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Novembro 2011               Índice Geral


14/11/11

Os Intelectuais e o Capitalismo - por Steven Den Beste (Tradução de José Smolka)

Os Intelectuais e o Capitalismo
 

Steven Den Beste (1)
 

O solipsismo é a crença que apenas o “eu” existe com certeza. Todo o resto pode ser ilusão. De fato, pode até ser algo criado por você mesmo, portanto você pode aprender como controlá-lo e moldá-lo conforme sua vontade. Neste ponto ele se confunde com a doença mental. De qualquer forma, o problema com o solipsismo é que ele não é um conceito particularmente útil.


No idealismo filosófico existe pelo menos uma forma de reconhecimento de que algo existe além do “eu”, mas o idealismo filosófico (daqui por diante vou chamá-lo de idealismo-f) ainda corre o risco de cair em algumas armadilhas intelectuais. Note que o idealismo-f não está relacionado diretamente com o termo “idealismo”, embora exista uma tendência dos crentes no idealismo-f serem idealistas no sentido comum de “aquele que crê que a perfeição é um objetivo atingível”. O idealismo-f é, na verdade, uma crença sobre a natureza fundamental do universo, que presume que sensações e pensamentos são o principal, e que a experiência física é mediada por eles.


Se houver uma ideia subjacente a tudo, o idealismo-f presume que, se alguém conseguir entender esta ideia então ele será capaz de entender, e mesmo predizer, tudo. Supondo que esta ideia subjacente tem que ser elegante e esteticamente agradável, então segue-se a suposição que quando você vê-la você irá reconhecê-la como tal.


Na sua forma mais racional o idealismo-f pelo menos aceita que esta ideia subjacente exista independente de nós, e que nós devemos tentar entende-la. Mas é possível que ele metamorfoseie-se, em alguns estágios simples, em um ponto de vista diferente e contraditório: se alguém tiver a visão de uma ideia que seja suficientemente elegante e esteticamente agradável, então o mundo irá se adequar a ela.


Como eu não sou um idealista-f eu não consigo entender a lógica subjacente disso tudo. Do meu ponto de vista, como empiricista e mecanicista, é pura auto ilusão.


Eu também sei que o idealismo-f, tal como praticado atualmente por uma das forças da disputa tríplice, não é fiel à tradição filosófica de onde ele deriva. Nestes grupos tipicamente existe um núcleo formado por pessoas que entendem disso (ou pensam que entendem), e um número maior de pessoas que aceitam as conclusões daqueles como dogma, sem entender direito, e nem mesmo tendo a sensação que deveriam entender direito, como eles chegaram a estas conclusões – se é que eles realmente chegaram a estas conclusões, e não apenas trouxeram com eles, como se fosse bagagem.


Qual é o apelo disso? Eu acho que o desenvolvimento da facção idealista-f, tal como ela existe hoje em dia, é motivada principalmente pelo ressentimento e pela raiva, da mesma forma que os islamitas. Eles não tem amor uns pelos outros, mas ambos dedicam um ódio amargo à terceira facção – os empiricistas, porque são mais bem-sucedidos.


Os seguidores do idealismo-f se acham merecedores de mais respeito e influência do que eles realmente tem, e, ao descobrir que não são capazes de mudar isto usando das mesmas abordagens usadas pelos mecanicistas, optaram por uma visão de mundo onde eles realmente
tem este grau de influência.


Cerca de 20 anos atrás Robert Nozick escreveu o artigo “
Porque os Intelectuais se opõem ao Capitalismo?”, onde ele explica cuidadosamente o seu uso do termo intelectual:
 

Por intelectual eu não me refiro a todas as pessoas inteligentes ou com certo nível educacional, mas àqueles que, por vocação, lidam com as ideias expressas em palavras, modelando o fluxo de palavras que os outros recebem. Entre estes “artesãos da palavra” estão incluídos poetas, escritores, críticos literários, jornalistas e muitos professores. Não estão incluídos nesta categoria aqueles que, primariamente, produzem e transmitem informação formulada quantitativamente ou matematicamente (os “artesãos dos números”), ou aqueles que trabalham com meios visuais – como pintores, escultores e cameramen. Ao contrário dos “artesãos da palavra”, as pessoas nestas ocupações não mostram uma oposição desproporcional ao capitalismo. Os “artesãos da palavra” costumam concentrar-se em algumas áreas de ocupação: a academia, os meios de comunicação e a burocracia governamental.


O problema é que eles acreditam que não tem o respeito que merecem.


Intelectuais imaginam ser as pessoas mais valiosas da sociedade, aqueles que devem ter o maior prestígio e poder, aqueles que recebem as maiores recompensas. Os intelectuais acham-se merecedores disso, mas, em geral, uma sociedade capitalista não glorifica os seus intelectuais. Ludwig von Mises explica este ressentimento dos intelectuais, em contraste com os trabalhadores, dizendo que, ao se misturarem socialmente com capitalistas de sucesso eles percebem aqueles como um grupo com o qual eles se comparam desfavoravelmente, e se sentem humilhados pelo seu status inferior. Entretanto, mesmo aqueles intelectuais que não se misturam socialmente mostram o mesmo tipo de ressentimento. Mas apenas a mistura social não é suficiente para explicar isso – os instrutores de esportes e de dança que atendem aos ricos e convivem com eles não são especialmente anticapitalistas.

