José Ribamar Smolka Ramos
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Fevereiro 2012               Índice Geral


11/02/12

• "J'accuse" (4) - José Smolka comenta artigo sobre a velocidade da banda larga na Campus Party

de J. R. Smolka smolka@terra.com.br por yahoogrupos.com.br
para "wirelessbr@yahoogrupos.com.br" , "Celld-group@yahoogrupos.com.br"
data 11 de fevereiro de 2012 23:12
assunto [wireless.br] "J'accuse" (3)

Pois é... além do problema das "mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas" existe o problema do desconhecimento técnico, que leva jornalistas - ditos especializados - a emitir opiniões do tipo "quem ferve a 90° é o ângulo reto". Vejamos...

Na quarta-feira desta semana esta matéria fez algumas considerações interessantes. Tratando do uplink instalado pela Telefónica para atender à Campus Party, anunciado como sendo de 20 Gbps. Diz, então, a jornalista:

"Mas como uma das empresas mais reclamada no Procon de São Paulo consegue atingir esse nível de excelência na oferta de Internet uma vez por ano? Graças à instalação de um mega servidor, avaliado em 'dezenas de milhões de reais' [...] Tudo para garantir que os 7 mil campuseiros (como são chamados os credenciados no evento) tenham uma conexão instantânea com a web de 100 Mbps. Ou seja, cem vezes maior do que os planos de banda larga vendidos pela Vivo para os meros mortais. Isso considerando que, de fato, a companhia entregasse 1 Mbps a seus clientes. Na prática, a velocidade de conexão na vida real é ainda menor"

Caso a jornalista fosse tão especializada assim na área de telecom, ao invés de querer ser apenas auto-intitulada ombudsman dos coitadinhos dos assinantes dos serviços de banda larga, ela saberia que é absolutamente normal o atendimento a um evento deste porte (seja pela Telefónica, pela Oi, pela Embratel, pela Intelig ou pela GVT) com o lançamento de fibra óptica, e que 20 Gbps de capacidade de transmissão é até baixo para este meio. 40 Gbps é normal, e já estão sendo instalados enlaces de 100 Gbps. E provimentos de enlaces deste tipo acontecem várias vezes ao ano, especialmente em São Paulo, dada a frequência de eventos de grande porte que lá ocorrem.

E eu também gostaria muito que a jornalista informasse com que base ela afirma que a taxa de transmissão provida pela Telefónica aos seus usuários descumpre sistematicamente a taxa contratada para uma parcela significativa dos seus usuários, por razões imputáveis à rede da Telefónica. Talvez a liberdade com que afirmações deste tipo são feitas derive do fato que uma pessoa jurídica (a Telefónica, no caso) não pode processar por calúnia - imputação falsa de crime - quem fala tais coisas a seu respeito (art. 138 do Código Penal - Decreto-Lei 2.848 de 07/12/1940).

E o jogo de valores entre os 24 bilhões e as "algumas dezenas" de milhões é apenas uma esperteza. Primeiro: os 24 bilhões distribuem-se entre 2011 e 2014, o que dá 6 bilhões por ano. Dada a incorporação da Vivo à Telefónica, este valor é repartido no investimento da rede fixa e da rede móvel. Considerando que tem que ser completado o overlay da rede 3G sobre a rede 2G, e que ainda terão que ser adquiridas as licenças e iniciado o overlay da rede 4G, eu diria que a repartição de valores não é 50%-50% entre a rede fixa e a rede móvel. Eu chutaria uns 4 bilhões/ano para a rede móvel e uns 2 bilhões/ano para a rede fixa. Talvez menos. Ainda assim parece muito dinheiro? Tente fazer um plano de investimento desta magnitude, preparar a engenharia financeira que viabilize obter esse volume de recursos - especialmente na situação atual de crédito escasso - e justificá-lo perante o Conselho de Administração e os acionistas. Acreditem, não é fácil.

Considerando que não são apenas os MUXes DWDM e switches Ethernet que tem que ser comprados (também são necessários DSLAMs, BRAS, modems e investimentos em melhoria e expansão da rede de acesso de pares metálicos), dá para começar a entender porque fazer com que o serviço de acesso IP em banda larga funcione às mil marvilhas não é tão fácil como parece.

Para finalizar a jornalista faz o seguinte comentário:

"No início do ano, a companhia prometeu investir no aumento da velocidade de banda larga na sua planta fixa (São Paulo), garantindo velocidade de até 150 Mbps. Vamos torcer para que isso aconteça de fato. Mas, por outro lado, planos como estes aumentarão o abismo entre a grande massa que possui conexões de 1 Mbps ou menos e a pequena parcela capaz de pagar por um serviço com esse nível de excelência"

Eu gostaria de lembrar que o a disponibilidade de velocidades  do serviço de acesso à Internet em banda larga é geograficamente assimétrico em qualquer lugar do mundo, por razões técnicas e econômicas. A jornalista acaso propõe que no Brasil possa ser diferente? Como?

E estes mesmos usuários que, coitadinhos, tem de contentar-se com acessos de 1 Mbps (que ainda tem que ser provado que consistentemente não recebem a banda contratada dentro da rede da Telefónica), são os mesmos que, apenas alguns poucos anos atrás, tinham que contentar-se com acesso discado de 58 Kbps.

Então qual é o problema real? Que a melhora não foi grande o suficiente? Não atingiu um universo maior de assinantes? Como disse antes: é só fazer o plano de investimento, viabilizá-lo financeiramente e aprová-lo junto aos controladores. Se a jornalista acha que é fácil, eu a convido a tentar.

[ ]'s
J. R. Smolka


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