças climáticas devidas a imposições externas podem ser parcialmente previsíveis, particularmente em escalas espaciais maiores, globais e continentais. Como as atividades humanas, tais como as emissões de gases de efeito estufa ou as mudanças de uso do solo, resultam em imposições externas, acredita-se que os aspectos de larga escala da mudança climática induzida pelo homem também são parcialmente previsíveis. Entretanto a capacidade para fazer isso é limitada, porque nós não podemos prever com precisão as mudanças populacionais, econômicas e tecnológicas, bem como outras características relevantes da atividade humana futura. Na prática, portanto, temos que construir cuidadosamente cenários da atividade humana, e determinar as projeções climáticas com base nestes cenários.

Vamos pegar frase por frase e traduzir para linguagem comum. Começando com a primeira frase. O que ela realmente diz é que:

O clima pode ser parcialmente previsível.

A segunda sentença significa que:

Nós acreditamos que a mudança climática induzida pelo homem é previsível.

E a terceira sentença:

Mas nós não podemos prever o comportamento humano.

Quarta frase:

Portanto nós nos apoiamos em "cenários".

A lógica disso é difícil de seguir. O que significa "pode ser parcialmente previsível"? É mais ou menos com estar meio grávida? Em duas frases nós passamos de pode ser previsível para é previsível. E então, se não podemos fazer previsões confiáveis sobre população, desenvolvimento e tecnologia... Então como montar um cenário cuidadosamente construído? O que significa "cuidadosamente construído" se você não pode fazer previsões sobre população, economia e outros fatores essenciais ao cenário?

A falta de lógica é estonteante. Será que estou exagerando? Vamos ver outro trecho.

O conhecimento científico atual nos permite apenas dar exemplos ilustrativos dos possíveis resultados.

Exemplos ilustrativos! As estimativas de gastos para uma adequação, mesmo que parcial, dos Estados Unidos ao Protocolo de Kyoto - uma redução de 3% em relação aos níveis de 1990, não os 7% exigidos - são da ordem de 300 bilhões de dólares anuais. Ano após ano. Nós podemos aguentar, mas se vamos gastar trilhões de dólares, eu prefiro basear esta decisão em algo mais substancial que "exemplos ilustrativos".

Vejamos outro exemplo.

 Minhas preocupações aumentaram quando eu li que os modelos climáticos já possuem relativa capacidade na simulação das mudanças ocorridas desde 1850... Relativa capacidade? Isto não é capacidade em prever o futuro, mas em reproduzir o passado! Não parece que estes modelos tenham um desempenho realmente bom. È natural perguntar: como eles são testados?

Continuo citando o texto.

Embora não consideremos que a complexidade do modelo climático torne impossível provar que ele seja "falso" em um sentido absoluto, ela torna a tarefa de avaliação extremamente difícil, e abre espaço para componentes subjetivos em qualquer julgamento.

O uso do termo "subjetivo" deveria disparar sirenes de alarme em todas as pessoas aqui. A ciência, por definição, não é subjetiva. Lembro a vocês que precisamente este tipo de assunto é que deixou os americanos furiosos com a EPA [5]. Nós sabemos que não dá para deixar que a mesma empresa farmacêutica fabrique e teste um remédio - isto não é confiável, e todo mundo sabe disso. Então porque em um assunto tão sensível quanto o das mudanças climáticas nós permitimos que as mesmas pessoas desenvolvessem e testem os modelos?

Este tipo de falha é bem conhecido. James Madison, nosso quarto presidente, disse que:

Nenhum homem deve julgar sua própria causa, porque o seu interesse certamente vai influenciar seu julgamento, e provavelmente corromper a sua integridade.

Madison está certo. A ciência climática precisa de controle externo.

Novamente, será que estou exagerando nisso tudo? Parece que não. Mais adiante no texto nós lemos que:

A previsão, em longo prazo, dos estados climáticos futuros não é possível.

Isto certamente deveria nos convencer a abandonar a leitura a partir daí. Se o sistema é não linear e caótico - e ele é - então ele não é previsível, e se ele não é previsível então o que estamos fazendo aqui? Porque estamos nos preocupando sobre o ano de 2100?

Você pode dizer que tudo bem, talvez esta seja a situação atual da ciência climática, como o IPCC mesmo está nos dizendo. Ainda assim todos os dias nós vemos notícias sobre as terríveis consequências do aquecimento global. E se eu estiver errado? E se uma tremenda subida na temperatura realmente acontecer? Nós não deveríamos fazer algo já, apenas por segurança? Nós não temos uma responsabilidade para com as gerações que ainda não nasceram?

Agir agora ou não?

Este é o gráfico das previsões do IPCC para 2100. Como vocês podem ver, elas variam de um aquecimento mínimo de 1,5 graus até um máximo de 6 graus. Isto é uma variação de 400%. Tudo bem para uma pesquisa acadêmica, mas tente transferir isto para alguns casos da vida real.