Então porque os intelectuais contemporâneos sentem-se merecedores das maiores recompensas que a sociedade tenha para oferecer, e ficam ressentidos quando não as recebem? Intelectuais acham que são as pessoas mais valiosas, aqueles com o maior mérito, e que a sociedade deveria recompensar as pessoas com base no seu valor e mérito. Mas uma sociedade capitalista não satisfaz o princípio do “a cada um conforme seu valor e mérito”. Excluindo os presentes, heranças e prêmios de jogos de azar que ocorrem em qualquer sociedade livre, o mercado dá resultados para aqueles que satisfazem as percepções de demanda dos outros, expressas no próprio mercado, e o quanto ele dá depende somente do tamanho da demanda e da quantidade de fornecedores alternativos. Homens de negócio malsucedidos e trabalhadores não apresentam o mesmo ânimo contra o capitalismo quanto os intelectuais “artesãos da palavra”. Quem produz este ânimo são a sensação se superioridade não reconhecida, e de merecimento traído.

Porque os intelectuais “artesãos da palavra” pensam ser mais valiosos, e porque eles acham que a distribuição de resultados deva ser de acordo com o valor? Note que este último princípio não é necessário. Outras formas de distribuição de resultado já foram propostas, incluindo distribuição por igual, distribuição de acordo com o mérito moral, ou distribuição de acordo com a necessidade. De fato, não há necessidade de nenhum padrão de distribuição que a sociedade esteja buscando, mesmo uma sociedade que procure ser justa. A justiça de uma distribuição pode residir no fato dela ter nascido de um processo justo de troca voluntária de bens e serviços adquiridos de forma justa. Qualquer resultado produzido por este processo será justo, sem que ele tenha que seguir nenhum padrão em particular. Então porque os “artesãos da palavra” percebem a si mesmos como mais valiosos e aceitam o princípio da distribuição de resultados segundo o valor?

Desde o início do registro escrito do pensamento humano os intelectuais nos disseram que a sua atividade era a mais valiosa. Platão considerava as faculdades racionais acima da coragem e dos apetites, e acreditava que os filósofos deviam governar; Aristóteles sustentava que a contemplação intelectual era a atividade mais elevada. Não é surpresa que os textos que chegaram até nós registrem esta alta avaliação da atividade intelectual. As pessoas que formulavam avaliações e as escreviam, juntamente com as razões que as justificavam, eram intelectuais. Eles estavam louvando a si mesmos. Aqueles que davam mais valor a outras coisas que à expressão dos pensamentos em palavras, seja a caça, o poder ou o prazer sensual ininterrupto, não e preocuparam em deixar registros duradouros por escrito. Apenas os intelectuais elaboraram uma teoria da sua própria superioridade.


Como mostra a seção que eu ressaltei acima, eles detestam o capitalismo porque ele é inerentemente utilitário, e inerentemente popular. Também é caótico, descontrolado e desordenado, e os vencedores e perdedores são escolhidos por como um enxame de consumidores decide gastar o seu dinheiro. A maioria destas decisões de compra são asseadas em avaliações diretas de utilidade e valor, e estas raramente levam em conta o caráter do produtor. Os consumidores em geral nem sabem o nome daqueles que produzem a maior parte do que eles compram, nem tem nenhuma espécie de ideia sobre se estas pessoas tem alguma espécie de mérito inerente. Ocasionalmente algumas corporações terão líderes carismáticos, como Lee Iacocca ou Steve Jobs, mas a vasta maioria dos empregados destas corporações permanecerá sem nome e sem face.


Mesmo quando se trata de produtos culturais, como o entretenimento, o sucesso é inerentemente uma decisão popular. Um
show de televisão, ou um livro, ou uma música irão bem ou mal em função unicamente de quantos indivíduos os selecionarem. E eles não tomarão esta decisão baseados em uma escala absoluta e objetiva de estética. Cada um toma a sua decisão independentemente, e, ao final, seu principal motivador é o hedonismo.


Os “artesãos da palavra” de Nozick normalmente não se dão bem nessa área. Eles acreditam que estão produzindo algo inerentemente melhor, mais refinado, mais sofisticado que o normal, mas a decisão popular inerente ao capitalismo usualmente premia o que os intelectuais veem como “lixo”.

E isto significa que os loucos estão controlando o asilo. Quem deveria liderar é a elite, e as multidões deviam segui-la. Em vez disso as multidões estão fazendo o que querem, e não o que a elite acha que eles deviam fazer.


Nozick argumenta que o que cada intelectual em particular passa a se achar especial por causa da forma que ele foi tratado na escola quando criança. Eu acho que é mais do que isso. Eu acho que isto vem da forma que o capitalismo transformou a cultura em algo inerentemente popular. E com o sucesso do empiricismo em erodir de todas as formas a posição da elite. E eu penso que isso também é uma função da visão de mundo basicamente teleológica que eles tem.


