José Ribamar Smolka Ramos
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Janeiro 2014               Índice Geral


15/01/14

Operadoras precisam de novo modelo de negócio... e é pra já (2) - Um participante pergunta e Smolka responde

Referência:
15/01/14
Operadoras precisam de novo modelo de negócio... e é pra já (1) - por José Smolka
 

Em 15/01/2014 11:12, Raniere escreveu:

(...) 
Smolka,
Como operadoras podem mudar o que oferecem, se não tem pesquisa e desenvolvimento?>
Os novos serviços (de dados) massificados, estão fora da rede da operadora. Então, vai se aliar a esses serviços, pra poder vender dados trafegado (mais do mesmo)? (...)


Oi Raniere,

Uma coisa de cada vez. Fato. As operadoras no Brasil investem pouco em P&D. Um dos problemas é que, corporativamente falando, existe uma preferência pela centralização das atividades de P&D em subsidiárias especializadas, como, por exemplo: a I+D no caso da Telefónica, e a PTI no caso da PT (agora CorpCo, depois da fusão com a Oi). Não tenho notícias de como este assunto é tratado na esfera da America Movil, nem na Telecom Italia e nem na GVT.

Minha opinião sobre isto é que é uma tremenda burrice. Provavelmente as operadoras no Brasil nem conseguem gastar todo o dinheiro que poderiam aplicar em P&D pela Lei do Bem (Lei 11.196 de 21/11/2005 e seu regulamento no Decreto 5.602 de 06/12/2005). Dá pra mudar este estado de coisas? talvez, mas vai depender de várias coisas, principalmente de ousadia dos executivos locais em relação às respectivas matrizes das suas corporações. A notável exceção é a Oi, já que seu comando estratégico é aqui mesmo no Brasil, mas a CorpCo ainda tem pouco tempo de vida para mostrar resultados nesta área. Veremos.

Sobre que serviços prestar, eu tenho uma opinião: as operadoras deveriam investir na oferta de serviços em nuvem, no formato "as a Service". Espaço em disco e data center virtual são ofertas mais ou menos padrão, que podem entrar no portfólio - embora não veja muita vantagem em tentar competir com as ofertas OTT nesta área. Que tal fazer uma parceria com a SAP, ou com a Oracle, e formatar ofertas de soluções "as a Service" destas marcas que sejam mais viáveis para SMBs?

Mais complicado um pouco é a oferta (que até já existe, mas não sei o quanto é funcional) de uma API que possa ser incluída em apps para smartphones para interagir com funções da rede da operadora como, por exemplo, billing (que tal pagamento via conta telefonica de bens ou serviços adquiridos na rede? pode até ser feito em parceria com instituições financeiras) ou geração de chamadas de voz (integrando VoIP com TDM) a partir de links em páginas web (tipo "clique aqui para falar com um de nossos atendentes").

Outra possibilidade, como já foi sugerido pelo pessoal do blog Telco 2.0, é gerar receitas cobrando por serviços de intermediação, mais ou menos nos moldes que as bolsas de valores fazem, cobrando taxas de corretagem pelas transações realizados lá. O segredo é tornar-se atraente como uma "praça virtual" para promover e facilitar o encontro entre os interessados em fazer negócios, mediante uma pequena taxa de corretagem. Se o serviço decolar, o volume das transações intermediadas pode gerar uma receita considerável.

Enfim, é uma questão das operadoras saírem da zona de conforto e começar a imaginar a si próprias como mais do que apenas transportadoras de bits, ou vendedoras de minutos de voz e de mensagens.

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J. R. Smolka

Nota: abaixo está o "post" anterior


15/01/14
Operadoras precisam de novo modelo de negócio... e é pra já (1)

Essa conversa já é velha. Venho malhando em ferro frio sobre isso há algum tempo (quem tiver tempo suficiente nos grupos deve lembrar).

As tradicionais fontes de receita das operadoras - minutagem do serviço de voz TDM e (no caso das operadoras móveis) SMS e MMS - estão sob pressão. As receitas do serviço de voz já vem caindo há alguns anos, e em 2013 tivemos o esperado ponto de inflexão das receitas de SMS e MMS (ver reportagem aqui: Receitas globais com SMS caem pela primeira vez).

Conclusão: ou as operadoras encontram novas fontes de receita, e novas formas de se relacionar com a competição de serviços OTT, ou o futuro é sombrio para elas. E uma dica para os ditos estrategistas destas empresas: mais do mesmo não vai resolver. Esta não é uma situação onde arrochos cada vez maiores no OpEx e diminuição do CapEx trarão a estabilidade e o lucro desejados. Simplesmente tivemos uma mudança de fase no mercado. o paradigma mudou. Ou as empresas adaptam-se, ou desaparecerão.

Quem viver, verá. Como eu costumo dizer nos meus posts publicados no e-Thesis, eu detesto dizer "eu avisei" (ver links mais abaixo)

E, ligando com um comentário do Hélio de alguns dias atrás, embora o processo de consultas públicas da Anatel esteja muito confuso e atabalhoado, é necessário elogiar a agência pela percepção que, com a necessária mudança do modelo de negócios em telecom, fatalmente as formas de regular os serviços também terão que adaptar-se, ou sufocarão o mercado em vez de fomentar a prestação de mais e melhores serviços ao assinante. Então, discutir o modelo de prestação de serviços, e o próprio conceito de serviço prestado em regime público, é necessário e saudável, embora ofenda as sensibilidades estatistas de alguns.

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J. R. Smolka


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