Na vida real uma incerteza de 400% é tão grande que ninguém pode tomar uma decisão. Nunca.

Se você planeja construir uma casa e o empreiteiro diz que ela vai custar entre um milhão e meio e seis milhões de dólares, você levaria o projeto adiante? É claro que não. Você procuraria outro empreiteiro. Se você fosse sair de férias e dissesse ao seu chefe que voltaria ao trabalho dentro de 15 a 60 dias, ele aceitaria? Não, ele lhe diria exatamente em que dia ele quer que você volte. Estimativas no mundo real têm que ser muito, mas muito melhores que 400%.

No final das contas, realizar os objetivos do Protocolo de Kyoto é um enorme projeto de construção, e no mundo real ninguém constrói com tanta incerteza.

E nós temos que encarar os fatos do presente. Se o aquecimento é um problema, não temos nenhuma solução tecnológica satisfatória neste momento. Todo mundo fala em "fazendas eólicas", mas o púbico odeia ficar perto delas. São feias, barulhentas, alteram o clima local, matam pássaros e morcegos e são combatidas em todos os lugares onde é proposta a sua construção. Vejam a "fazenda eólica" em Cape Cod, que incomodou todo mundo que mora por lá, incluindo alguns ambientalistas, que estão envergonhados, mas mesmo assim... não querem ela por lá. E quem pode culpá-los? Uma grande facção anti-eólica nasceu na Inglaterra, em parte porque o governo está propondo a instalação de "fazendas eólicas" no distrito dos lagos e em outras áreas conhecidas pela bela paisagem.

Mas, gostando ou não da tecnologia disponível, nós temos condição real para atingir os objetivos do protocolo de Kyoto? Um grupo de elite de cientistas, reunidos para elaborar um relatório a ser publicado na revista Science, concluiu que não.

Então, se não temos a tecnologia adequada, talvez devêssemos esperar. E existem outras razões para esperar: se, de fato, nós vamos ter que encarar um projeto caro, será mais fácil pagar por ele mais tarde, porque estaremos mais ricos. Esta é a tendência dos últimos 400 anos.

E, finalmente, eu acho importante reconhecer que nós podemos nos adaptar às mudanças de temperatura que estão sendo discutidas. Dizem-nos que a catástrofe ocorrerá se a temperatura global subir dois graus. Mas esta é a diferença das temperaturas médias entre Nova York e Washington. Não creio que a maioria dos nova-iorquinos ache uma mudança como esta uma coisa para se perder a cabeça. Analogamente, uma mudança para San Diego representa um aumento de temperatura de nove graus.

Claro, esta não é uma comparação justa, porque mudanças locais não são a mesma coisa que mudanças globais, mas ela serve para alertar vocês que, talvez, as coisas não sejam tão ruins quanto estão dizendo. E trinta anos atrás nos falavam de uma nova era glacial.

Por ultimo, quero que vocês pensem no que significa dizer que iremos agir agora para resolver um problema 100 anos no future. Algumas pessoas dizem isso com confiança, e escutamos também que as pessoas do futuro irão nos condenar se não agirmos agora. Mas será verdade?

Estamos no início do século XXI e olhando para frente. Somos exatamente como alguém de 1900 pensando sobre o ano 2000. Alguém daquela época poderia nos ajudar hoje? Aqui está Teddy Roosevelt, uma grande figura do ambientalismo em 1900. E estas são algumas palavras das quais ele não conhece o significado:
 

acrílico ginástica aeróbica Prozac
aeroporto HIV quark
antena impressões digitais rádio
antibiótico interferon rayon
anticorpo Internet ressonância magnética
artroscopia laparoscopia robô
bomba atômica laser taser
computador lendas urbanas televisão
corrente de jato lipoaspiração terapia genética
deriva continental maser transdução
discagem direta micro-ondas transplante de coração
DIU MP3 transplante de córnea
doze passos nêutron transplante de fígado
DVD nylon transtorno bipolar
ecossistema onda de choque tsunami
energia nuclear onda de rádio túnel de vento
estrutura atômica parabólicas túnel do carpo
fibra óptica penicilina VHS
filtro solar placas tectônicas vídeo
gene próton vírus

 

Com todas estas mudanças, existiria algo que Teddy pudesse fazer por nós em 1900? E nós não estamos na mesma posição que ele em relação ao ano de 2100?

Pensem nas mudanças incríveis pelas quais o mundo passou nos últimos cem anos. E vai mudar muito mais nos próximos cem. Um século atrás não existiam aviões, e quase nenhum automóvel. Você realmente acredita que daqui a cem anos nós ainda estaremos queimando combustíveis fósseis e andando por aí em carros e aviões?

A ideia de gastar trilhões com o futuro só faz sentido se você não tiver nenhum senso histórico, e nenhuma imaginação sobre o futuro.