Parte da atração dos gregos pelo idealismo filosófico era porque ele permitia que eles defendessem que era direito e próprio haver uma sociedade de classes, e existir um pequeno grupo de pessoas que governava a maioria. O idealismo filosófico permitiu que eles acreditassem que eles (as classes superiores) eram mais sábios e mais virtuosos que as massas.


Produtos culturais são um luxo e, historicamente, só os ricos podiam se dar ao luxo de consumir “cultura”. Isto normalmente significava a aristocracia, os poderosos, e os burgueses alpinistas sociais. Isto tinha um apelo esnobe: ser um patrono das artes era uma forma de conseguir o direito de se gabar em certos círculos. Então, em uma perspectiva histórica, os produtos culturais eram vistos como sofisticados, e seus criadores eram vistos como acessórios da elite.


Mas, depois da revolução industrial, quando os benefícios e a riqueza criados pelo capitalismo começaram a descer a escala social, cada vez mais e mais pessoas tinham dinheiro e tempo livre para gastar com luxos, tais como a cultura. Inicialmente eles compravam a mesma cultura que as classes superiores, mas eventualmente acabaram desenvolvendo a sua própria sensibilidade, sobre a qual eu escrevi um artigo intitulado “
A cultura dos Comuns”. Ela agora domina o mundo cultural, e a tradicional cultura de “alto nível”, que costumava ter aquele apelo esnobe tão grande, é vista em geral, hoje, como pretensiosa e chata. E os seus praticantes não recebem mais o tipo de respeito que eles recebiam antigamente.


E eles estão fulos de raiva com isso. Em uma sociedade popular não existe espaço para uma elite. E quando os vencedores e perdedores são determinados pelo processo extremamente democrático dos indivíduos decidindo onde gastar o seu dinheiro, existe pouco espaço para a influência de uma elite.


Entretanto, apesar do que diz Nozick, nem todos os intelectuais zangados são “artesãos da palavra”. Alguns são acadêmicos.


Algumas áreas acadêmicas, da forma como se desenvolveram no século XX, são inerentemente empíricas, por causa da maneira como elas estão sujeitas ao teste do mundo real. De todos os grandes campos de estudo, a engenharia é, provavelmente, a mais imune à teleologia e ao idealismo-f, porque os seus produtos serão bem-sucedidos ou não com base em quão bem eles funcionarem (para todos os significados de “funcionar”, inclusive o sucesso de mercado), e porque o teste do mundo real é imediato e inevitável.


Ideologias revolucionárias às vezes aparecem na engenharia, mas elas raramente duram muito tempo. Ou elas falham e morrem ou elas funcionam e tornam-se parte da ortodoxia, à medida que as pessoas as adotam. Deve-se notar que “revolucionário” é um termo relativo: programação orientada a objetos é um exemplo (“
programação sem ego” seria uma revolução ainda maior). Mas nada disso vai virar o mundo de pernas para o ar.

Tais ideologias são imediatamente sujeita ao teste do pragmatismo, e seu valor é avaliado em termos utilitários. Muitas ideologias eu vi florescer e depois morrer rapidamente. Engenheiros tem pouca tolerância com coisas que falham.


Nas ciências físicas existe um pouco mais de espaço de manobra. O objetivo principal da ciência, tal como praticada hoje em dia, é coletar dados sobre vários fenômenos do mundo, tentar entender o que foi observado e aprender a descrever, e até mesmo predizer seus resultados. Mas este processo pode ser longo e difícil. Quando você está engajado em alguma área de estudo você nunca tem certeza do que vai encontrar, ou mesmo se vai encontrar alguma coisa. Algumas pesquisas, ao final, produzem muito pouco. São os ossos do ofício.


E, até certo ponto, os cientistas tem que começar o trabalho com pelo menos algumas ideias preconcebidas sobre o que eles acham que irão encontrar, porque isto influencia a maneira que a procura será feita. Algumas vezes estes preconceitos não são muito específicos, e sempre é possível que eventos inesperados apareçam por pura coincidência. Por isso os bons cientistas sempre mantém os olhos abertos para essa possibilidade. Por outro lado, às vezes a pesquisa é extremamente específica, tal como: “existe uma partícula subatômica com massa assim-assim e cujas características satisfaçam as previsões da teoria assim-assado?” Como foi o caso da bem-sucedida procura pelo Bóson vetor fraco, para validar ou refutar a teoria da unificação eletrofraca.


E, às vezes, o preconceito está errado, e um monte de tempo é gasto sem nenhum resultado, porque os cientistas estão procurando as coisas erradas, ou olhando nos lugares errados.


Falando genericamente dos estudos acadêmicos, existe um relacionamento muito próximo entre o grau de rigor envolvido na pesquisa e a rapidez e o tamanho das consequências de estar errado. E existe uma relação inversa entre estas coisas e a chance que ideologias falsas possam aparecer e dominar aquela área de estudo.


Marc Miyaki é um linguista, e, em resposta ao meu último artigo, escreveu sobre como os pontos de vista teleológico e empírico estão em luta naquele campo de estudo, principalmente por causa da aparentemente desmerecida influência de Noam Chomsky. A linguística teve, e continuará a ter, muitas aplicações práticas valiosas, mas enquanto ela continuar sendo diminuída desta forma, ela será menos útil do que deveria ser.


E, claro, existem áreas de estudo na academia que podem ser muito dignos de pesquisa, mas cujos resultados têm utilidade desprezível para o mundo real.


E também existe uma relação muito próxima entre o grau de rigor envolvido naquela área de estudo, o grau de aplicação prática e utilidade dos seus resultados, e o prestígio dos pesquisadores naquela área, dentro da academia e entre o público leigo.


E existe um último relacionamento: áreas de estudo que envolvem muito rigor tendem a atrair estudantes que tenham uma afinidade com o empiricismo; as áreas que não são assim tendem a atrair estudantes que são mais teleológicos e filosoficamente idealistas.


Os estudantes que tendem para o empiricismo, e que são orientados para resultados, e que estão no estrato superior dos resultados acadêmicos, são capazes de estudar os assuntos mais rigorosos e obter as notas necessárias, e tem mais interesse nisso, porque isto conduz a careiras de sucesso. Acontece que a maioria dos “melhores” estudantes (com base no escore dos testes SAT ou equivalentes) na maioria das universidades vai para as áreas da ciência, engenharia, medicina, direito e, até certo ponto, administração de empresas. Estas são, certamente, generalizações; tendências estatísticas em vez de princípios absolutos.


Muitos dos estudantes que são mais orientados ao idealismo-f sentem uma repulse intrínseca pelos assuntos mais rigorosos e, de uma maneira geral, não são tão capazes de perseguir um curso deste tipo. A maioria deles acaba na área de humanidades, ou outras que vamos falar depois. Eles também gostariam de carreiras de sucesso, salários altos e prestígio, mas a maioria deles não consegue. E isso, também, é motivo de ressentimento.


Todos os acadêmicos sofrem do problema de “publicar ou perecer”. Além dos deveres docentes, espera-se que eles “pesquisem” na sua área de estudo. Mas, se a sua área de estudo não é rigorosa, não está sujeita ao teste do mundo real, e não tem aplicação prática, então não existe nada que impeça que ela saia de controle, à medida que erros e enganos se acumulam e se sobrepõem naquele campo de estudo. No final não importa se o seu artigo está certo ou errado, se é que sequer faça sentido falar em certo ou errado naquele assunto.


Depois da 2ª Guerra Mundial a disparidade básica em termos de recompensas, prestígio e massageamento do ego entre os assuntos rigorosos e os outros começou a crescer. Durante o
boom econômico do pós-guerra, a ciência e a engenharia eram as estrelas. De acordo com Steven Ghimbel:


A 2ª Guerra Mundial terminou com a mais significativa e preocupante aplicação do conhecimento científico da humanidade. O apetite, na época da guerra fria, pelo avanço tecnológico na forma de armas e corridas espaciais exigia a maximização do número de pessoas perseguindo todo tipo de caminho na tecnologia e na ciência. A linguagem destes caminhos é a matemática; uma linguagem com um poder de expressão sem paralelo, mas que possui uma gramática extensa e complicada. Aqueles que dominam esta linguagem são glorificados. Superar os seus colegas era ser um Einstein. O arquétipo da mente bem-sucedida era o gênio científico cuja inspiração levou à construção da bomba. E foi a raison d’etre para tornar instituições de ensino de todos os níveis em fazendas de cérebros para o complexo industrial-militar – não importando que as palavras e atos do próprio Einstein fossem pacifistas e socialistas.


Os acadêmicos das áreas não-rigorosas não eram nem mais necessários para cobrir o vazio entre os cientistas e os leigos. Em 1991
John Brockman escreveu que:


Nos últimos anos a vida intelectual Americana mudou, e o intelectual tradicional tronou-se progressivamente marginalizado. Uma educação dos anos 50 em Freud, Marx e o modernismo não era mais qualificação suficiente para uma pessoa pensante dos anos 90. De fato, os intelectuais americanos tradicionais estão se tornando, em certo sentido, progressivamente reacionários, e muitas vezes orgulhosa (e perversamente) ignorantes das muitas e significativas realizações intelectuais do nosso tempo.  A cultura deles, que dispensa a ciência, é frequentemente não-empírica, usa seu próprio jargão e lava sua roupa suja em casa. Ela caracteriza-se, principalmente, por comentários a respeito de comentários, e esta espiral de comentários eventualmente atinge um ponto onde o mundo real é perdido de vista.