E se não vamos gastar nosso dinheiro com as propostas do Protocolo de Kyoto, o que devemos fazer em vez disso? Eu tenho três sugestões.

Primeiro nós precisamos estabelecer mecanismos para a geração das políticas do século XXI. Quero retornar àquelas páginas do IPCC. Se o padrão de qualidade da informação exigido dos cientistas climáticos fosse o mesmo que exigimos da indústria farmacêutica, todo o debate sobre aquecimento global já estaria encerrado. Nós precisamos de mecanismos para assegurar um padrão de qualidade da informação muito mais elevado no futuro.

Segundo, nós precisamos lidar corretamente com a complexidade dos sistemas não lineares. O meio ambiente é um sistema complexo, e este é um termo que tem significado específico para a ciência. Além de ser complicado, ele significa que as modificações causadas pela interação das partes podem mudar o resultado final do sistema de maneiras inesperadas. Este fato tem várias ramificações.

A primeira é que a antiga noção de uma natureza em equilíbrio está totalmente desacreditada. Não existe equilíbrio na natureza. Pensar assim é compartilhar uma agradável fantasia criada pelos gregos antigos. Mas isso também é uma mudança chocante para nós, e resistimos a ela. Alguns ainda falam em "equilíbrio da natureza" como uma forma de manter viva a velha ideia, outros alegam que existem múltiplos estados de equilíbrio, mas isto apenas é uma forma de fingir que existem diversas maneiras para atingir o equilíbrio. Isto é falsear os fatos. O sistema da natureza é inerentemente caótico, grandes mudanças são a regra, não a exceção, e se queremos influenciar este sistema teremos que nos envolver ativamente com ele.

Isto representa uma reviravolta completa do papel da humanidade na natureza, e uma reviravolta da percepção da natureza como algo intocado. Agora nós sabemos que a natureza nunca foi intocada. Os primeiros homens brancos a visitar o novo mundo não entendiam o que eles viam. Na Califórnia, os índios queimavam as florestas primárias com tanta regularidade que hoje existem mais florestas primárias do que em 1850. Yellowstone era um lugar tão belo precisamente porque os índios caçavam os cervos e alces até o limite da extinção. Quando eles foram impedidos de caçar nas suas áreas tradicionais, Yellowstone começou sua complexa trajetória de declínio.

Agora nós temos pesquisas que nos ajudam a formular estratégias para o gerenciamento de sistemas complexos. Mas não tenho certeza se temos organizações capazes de efetivar estas mudanças. Também quero lembrar a vocês que a gerência adequada daquilo que chamamos natureza selvagem é estupidamente caro. Uma boa natureza selvagem custa muito caro!

Finalmente, e mais importante - nós não podemos prever o futuro, mas nós podemos conhecer o presente. Durante o tempo em que estive falando aqui, 2.000 pessoas morreram em países do terceiro mundo. Uma criança fica órfã por causa da AIDS a cada 7 segundos. Cinquenta pessoas morrem por minuto de doenças causadas pela falta de tratamento da água. Isto não precisa ser assim. Nós permitimos que isto acontecesse.

Qual é o problema conosco, que ignoramos esta miséria da humanidade e focamos em eventos que só vão acontecer daqui a cem anos? O que precisamos fazer para acordar esta sociedade fenomenalmente rica, mimada e autocentrada para os problemas do mundo ao seu redor? A crise global não é daqui a cem anos - está ocorrendo agora. Nós deveríamos estar lutando contra ela, mas não estamos. Ao invés disso, nós nos agarramos às doutrinas reacionárias e anti-humanas de um ambientalismo ultrapassado e viramos nossas costas aos gritos dos moribundos, dos famintos e dos doentes deste mundo que compartilhamos.

E se nós vamos permanecer auto envolvidos demais para prestar atenção ao terceiro mundo, então podemos pelo menos cuidar do nosso? Nós vivemos em um país onde 40% dos graduados no ensino médio são analfabetos funcionais, onde as crianças têm de passar por detectores de metal antes de chegar à sala de aula. Onde uma criança em cada quatro diz que já viu uma pessoa assassinada. Onde milhões dos nossos concidadãos não possuem seguro de saúde, educação decente ou perspectivas para o futuro. Se nós realmente temos trilhões de dólares para gastar, então vamos gastá-los com nossos companheiros de humanidade. E vamos gastar agora, e não com fantasias impossíveis sobre o que vai acontecer daqui a cem anos.

Muito obrigado.

Sobre Michael Crichton
Fonte: National Press Club, Washington, 25 de janeiro de 2005. 


Notas:

1  Michael E. Mann
2  International Panel on Climate Change, das Nações Unidas
3 Goddard Institute for Space Studies
4 Provavelmente o último livro publicado
5 Environment Protection Agency (a agência de proteção ao meio ambiente nos Estados Unidos)


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