Em 1959 C. P. Snow publicou um livro intitulado “As Duas Culturas”. De um lado estavam os intelectuais literatos, e do outro os cientistas. Ele observou com incredulidade que, durante os anos 30, os intelectuais literários, sem que ninguém percebesse, passaram a referir-se a eles mesmos como “os intelectuais”, como se não existisse mais ninguém. Esta nova definição para o “homem das letras” excluía cientistas como o astrônomo Edwin Hubble, o matemático John von Neumann, o ciberneticista Norbert Wiener e os físicos Albert Einstein, Niels Bohr e Werner Heisenberg.


Mas o que Snow chamava de “Terceira cultura” começou a aparecer, embora não exatamente da forma que ele imaginava. Cientistas e outras pessoas com
background tecnológico começaram a se dirigir diretamente ao público leigo, para explicar o que eles estavam fazendo, por que, que significado isto tinha e porque isto era tão fascinante (pessoas como eu, vejam só).


Tópicos científicos que passaram a ter ampla cobertura dos jornais e revistas incluem biologia molecular, inteligência artificial, vida artificial, teoria do caos, paralelismo massivo, redes neurais, o universo inflacionário, fractais, sistemas adaptativos complexos, supercordas, biodiversidade, nanotecnologia, o genoma humano, sistemas especialistas, equilíbrio pontuado, autômatos celulares, lógica fuzzy, biosferas espaciais, a hipótese gaia, realidade virtual, ciberespaço e máquinas teraflop, entre outros. Não existe um cânon ou uma lista autorizada dos assuntos aceitáveis. A força da terceira cultura é, precisamente, sua capacidade de tolerar a discordância sobre quais ideias devem ser levadas a sério. Ao contrário dos movimentos intelectuais anteriores, s realizações da terceira cultura não são apenas disputas marginais de alguns mandarins briguentos: elas irão afetar as vidas de todos no planeta.


Mas ninguém estava prestando atenção para as coisas que os autointitulados intelectuais andavam fazendo. A pior coisa que você pode fazer a um home orgulhoso é ignorá-lo. E progressivamente os “homens das letras” encontraram-se sendo ignorados, ou tratados como curiosidades.
 

Progressivamente isolados, frustrados, inúteis em qualquer senso prático e com o prestígio em declínio, eles tornaram-se intelectualmente endogâmicos. Já que ninguém os respeitava, eles passaram a “respeitar” uns aos outros, e decidiram que a opinião das pessoas de fora não importava realmente. A espiral inchada do comentário-do-comentário continuou, divorciada da realidade. Ao longo de cerca de trinta anos uma forma de “pseudociência” intelectual acabou surgindo.


Também em 1991 o programados de computadores Chip Morningstar e alguns outros programadores foram convidados a dar uma
palestra na Segunda Conferência “interdisciplinar” sobre o Ciberespaço, com dois dias de duração.
 

Randy e eu estávamos programados para falar no Segundo dia da conferência. Isto foi uma sorte, porque nos deu a oportunidade de recalibrar a nossa apresentação com base nas apresentações do primeiro dia, durante o qual nós descobrimos que nós tínhamos errado feio na caracterização da audiência ao assumir que eles seriam como o público da primeira conferência. Passei a maior parte do primeiro dia tomando notas furiosamente. As pessoas continuavam dizendo coisas impressionantes, com uma linguagem impressionante, e eu descobri que precisava colocar tudo aquilo por escrito, porque as palavras desapareciam da minha mente em segundos se eu não as escrevesse. Você já sentiu a experiência da memória de um sonho dissipar-se alguns minutos depois de acordar? Era muito parecido, e, eu acho, pela mesma razão. Os sonhos tem uma lógica e uma estrutura próprias, que se desmancha em peças não-memorizáveis e que não fazem nenhum sentido quando submetidos ao escrutínio da mente consciente. E assim foi com muitos dos acadêmicos que subiram ao pódio para falar. As coisas que eles diziam eram, em grande parte, incompreensíveis. Havia muita conversa sobre desconstrução, significantes e discussões sobre se o ciberespaço era ou não “narrativo”. Houveram muitas citações de Baudrillard, Derrida, Lacan, Lyotard, Saussure e assemelhados, cada palavra dela absolutamente impenetrável. Eu nunca tinha tido antes a experiência de ficar completamente aparvalhado com o que outras pessoas estavam dizendo. Eu já participei de palestras sobre física quântica, teoria dos grupos, cardiologia e direito comercial. Todas áreas das quais eu não sei nada, e que possuem seus próprios jargões e notações especializadas. E nenhuma destas palestras foi tão opaca com as daqueles acadêmicos. Mas eu consegui capturar no meu bloco de anotações uma coleção impressionante de frases, e o espírito geral do evento.

Nós voltamos para Palo Alto naquela tarde para reescrever nossa apresentação. A primeira coisa a fazer era retirar vários tipos de fraseologia que, segundo entendemos, poderiam ser percebidos como politicamente incorretos. Entenda: a tese básica da nossa apresentação era politicamente incorreta, mas nós queríamos que as pessoas ficassem incomodadas com o conteúdo, e não com a forma do que nós iríamos apresentar. Então nós passamos a procurar algo que pudesse ser acrescentado como uma resposta à inundação do jargão pós-modernista que recebemos no primeiro dia. Como nós não sabíamos o que aquilo tudo significava (ou mesmo se havia de fato algum significado), eu simplesmente fiz um “copiar e colar” a partir das minhas notas. No próximo dia eu subi ao pódio e abri nossa apresentação da seguinte forma:


O paradigma essencial do ciberespaço é a criação de identidades parcialmente situadas, a partir da realidade social potencial ou canônica em termos de contato humano, assim renormalizando a fenomenologia do espaço da narrativa e requerendo a naturalização da estratégia cognitiva intersubjetiva, e portanto resolvendo a dialética dos pensamentos metafóricos, um problemático para o outro, e redefinindo e realizando coletivamente o paradigma da parábola do modelo da metáfora.


Esta coleção de absurdos foi construída totalmente a partir de coisas que as pessoas tinham dito no dia anterior, exceto pelas últimas dez palavras, mais ou menos, que são uma imitação da cena “flagon with the dragon” do filme The Court Jester, estrelado por Danny Kaye, contribuição do nosso colaborador Gayle Pergamit, que se divertiu muito nesta empreitada. Observar a reação da audiência foi instrutivo. Inicialmente várias pessoas começaram a acenar com a cabeça em sinal de profundo entendimento, embora fosse perceptível que as suas células cerebrais estavam começando a ficar estressadas. Então algumas pessoas mais técnicas no fundo da sala começaram a dar risadinhas. Quando eu terminei, sem conseguir ler a última linha e manter a seriedade, a sala inteira estava rindo histericamente, e até o mais obtuso professor de gramática já tinha percebido a piada. Com a bomba do jargão pós-modernista desarmada, seguimos em frente com a nossa apresentação de verdade.


Mas ele se interessou em tentar entender se havia ou não algo realmente acontecendo. Porque eles estavam dizendo estas coisas? Isto era realmente importante? Havia alguma intuição chave ali ou tudo não passava de bobagens pretensiosas? Ele mergulhou no assunto, e eu recomendo enfaticamente o
seu artigo. Ele é informativo, lúcido e divertido. Tudo que os escritos pós-modernistas não são.


Olhar para o campo da crítica literária contemporânea como um todo também produz algumas ideias valiosas. É uma lição de cautela sobre as consequências de deixar um ramo da academia, que foi encarregado de estudar problemas importantes, tornar-se isolado e endogâmico. O termo pseudo politicamente correto que eu usaria para definir o estado mental dos pós modernistas é “epistemologicamente prejudicados”:
uma inabilidade constitucional para adotar uma maneira razoável de distinguir o bom conteúdo do mau conteúdo. O espaço de ideias e da linguagem nesta área tornou-se tão convolucionado que eles confundem até eles mesmos. Mas esse labirinto oferece um refúgio seguro para os acadêmicos. Ele forma uma barreira entre eles e o resto do mundo. Ele os imuniza de terem que confrontar suas próprias falhas, porque qualquer crítica genuína pode ser absorvida pelo pantanal e torna-se indistinguível do resto da verborragia. As ferramentas intelectuais que poderiam ajudar a podar o matagal são sistematicamente ignoradas e desacreditadas. É por este motivo que, por exemplo, a ciência, a psicologia e a economia são representadas no mundo literário por teorias que foram abandonadas pelos cientistas, psicólogos e economistas praticantes há cinquenta ou cem anos atrás. Este campo de estudo está absorto em trivialidades.


Ele concluiu que eles eram, mais ou menos, almas acadêmicas perdidas, tão afastados das correntes principais do pensamento, tão isolados da realidade e lidando com assuntos com tão pouca importância prática (independente do seu valor acadêmico) ao ponto de tornarem-se sem sentido e inofensivos. Eles não podiam causar nenhum efeito no mundo real, e deviam ser objeto de pena.


Mas ele deixou passar um ponto importante: a razão pela qual eles se recusam a distinguir entre “o bom conteúdo e o mau conteúdo” é porque, para eles, é tudo “bom conteúdo”. Eles estão deliberadamente negando que exista essa coisa chamada “mau conteúdo”.
 

O caminho crítico desta mudança, como indicado por Meera Nanda, citando Ernest Gellner, foi:
 

Da igualdade política para a igualdade hermenêutica: a cuidadosa eliminação de qualquer possível pretexto social, cultural ou intelectual para afirmar que uma ideia é melhor que qualquer outra.
 

Esta é a questão da igualdade em seus termos mais simples. Em um ambiente acadêmico, a “igualdade de oportunidade” foi representada anteriormente pela liberdade de cada acadêmico propor ideias, e para os outros criticá-las para ver se elas suportam a luz do sol. Esta é a forma geral que isso é feito em matemática, na ciência e na engenharia. Mas, para aqueles dedicados à igualdade de resultado, isto é intolerável. Sentindo que suas próprias ideias poderiam não suportar este tipo de inspeção, eles passaram a negar a validade deste escrutínio como forma de avaliar ideias.


Não era suficiente permitir que qualquer um expressasse seus pensamentos. Todos eles tinham que, depois, receber igual respeitabilidade, e todas as ideias tinham que ser tratadas como se elas fossem igualmente válidas. Dizer a alguém que a sua ideia não tinha sentido era
censura. Uma das muitas palavras que eles redefiniram de forma estranha e impressionante.


De fato, eles atingiram níveis orwellianos de redefinição em alguns casos. Por exemplo: muitos deles acham que tem que se engajar ativamente na censura a determinados pontos de vista – em nome da liberdade de expressão! É um tipo de ação afirmativa do conhecimento. O que eles percebem como pontos de vista “direitistas” ou conservadores são dominantes no ambiente fora das universidades, portanto os pontos de vista “esquerdistas” devem ter o direito de dominar nos
campi (onde os seguidores do idealismo-f são maioria) para meio que empatar o jogo. São os resultados iguais que importam, não as oportunidades iguais (mas apenas, devo dizer, quando são as ideias deles que estão perdendo o jogo).


Chip também subestimou o grau de raiva e ressentimento que essas pessoas sentem, e não percebeu a sua militância. Voltando ao texto de Gimbel:


As avaliações de caráter matemático surgem da autoafirmação tecnológica. A ética corrente, por outro lado, surge quando estes outros, de mentalidade não-matemática, e que acham difícil dominar a linguagem da matemática e das suas companheiras, ciência e tecnologia, recebem um “não” nas provas e trabalhos durante seu processo educacional. Este “não” é a origem. Sua falta de habilidade matemática é tomada pelos pais e professores como evidência de preguiça, de desleixo. Falhar em atingir o sucesso na matemática é internalizado como uma falha de caráter. Esta projeção bate de volta nele mesmo como a base do ressentimento.


Quando estas mentes não-matemáticas se tornam professores de filosofia, inglês ou crítica, a verdade se torna não-existente. A “objetividade” é considerada sem sentido. A matemática é vista como uma ferramenta de opressão, e solicitar o testemunho cruzado torna-se hegemônico. O leitor vai ter uma certa noção de quão prontamente este novo sistema de avaliações pode surgir a partir do sistema de avaliação de caráter matemático e evoluir para ser o seu oposto. Ocasiões para esta divisão ocorrem sempre que os inclinados e os não inclinados pela matemática se encontram nas reuniões de departamento ou do corpo docente e, ciumentamente, não chegam a nenhum acordo. As avaliações matemáticas pressupõem um processo de pensamento lógico e racional, junto com todas as condições que garantem a sua preservação: argumentação, verdade, validade, etc. As avaliações dos não-matemáticos são baseadas em outros pressupostos. Pior ainda para eles quando tudo se torna uma questão de falácias! Como nós sabemos, pessoas não-matemáticas são a pior espécie de inimigo que alguém pode ter. Porque é assim? Porque eles são os mais impotentes com a lógica, e é esta impotência que torna o seu ódio tão violento e sinistro, tão irracional e venenoso.


Finalmente, eu acho que o Chip não entendeu completamente o ponto de vista do idealismo-f. Eles pegaram as suas teses e tentaram aplicá-las fora da sua área, transformando-as em uma teoria abrangente do mundo. Ophelia Benson descreve isto desta maneira:
 

Mas existe este novo tipo de animus, que se tornou lugar comum em muitas universidades nas últimas três décadas. Ele atende por nomes tais como “perspectivismo”, ou “contextualização”, ou “construcionismo social”. Esta visão pretende significar que a ciência não é nem universal nem particularmente bem-equipada para chegar à verdade; que, ao contrário, ela é local, ocidental, socialmente e culturalmente assimilada, portanto é apenas mais uma forma de conhecimento, entre outras tantas. Suas alegações de objetividade e distanciamento emocional são uma ilusão, racionalidade é apenas uma cortina para o exercício do poder, evidência é matéria de negociação e acordo, e a verdade é um conceito metafísico ultrapassado, que deve ser relegado à lata de lixo da história. De fato, nesta visão de mundo a ciência não é melhor para descobrir a verdade sobre o mundo do que qualquer outro método. É pior. Algumas epistemologias são piores do que outras. A ciência é prejudicada pela sua paixão pela razão, sua insistência estúpida pela apresentação de evidencias antes de crer em alguma coisa, sua insistência pedante e cansativa em replicabilidade, revisão por pares, estatística, possibilidade de falsificação, distinguir correlação de relações de causa e efeito e todas estas regrinhas e picuinhas que impedem o progresso de uma hipótese imaginativa. Se Freud tivesse que seguir este processo imagine onde iriam parar suas teorias audazes. Além disso a ciência e eurocêntrica, machista, branca, e um produto da Renascença. E, apesar de todos estes defeitos, a ciência goza de não-merecidos status, prestígio, poder e influência. Os cientistas às vezes usam este poder para dizer que outras pessoas estão erradas sobre alguma coisa, e esta é uma situação não democrática, que não deve ser permitida.


Dentro do ponto de vista básico do idealismo-f, onde pensamentos e sensações tem a primazia, com a realidade objetiva considerada um mito, e com uma certa dose de crença que o mundo se adapta ao que pensamos que ele seja – e com o objetivo supremo de recolocar eles mesmos no centro do palco acadêmico – eles criaram um grande edifício, no qual todas as realizações da ciência são locais. Dentro desta nova visão das coisas, as descobertas da ciência não são universais; são apenas mais uma maneira de olhar o todo; e, de fato, uma das piores maneiras.


A atração que isto exerce é porque dá primazia para aqueles acadêmicos que estavam discriminados nos guetos acadêmicos da literatura, estudos femininos e outros campos relacionados, que viemos a conhecer e amar, enquanto consigna os odiados acadêmicos de áreas mais rigorosas (especialmente aqueles que usam extensivamente a matemática) para o seu devido lugar, como cidadãos acadêmicos de segunda classe, como os bárbaros insensíveis e ignorantes que eles são.


E os partidários do idealismo-f começaram a agir como se estivessem engajados no desenvolvimento de um novo tipo de meta-ciência e, até certo ponto, tentaram imitar o que eles viam os cientistas fazerem, bem como tentaram aplicar as intuições e concepções básicas das suas áreas à ciência. A esperança era, creio eu, que eles conseguissem tomar o lugar da ciência. O resultado deste esforço foi, digamos, ridículo.


Isto tem o mesmo sabor que o “criacionismo científico”. Tem a tendência a depender pesadamente em palavras de sentido dúbio. Soa tendencioso e auto laudatório, e frequentemente interpreta de forma errada a ciência básica. E é quase que totalmente sem sentido. Parece imitar a forma da ciência, sem entender a substância. Richard Feynman chamava este tipo de coisa de “culto cargo da ciência”.


Levou ao aparecimento de muitos artigos extremamente idiotas, que tentavam aplicar conceitos culturais familiares em contextos inesperados para uma pessoa comum. Um artigo tentava
analisar o xadrez em termos psicanalíticos, com especial ênfase no complexo de Édipo. Outros voltaram o seu olhar para a física:
 

A “filósofa” feminista Luce Irigaray é outra que tem um capítulo inteiro dedicado a ela por Sokal e Bricmont. Em uma passagem que lembra uma famosa descrição feminista do Principia de Newton (um “manual paraestupradores”), Irigaray argumenta que E=mc2 é uma “equação sexista”. Por quê? Porque ela “privilegia a velocidade da luz sobre todas as outras velocidades que são vitalmente necessárias para nós”. Bem típico da escola de pensamento da qual falamos é a tese de Irigaray sobre a mecânica dos fluidos. Os fluidos como você pode ver foram injustamente negligenciados. A “física masculina” privilegia as coisas rígidas, sólidas. A sua expositora americana, Katherine Hayles, cometeu o erro de re-expressar os pensamentos de Irigaray em uma linguagem (comparativamente) mais clara. Pelo menos uma vez tivemos uma visão razoavelmente desobstruída do Rei. E ele está nu:


O privilégio da mecânica dos sólidos sobre a mecânica dos fluidos, e, de fato, a inabilidade da ciência em lidar com fluxos turbulentos, ela atribui à associação da fluidez com a feminilidade. Enquanto os homens tem órgãos sexuais que se projetam e tornam-se rígidos, as mulheres tem aberturas por onde fluem o sangue menstrual e os fluidos vaginais... Nesta perspectiva não admira que a ciência não tenha sido capaz de chegar a um modelo satisfatório para a turbulência. O problema do fluxo turbulento não pode ser resolvido porque o conceito de fluido (e das mulheres) foi formulado de maneira a provocar o surgimento de restos não articulados.


Finalmente um físico ficou cheio disso tudo. Alan D. Sokal, um autodeclarado esquerdista, mas também um racionalista, escreveu um artigo intitulado “
Transgredindo as Fronteiras: Em busca de uma Hermenêutica Transformativa da Gravidade Quântica”, o qual ele submeteu a um jornal chamado “Texto Social”. Eles publicaram o artigo, porque ele parecia ser a descrição, feita por um físico, de como os assuntos prediletos dos idealistas-f eram realmente importantes para a física.


Na verdade era tudo uma elaborada brincadeira. Sokal esforçou-se para fazer o texto não ter nenhum sentido. Depois ele escreveu
um segundo artigo, bem mais lúcido, explicando o que ele tinha feito.

Mas tudo isso poderia ter permanecido como uma curiosidade acadêmica, praticamente fora da vista do grande público, não fosse pelos ataques de setembro de 2001 em Nova York e Washington.


Os idealistas-f não estavam mais tentando apenas formular uma ciência totalmente nova. Eles também tinham uma agenda política definida. Quando veio a guerra eles não poderiam permanecer em silêncio. Eles tinham que tentar influenciar o curso dos eventos, e assim vieram a público, o eu pretendo discutir em outro
post.

 

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(1) http://denbeste.nu/cd_log_entries/2004/01/TeleologyandSolipsism.shtml. Publicado originalmente em 07/01/2004.
 


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